• Prefeito Augusto Alves enfrenta pedido de impeachment por crime de responsabilidade

    Rombo nas contas da previdência dos servidores de Tangará já ultrapassa os R$ 9 milhões de reais; desviando os recursos que deveriam ser pagos ao fundo previdenciário, o prefeito interino augusto Alves está agora na iminência de perder o mandato

    O prefeito de Tangará, Augusto Alves, enfrenta agora um pedido de impeachment apresentado à Câmara de Vereadores da cidade sob a alegação de ter cometido crime de responsabilidade.

    Após assumir interinamente a prefeitura, sendo vice do ex-prefeito Dr. Airton (afastado do cargo pela Justiça devido a um processo de interdição levado a cabo por seu filho), Augusto Alves não teria realizado um único pagamento referente aos valores devidos à previdência dos servidores do município.

    “Estamos diante de uma situação alarmante. Se essa dívida não for sanada, os aposentados e pensionistas poderão ficar sem receber seus benefícios num futuro bem próximo”, afirmou Gilson Filho, presidente do sindicato dos servidores em Educação.

    Na última reunião dos conselhos Deliberativo e Fiscal do Tangará Prev, realizada em 24 de maio de 2024, foram discutidos os impactos da falta de repasse das contribuições previdenciárias.

    A ausência de ações concretas para sanar o déficit levou os conselheiros Luiz Carlos de Oliveira e Roberto Luiz da Silva Filho a protocolar um pedido de impeachment contra o prefeito interino.

    A acusação central é que a administração de Augusto Alves não tem realizado os repasses obrigatórios ao fundo de previdência (Tangará Prev).

    Essa prática ilegal resultou em um déficit alarmante que coloca em risco o pagamento dos benefícios dos servidores aposentados e pensionistas, ameacando centenas de famílias.

    O rombo no Tangará Prev já ultrapassa os R$ 9 milhões. Esse déficit significativo é atribuído à falta de repasses tanto na administração atual quanto na anterior, sem qualquer ação concreta de Augusto Alves para resolver o problema.

    Os conselheiros do Tangará Prev estão ainda organizando ações judiciais para pressionar a gestão de Augusto Alves a dar respostas sobre o uso indevido dos recursos previdenciários. Essa mobilização judicial destaca a gravidade da situação e a insatisfação com a atual gestão.

    Impeachment poderá ser votado ainda em julho

    A presidente da Câmara Municipal de Tangará, Ana Viana, conhecida na cidade como Ana de Ilo, tem agora o prazo de três dias para se pronunciar sobre a abertura do processo de cassação do mandato do prefeito interino Augusto Alves. A partir da abertura, Augusto terá até dez dias para apresentar suas alegações. Então o processo se iniciará na Câmara de Vereadores que designará uma comissão para conduzi-lo.

    Em Patu, essa prática está prestes a levar à perda do mandato do prefeito Rivelino Câmara, que enfrenta uma ação popular solicitando seu afastamento imediato por um rombo nas finanças do fundo de previdência que supera os R$ 3 milhões.

    Note-se que o rombo na previdência de Tangará é três superior ao da previdência de Patu. Augusto Alves, que se movimenta para disputar a eleição em outubro, poderá permanecer no cargo até lá.


  • Júlio César usa cargo da prefeitura para cooptar Pastor presidente da Assembleia de Deus em Ceará-Mirim

    O prefeito Júlio César está usando de todas as armas disponíveis para tentar emplacar a candidatura de seu assessor, inclusive algumas bem questionáveis. A mais recente de suas medidas duvidosas foi usar a estrutura da prefeitura para intervir na posição dos religiosos da cidade nesta eleição.

    É o caso da nomeação do filho do  Pastor presidente  da Assembleia de Ceará-Mirim para um cargo na Controladoria Geral do Município.

    Wesley Kaillo Costa Sousa, que é filho do pastor Jairo Kaillo, passou a receber R$ 2.800 mensais.

    Fiéis com quem falamos questionam a atitude do pastor, alegando que a Igreja não foi consultada sobre o apoio ao prefeito e que não veem com bons olhos esse tipo de relação.


  • Zona Norte decidirá futuro político de Carlos Eduardo

    Dádiva e calcanhar de Aquiles de Carlos, Zona Norte será o palco daquela que pode ser a última grande batalha eleitoral dele que foi quatro vezes prefeito da capital

    Os números da pesquisa O Potengi/Ranking divulgados nesta edição nos contam que o futuro do ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD) será decidido pelos cerca de 190 mil eleitores da Zona Norte de Natal.

    Líder em todas as sondagens até agora, Carlos confirmou sua posição ao obter 35,2% das intenções de voto na primeira rodada da série de pesquisas para Natal que o jornal O Potengi realiza em parceria com o instituto Ranking, do Mato Grosso do Sul.

    Zona Norte será decisiva

    Clama por atenção, nesta pesquisa, o expressivo contingente das intenções de voto declaradas a Carlos quem vem da Na Zona Norte de Natal, onde 48,9% dos entrevistados declararam ter a intenção de votar em Carlos Eduardo para prefeito no próximo dia 6 de outubro.

    Há nisso um importante paralelo com 2022, quando Carlos Eduardo enfrentou Rogério Marinho na disputa pelo Senado. Na ocasião, Carlos contava obter uma larga vantagem sobre Rogério na capital para sair vitorioso. Contudo, teve apenas 3.203 votos a mais que o oponente. Ou 0,82%.

    O percentual alcançado por Carlos em Natal, em 2022, foi de 37,19% (apenas dois pontos percentuais acima de seu atual patamar verificado na pesquisa para a prefeitura de Natal, que é de 35,2%). E as consistências entre a situação de Carlos em ambos os pleitos não acabam aí.

    Em 2022, os bairros das 1ª e 69ª zonas eleitorais (que abarcam toda a Zona Norte e os bairros das Rocas, de Santos Reis, da Ribeira, de Petrópolis, da Praia do Meio, de Areia Preta e de Mãe Luiza) responderam por 41,36% dos seus votos. Em 2024, sozinhos, os bairros da Zona Norte respondem por 50,57% das intenções de voto em Carlos!

    Se prova que a Zona Norte de Natal é o bastião do carlismo potiguar, essa concentração verificada pela pesquisa também evidencia que – em contrapartida – a base eleitoral de Carlos encolheu mais de 18% nas outras três zonas da cidade, enquanto se manteve no mesmo patamar se consideradas as quatro regiões.

    Isso é o que dizem os números, mas há ainda outros fatos relevantes que merecem atenção especial ao se tentar analisar a viabilidade eleitoral de Carlos Eduardo nesta eleição municipal.

    A ilusão das pesquisas

    Entre agosto e setembro de 2022, dez das onze pesquisas para o Senado divulgadas no RN davam a vitória para Carlos Eduardo. Nas duas últimas, a vantagem ficou em 8% e 6%, respectivamente.

    O que teria acontecido no mundo invisível da realidade que as pesquisas não captaram? Sem entrar no mérito das limitações que as configurações geográfica e demográfica do RN impõem a pesquisas em nível estadual, arrisco apontar dois fatores que determinaram a derrota de Carlos em 2022 e podem selar seu destino em 2024.

    A força dos prefeitos…

    Muito se falou no impacto corrosivo da declaração do então pré-candidato ao Senado Carlos Eduardo quando disse que os prefeitos do RN estavam com os cofres cheios (e estava errado?). Mas me parece que o fator mais nocivo para Carlos a decorrer da inábil declaração foi um dano colateral.

    Quando se está flertando, o objeto do desejo goza de elogios irrestritos e mimos incontáveis. Mas, uma vez conquistado, muitas vezes sua realidade muda. Fátima operou um cortejo suntuoso para atrair Carlos Eduardo para sua chapa, desarticulando definitivamente a oposição, que esperou demais por Ezequiel Ferreira e Álvaro Dias.

    Uma vez tendo debaixo das asas a liderança que por pouco não a derrota em 2018, Fátima pôde triunfar em sua estratégia brilhante de vencer uma eleição sem disputa. O preço foi o sacrifício da vaga no Senado. E é aí que entra o dano colateral da declaração de Carlos sobre os prefeitos: para levar a cabo o acordo tácito que redundaria na chapa Farinho (Fátima + Marinho) era preciso uma justificativa que permitisse à governadora excluir Carlos dos palanques municipais, nos quais Rogério habilmente se enraizara.

    Carlos partiu para o campo sangrento da luta por votos sem generais nem coronéis; eles estavam todos com Fátima, mas também com Rogério.

    E Carlos parece seguir a mesma trilha em 2024.

    Com apenas um vereador em sua base, e postulando um quinto mandato como prefeito de Natal, ele está praticamente só.

    Apostar na espontaneidade do voto é subestimar fatalmente a importância das redes humanas que formam a decisão final do eleitor.

    A falta de comando e de cavalaria levou à desidratação da campanha de Carlos em 2022. Nada indica que o problema tenha sido superado.

    … e também a dos vereadores

    Não temo afirmar que esta será a eleição mais acirrada da história da Câmara de Vereadores de Natal nesta Nova República.

    As novas regras eleitorais tendem à concentração dos votos em um número menor de candidatos.

    O atual modelo de financiamento das campanhas, baseado em fundos partidário e eleitoral turbinados, reforça o papel dos partidos e, consequentemente, de seus dirigentes.

    É no mínimo temeroso considerar viável entrar em campo sem ter o time completo. Carlos errou ao subestimar a força dos prefeitos. E erra novamente ao repetir o julgamento em relação aos vereadores.

    São os postulantes à vereança aqueles que mais têm a perder nesta eleição. E mais que qualquer outro ator do jogo eleitoral das cidades, são eles que também detêm vínculos mais amplos e mais sólidos com as bases eleitorais. Dos mais de 300 prováveis candidatos a uma cadeira na Câmara de Natal, Carlos não contará com os 40 de praxe. E dentre os já poucos, raros são os que possuem liderança efetiva. A chapa do PSD deverá apenas uma vaga.

    Se Carlos tem uma pedra no meio do seu caminho, é esta. A carência de bases políticas e de apoio de lideranças importantes é o ponto mais frágil de seu projeto – mais até que a escassez de recursos que já se faz sentir.

    Coerência para quê?

    No mundo da política profissional, não devia haver quem realmente leve a sério as objeções a mudanças de posição política. Como disse certa feita o ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti, “quem tem ideia fixa é doido”. Mas para os eleitores leigos, a parada é outra.

    Carlos desfruta de uma reputação pública de bom gestor, em grande parte construída pela comparação entre suas administrações e os quatro anos da gestão de Micarla de Sousa, que foi sua vice e depois o sucedeu na prefeitura e depois foi por ele sucedida. Os quatro anos do interregno de Micarla, para a sorte de Carlos, situaram-se exatamente no meio do período de 14 anos nos quais ele governou a cidade.

    Contudo, em 2022 ocorreu que ele disputava uma eleição parlamentar, na qual as habilidades de gerenciamento do cotidiano costumam ter menor relevância (reparem sobre isso no exato oposto de Carlos, Natália Bonavides, uma parlamentar com sólidas bases eleitorais que contudo patina ao tentar cativar o eleitor para concorrer a um posto no executivo).

    E ocorreu ainda que 2022 reafirmou a polarização ideológica que marca a política brasileira contemporânea.

    Se de um lado da disputa Rogério Marinho possuía clara identificação com o eleitorado bolsonarista, do outro Carlos foi visto com desconfiança – ou no mínimo aceito com pouco entusiasmo – pelos lulistas. Faltou-lhe emoção em 2022. E de onde virá a mudança em prol de Carlos nesta eleição?

    É fato que Carlos tem se renovado nesta pré-campanha. Saiu da zona de conforto do PDT, onde reinava, e buscou guarida junto a Zenaide Maia e Jaime Calado, no PSD. Partiu para o ataque contra “os planos hegemonistas do PT”, de olho em estancar a sangria dos votos de direita que migram para Paulinho Freire.

    É fato também que a imagem de gestor eficiente das tarefas do município ainda é o maior patrimônio eleitoral de Carlos, é ela quem o sustenta à frente das pesquisas.

    Contudo, entre a falta de uma base de apoio político efetiva e o vazio discursivo, bastara a Carlos Eduardo se apegar à imagem de bom síndico? Torcerá pra que a campanha demore a ganhar as ruas e que os grandes temas da política nacional lhe passem ao largo?

    Não resistindo ao cacoete do presidente Lula, também ele com desaprovação em alta pela terra de Câmara Cascudo, apelemos a uma analogia futebolística: seguirá Carlos Eduardo o exemplo do Botafogo de 2023 ou conseguirá, no sacrifício, manter seu atual desempenho até o fim do campeonato, mesmo com elenco desfalcado e o moral da torcida em baixa? Questões que seguirão abertas ao menos até o fim de agosto.

    Mas, analisando os números frios e as letras quentes, uma coisa é certa: se perder a Zona Norte, Carlos Eduardo perde a eleição.


  • Natália quer Milklei Leite, do PV, como vice, mas vereador recusa

    A pré-candidata à prefeita de Natal pelo PT, Nátalia Bonavides, já tem seu favorito para ocupar a posição de vice na chapa que irá às urnas em 6 de outubro. O nome escolhido pela deputada é o do vereador pelo PV Milklei Leite.

    Pesa a favor do vereador sobretudo sua forte inserção no eleitorado da Zona Norte da capital, onde Natália tem seu pior desempenho nas pesquisas. Natália já vem há muito comentando com petistas que este será um critério decisivo na escolha. Mas também favorece Milklei o fato de que, saindo à majoritária, ele vai liberar uma vaga na chapa proporcional da federação que conta com PT/PV/PCdoB.

    A federação liderada pelo PT deverá eleger quatro vereadores e conta atualmente com cinco mandatários: Brisa Bracchi e Daniel Valença, do PT; Milklei Leite e Herberth Senna, do PV; e Júlia Arruda, do PCdoB.

    Além dos cinco vereadores, disputarão a eleição pela chapa de Natália outros nomes fortes. Janaína Lima terá o apoio de Divaneide Basílio e Mineiro; Samanda Alves conta com toda a estrutura da governadora Fátima Bezerra a seu favor. Isso sem contar com a possibilidade de aparecer um azarão. Aline Juliete seria nossa aposta. Dito isso, ajuda muito tirar um mandatário da mesa na qual há pouca farinha pra muitas bocas.

    Contudo, entretanto, porém…

    Ocorre que na campanha de Natália há muitas pedras no meio do caminho. E essa pedra, no caso particular do desejo de ter Milklei como vice na chapa, parece ser a desconfiança generalizada de que sua candidatura não vingou e não vingará.

    Pois ocorre que, ao que sabemos, o vereador do PV declinou do convite. Prefere a dura disputa pela reeleição que a ingrata esperança de ver Natália eleita. Em vez de ocupar a vice, Milklei trabalha para que o indicado seja o ex-vereador Professor Luís Carlos, do MDB. Assim, Milklei sonha em contar com um importante reforço em suas para sobreviver à chapa da morte na eleição para a Câmara Municipal de Natal em 2024.

    Enquanto isso, seguem Natália e Carlos Eduardo sem um vice pra chamar de seu.


  • Uma aula improvisada com o professor Cassiano Arruda Câmara

    por Girotto

    Por que danado um sujeito respeitado e admirado por todos em seu meio, ícone de toda uma geração de jornalistas, mestre e referência de tantos ex-alunos e excelente em tudo o que fez, por que danado um cara desses resolve aos 64 anos fundar um jornal diário?

    “Eu precisava saber como é dono de jornal”, diz Cassiano Arruda Câmara. “Já fiz de tudo no jornalismo e na propaganda. Fui redator, repórter de rua, editor, professor. Fiz programa de televisão, de rádio. Até hoje faço. Só não fui ator.E ainda não tinha sido dono de jornal. Faltava essa experiência de ter um jornal. E fiz.”

    No dia 27 de outubro de 2017, saía às ruas a edição de número 2.469 do Novo Jornal, fundado por Cassiano Arruda em 17 de novembro de 2009. A manchete daquela sexta-feira seria a última do jornal sob o comando do mestre Cassiano: “Para MPF, Henrique tenta ocultar bens e valores de propina”. Antes dos afetos, o velho repórter sempre pôs a notícia.

    Cassiano aos 63 anos: “Faltava ser dono de jornal.” Foto: acervo pessoal.

    “Realizei o sonho. E sou muito grato por isso, muito feliz. Nós pegamos a transição do jornal impresso para o online. Minha vontade, meu desejo à época era fazer o impresso, sentir o cheiro do papel pela manhã”, diz Cassiano. “Mas as coisas mudam. Mudaram quando Johann Gutenberg criou a prensa, imagino o que foi na vida de quem trabalhava com caligrafia. Então não tem do que reclamar. Fizemos o jornal por oito anos e foi uma experiência que me marcou.”

    Quando fundou seu jornal, Cassiano era professor do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em sua sala de aula, embasbacado pela novidade, este aspirante a repórter via o exemplo do professor e começava a alimentar devaneios duradouros.

    O jornal do professor Cassiano durou pouco? Muitos sucumbiram ao surgimento das redes online. De jornais a políticos e empresas. O fato inegável é que o Novo, sob a liderança de Cassiano, foi um ar fresco, uma renovação no combalido jornalismo potiguar. Valeu para ele, que realizava o sonho de ser “dono de jornal”. Valeu também para minha geração que, talvez no ocaso de uma tradição (o jornalismo impresso), pôde sentir o aroma das grandes reportagens que não voltaríamos a ver por aqui.

    “A melhor coisa que fiz foi ensinar”, diz. “Era professor de 20 horas. E vivia tendo greves, com aquela inflação do Sarney, não tinha como segurar o salário. Mas falei com meus alunos e disse que a gente estava só perdendo, porque não havia reposição de aula coisa nenhuma. Eu queria dar aula.”

    Foram 31 anos como professor do curso de Comunicação Social da UFRN. Cassiano marcou com suas lições 62 turmas de estudantes e parece ter uma memória prodigiosa, lembra os nomes e rostos de grande parte deles.

    Sentado ali diante da mesa onde, de segunda a sexta, escreve sua coluna e transmite ao vivo um programa de rádio, logo o mestre inverte o jogo e começa ele a entrevistar. Não sei bem se é curiosidade por um ex-aluno ou apenas alguma modéstia desnecessária de não querer falar de si.

    “Você precisa encontrar seu público, ser relevante para ele”, aconselha. Segue sendo professor, ele que foi aluno da primeira turma de jornalismo do Rio Grande do Norte, na Faculdade Eloy de Souza.

    “Ali uma geração inteira de jornalistas experientes teve seu primeiro contato com a academia. Muitos deles acabariam seguindo a docência”, conta. Era 1963. Um ano mais tarde, o golpe militar de 31 de março instauraria a ditadura que cassou, em 1969, o governador, amigo e também patrão Aluízio Alves.

    “Um grande homem e um governador gigante. Pra você ter uma ideia do que foi o governo de Aluízio… Sabe qual foi o primeiro escândalo da gestão dele? Saiu na capa do Correio do Povo, do Dinarte Mariz: ‘Governador instala ar-condicionado no gabinete’. Era o que tinham para atacá-lo.”

    “Fui criado pra ser político”, diz. “Meu pai me mandou pra Salvador estudar, mas enrolei ele. E quando voltei, fui trabalhar na agência de Fernando Luiz da Câmara Cascudo, que trazia pra Natal nossa primeira agência moderna, como conhecemos hoje.”

    Aos 6 anos discursou em Santa Cruz no palanque do futuro governador Dix-Sept Rosado: “Fui criado pra ser político”. Foto: acervo pessoal.

    “Tudo estava por fazer.” Assim Cassiano descreve o clima na imprensa potiguar e brasileira dos anos 1960, quando começou na profissão sendo “o que sempre fui, um repórter que corre atrás”.

    “O pessoal chegava pra mim e dizia ‘você escreve muito bem’. Eu ficava rindo e tentava explicar pra eles. Hoje seria até mais difícil entenderem, porque acabou a figura do copydesk. Mas ali na Tribuna quem revisava meus textos e passava a caneta eram caras como Berilo Wanderley, Sanderson Negreiros, Newton Navarro, Luiz Carlos Guimarães. Aí o texto ficava ótimo, né”, diz, se divertindo muito com a história.

    “Sempre fui de direita. Mas de uma direita inteligente, julgo. No RN não havia isso à época. Hoje existe”, diz Cassiano que não poupa nem a Operação Lava-Jato: “A ditadura do judiciário foi tão ruim quanto a outra”.

    Neste ano, Cassiano lançou seu terceiro livro, reunindo 50 anos de reportagens. A edição estava pronta para ser lançada em 2020, mas acabou ficando num galpão devido à pandemia. Neste período, o mestre enfrentou um câncer e contou o apoio da Liga Contra o Câncer. Passadas as duas lutas, Cassiano doou os 1.300 exemplares para a Liga, que foram lançados em evento concorrido no mês de março.

    A hora avança sem sinais, o mestre começa a preparar o fim da aula.

    “Aprendi a desconfiar de tudo”, diz, justificando porque não publica releases de assessorias de imprensa que não lhe interessem e nunca sem antes ir atrás de saber da história direito. “Não vou entregar minha credibilidade a um fulano porque ele recebe um troco de alguém.”

    Aos 80 anos, o mestre segue ativo e rigoroso no trabalho. “É uma atitude de vida”, diz. E a conversa, para desgosto do aluno, terá que acabar. “Tenho compromisso de fechar jornal. Tenho que buscar notícias.”

    Saio da sala de aula cheio de sonhos malucos na cabeça. Coisa de quem se ilude estar à altura dos mestres. Dali a 20 minutos, Cassiano Arruda Câmara entrará ao vivo na rádio, com sua voz já marcada mas de um timbre genuinamente cativante. Corri pra casa ouvir a transmissão pela internet mesmo. O que será que tiraria da cartola em menos de 20 minutos, já que lhe tomei toda a manhã?


  • Aplausos para Natália; vaias para Bonavides

    Enquanto a pré-campanha para a prefeitura de Natal ainda titubeia em ganhar as ruas, nas redes sociais ela já começou com tudo. É o caso da pré-candidata petista Natália Bonavides.

    Através das próprias redes sociais e das redes nacionais do Partido dos Trabalhadores, a deputada federal vem investindo alto na promoção de vídeos em que aparece criticando problemas de gestão na capital do RN, que pretende governar a partir de janeiro.

    No mais recente deles, denunciando a situação instalada em Natal devido às chuvas, o diretório nacional do PT investiu cerca de R$ 5 mil em impulsionamento.

    Aplausos para a deputada

    Chamou a atenção de milhares de internautas uma denúncia publicada por Natália sobre a Escola Municipal  Luiz Maranhão Filho, no bairro de Cidade Nova, na capital potiguar. No vídeo, a deputada aparece ao lado da vereadora Brisa Bracchi, também petista, e expõe o drama gerado pela falta de planejamento da gestão municipal que deixou a escola sem  fornecimento de merenda, fazendo com que os estudantes fossem liberados mais cedo no dia em que as parlamentares visitaram o local.

    “Salas inclusive sem ventilador. Não temos espaços adequados para a prática de esportes. A gente viu aqui que essa questão da falta de merenda está diretamente relacionada com a falta de planejamento e de logística da prefeitura que não providenciou o que tinha que ser providenciado a tempo pra os alunos e as alunas terem alimentação escolar”, diz Natália na postagem que teve centenas de curtidas e comentários.

    A situação flagrada pelas parlamentares petistas infelizmente não se restringe à escola do bairro de Cidade Nova, que fica na zona oeste da capital e é um dos mais antigos da cidade. Se trata de um problema antigo e inaceitável. Por conhecer e expôr esta realidade, Natália merece nossos aplausos.

    Visão seletiva?

    “Com calor e com fome não dá pra gente ficar na escola”, diz a vereadora Brisa, ao lado de sua pré-candidata à prefeita. O vídeo chamou a atenção de nossa redação justamente na semana em que havíamos lançado esta versão impressa de O Potengi, com a grave situação da educação pública estadual sendo manchete de capa.

    Por que a educação pública do RN se tornou a pior do Brasil?, perguntava a manchete.

    Na ocasião, tentamos entrevistar sem sucesso a secretária estadual de Educação, Socorro Batista, bem como – e igualmente sem sucesso – deputados estaduais e federais do PT (entre eles, Natália).

    A situação das escolas da rede municipal da capital, bem como da maioria de nossas cidades, é até mais preocupante do que sugere o vídeo da deputada Natália. Em bairros mais distantes que ela ainda pôde visitar, faltam segurança e professores; algumas estruturas estão sem condições de uso; os insumos básicos são escassos.

    Natália, sendo membro da Comissão de Educação da Câmara Federal, cumpre seu dever ao fiscalizar e expôr as condições das escolas geridas pela prefeitura de Natal.

    Contudo, nos intrigou o silêncio anterior da deputada federal, quando buscamos explicações para o fato de o RN ocupar as últimas posições em diversos quesitos de avaliação do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Decidimos então fazer aquilo que cabe a  um jornal, apurar. Voltamos a algumas das escolas que constaram de nossa primeira reportagem e visitamos outras.

    Como resultado de nossa nova incursão pelas escolas estaduais de Natal, trazemos a seguir um roteiro que a petista poderá seguir em suas próximas visitas. Talvez rendam até um vídeo no Instagram que certamente será visto pela governadora Fátima Bezerra. E quem sabe – não custa sonhar – ao ver a companheira Natália denunciando a situação calamitosa da educação pública potiguar, Fátima enfim chama a secretária de Educação de seu governo e cobre alguma satisfação.

    Quatro escolas e uma só sina: o descaso

    Falta de professores, de merenda e até de papel para aplicar provas. Esse é o cotidiano das escolas públicas do Rio Grande do Norte.

    Seletivamente, os políticos e seus apoiadores atacam as mazelas encontradas sob gestões adversárias. Mas o quadro é generalizado, nenhum gestor escapa.

    E. E. Winston Churchill

    Localizada no centro de Natal, a Escola Estadual em Tempo Integral Winston Churchill já foi uma das joias da educação em nosso estado. Atualmente, graças à dedicação de professores e demais profissionais, ela mantém com dignidade o peso de sua tradição.

    Em maio, a escola ficou uma semana inteira sem qualquer merenda para seus mais de 400 estudantes. Estes alunos são, na maioria, jovens carentes que necessitam da alimentação escolar para suportar os dois turnos de aulas diários – se trata de uma escola em tempo integral, na qual os estudantes permanecem pela manhã e pela tarde.

    O Churchill, como é conhecido, também foi forçado a liberar seus alunos antes do fim das aulas, também por falta de merenda.

    Os alunos nos contam que a quadra de esportes do Churchill foi batizada de “banho de sol”, pois não conta com qualquer tipo de cobertura.

    “Imaginem dar aula aqui às dez da manhã com todo esse calor…. Para piorar a situação, a escola é em tempo integral, mas só temos quatro chuveiros para mais de 400 alunos. Não há como todos tomarem banho no intervalo do almoço”, relata um professor que prefere não se identificar.

    As atividades de educação física são realizadas ao sol e no mais absoluto silêncio, já que a quadra fica localizada entre diversas salas de aula.

    E se já não bastasse a irregularidade no fornecimento de alimentos, os dois fogões da cozinha do Churchill estavam quebrados há semanas e sem previsão de conserto, na data em que visitamos a escola, em 9 de maio.

    E. E. Profª Dulce Wanderley

    A Dulce Wanderley é a escola mais tradicional da Redinha, na zona Norte da capital.

    Seus mais de 500 alunos lotam salas de aulas com 35 a 40 estudantes cada. Segundo uma gestora com quem conversamos – mais uma que temeu se identificar – “é lei que seja assim”, querendo dizer que há uma determinação do governo para que cada turma tenha no mínimo 35 alunos.

    Nesta escola, muitas salas não têm ventiladores, outras possuem ventiladores quebrados ou antigos, doados por outras unidades escolares. Para piorar a situação, não há ventilação natural em algumas salas de aula e as janelas de madeira ficam fechadas para proteger os alunos do sol. A sensação de sauna é sentida por todos.

    Na Dulce Wanderley, a área de esportes para os alunos não é uma quadra e sim um quadrado, também ao sol. A estrutura metálica que cobria a quadra foi danificada pela maresia e acabou sendo demolida pela gestão estadual da educação, que deixou todo o entulho já enferrujado no pátio da própria escola.

    Imaginem a sensação térmica de uma sala de aula sem ventilação, sem ventiladores, com 40 alunos em dias de temperatura de mais de 35°C, como tivemos em maio.

    E. E. Ana Júlia Mousinho

    Já na Escola Estadual Ana Júlia Mousinho, em Nossa Sra. da Apresentação, a quadra também fica ao sol. Ali, chegou a haver esperança. Em 2010, ainda sob a gestão de Wilma de Faria, foi iniciado o projeto de construção de um ginásio de esportes. 14 anos depois, só restam as ruínas das obras inacabadas.

    Na Mousinho e na Dulce Wanderley, ou mesmo nos tradicionais Churchill e Atheneu, o quadro se repete: carência de profissionais, estruturas degradadas, estudantes sem merenda e outras atenções básicas.

    Enquanto lulistas e bolsonaristas debatem fervorosamente se os estudantes podem ou não ser ensinados a falar todes, todxs ou qualquer outra frivolidade, se esquecem que faltam professores de português nas escolas públicas.

    Mas temos uma boa notícia. Os fogões quebrados do Churchill enfim foram substituídos. Em seu lugar um solitário fogão novinho e menor que os anteriores, mas luta como pode para dar conta da demanda. O novo fogão não tem sofrido muito, pois a falta regular de merenda segue sendo a norma. Os alunos que podem e não desejam perder aulas levam suas refeições.

    Exaustos pela fome e pela exaustão, os estudantes não parecem estar assim tão preocupados com linguagem neutra ou mesmo com as eleições de outubro. “No dia seguinte esquecem que a escola existe”, diz uma estudante ao ser perguntada sobre o que achava dos vídeos que lhe mostramos.


  • Já está nas bancas a 4ª edição de O POTENGI

    A 4ª edição da versão impressa de O Potengi já está nas melhores bancas da capital e em nossos parceiros de 12 cidades do Rio Grande do Norte.

    Esta nova edição marca o início de nossa publicação semanal, sempre aos domingos.

    Prefere ler online? Clique na imagem abaixo, leia, baixe e compartilhe seu jornal O Potengi.


  • Jumária Mota é o nome da oposição para derrotar Júlio César

    A disputa pela prefeitura de Ceará-Mirim na eleição de 2024 promete ser mais acirrada do que os últimos pleitos. De um lado, o prefeito Júlio César aposta todos os seus recursos na candidatura do assessor Antônio Henrique. Pela oposição, Jumária Mota segue conquistando apoios e se consolida como único nome capaz de fazer frente ao candidato da atual gestão.

    A cidade de Ceará-Mirim, que fez 269 anos no último dia 6, conta hoje com cerca de 80 mil habitantes – quase 20% a mais do que há uma década. Enquanto cresce, contudo, a cidade segue carente de infraestrutura básica e de uma visão política moderna capaz de gerar empregos para sua população.

    Problemas crônicos como a insegurança e a má qualidade dos serviços de saúde têm se agravado com o incremento demográfico e a ineficiência das políticas públicas. Na última década, por exemplo, Ceará-Mirim se destacou negativamente como a cidade potiguar com maiores índices de crescimento da violência contra a população.

    Dia 6 de outubro, os 50.590 eleitores ceará-mirinenses irão às urnas decidir se querem manter o atual modelo de administração ou se a cidade mudará de rumo.

    Júlio César tenta emplacar sucessor

    O atual prefeito de Ceará-Mirim, Júlio César, terá nesta eleição o desafio de transferir seu capital eleitoral para um assessor parlamentar pouco conhecido na cidade, mas em quem Júlio confia para sentar na cadeira de prefeito e seguir sob sua liderança.

    Após oito anos à frente do município, Júlio César não tem grandes feitos a apresentar. Segundo dados do IBGE, metade da população da cidade vive com menos de ½ salário mínimo por mês.

    Ainda assim, a gestão de Júlio César tem obtido índices satisfatórios de aprovação nas pesquisas eleitorais, aumentando os desafios da oposição que busca estabelecer na cidade uma alternância de poder.

    Oposição está com Jumária

    Consolidada em todas as pesquisas como principal nome da oposição de Ceará-Mirim, a pré-candidata Jumária Mota segue recebendo novos apoios e trabalhando pela unidade de todos que querem mudar os rumos da cidade.

    Seu trabalho tem sido dedicado à visitas às comunidades e a conversar com a população, não apenas denunciando os muitos problemas que afligem a população como também, em suas palavras, “aprendendo e descobrindo novas formas de ajudar as pessoas a enfrentar os desafios que surgem”. É dever de qualquer político ter humildade e saber ouvir. Se você não tem sensibilidade para ouvir a população não poderá ter sabedoria para servir à cidade”.

    “Nossa campanha cresce a cada semana e estamos formando um grupo forte para mudar os rumos da cidade”, diz Jumária. “Nosso trabalho, todos os dias, é para mostrar aos cidadãos de Ceará-Mirim que nossa cidade tem jeito, que podemos fazer diferente e melhor.”

    Marcílio divide oposição e favorece Júlio César

    Marcílio e Peixoto juntos   Ozenir Peixoto, esposa do ex-prefeito Peixoto, é pré-candidata a vereadora pelo PP de Marcílio e João Maia. Foto: mídias sociais.

    Outro desafio que se põe no caminho da oposição ceará-mirinense é a candidatura do vice-prefeito Marcílio Dantas. Marcado pela parceria recente, Marcílio impõe seu nome à oposição, confundido e dividindo o eleitorado que deseja mudanças.

    Sintoma desse efeito, que favorece ao projeto do atual prefeito, é a imposição vinda de cima para que o Partido dos Trabalhadores o apoie. A intervenção foi mal recebida pelas bases petistas de Ceará-Mirim, cuja reação foi noticiada por este O Potengi.

    Além de um PT dividido, estão na base de Marcílio o ex-prefeito Peixoto, cuja esposa Ozenir Peixoto é candidata a vereadora pelo partido de Marcílio, o Progressistas de João Maia.

    Nota: Após o fechamento de nossa edição impressa, na noite da sexta-feira (21), o prefeito Júlio César anunciou que a direção executiva estadual do PT no RN interviu em Ceará-Mirim e definiu que os petistas terão que apoiar seu candidato.


  • Rombo de mais de R$ 9 milhões na previdência do município põe em xeque mandato do prefeito Augusto Alves

    por Tales Vale

    O Fundo de Previdência de Tangará, conhecido como Tangará Prev, se encontra em grave crise financeira. O tamanho do rombo no caixa já supera os R$ 9 milhões.

    O déficit, que teve início durante o mandato do ex-prefeito Dr. Airton, é atribuído à falta de repasse do patronal e se mantém sem solução na gestão do atual prefeito Augusto Alves.

    De acordo com o sindicato dos servidores em Educação, a administração de Augusto Alves não tem realizado os repasses obrigatórios ao fundo de previdência, resultando em um déficit alarmante que coloca em risco o pagamento dos benefícios dos servidores. “Estamos diante de uma situação alarmante. Se essa dívida não for sanada, os aposentados e pensionistas poderão ficar sem receber seus benefícios num futuro bem próximo”, afirmou Gilson Filho, presidente do sindicato.

    Ao assumir o cargo, o prefeito Augusto Alves alegou dificuldades financeiras herdadas de seu antecessor, sem explicar – contudo – porque foi conivente com a situação durante todo o mandato.



    Na ocasião, Augusto negociou apenas parte da dívida, relacionada aos parcelamentos, mas deixou claro que não teria condições de pagar o Patronal, propondo um novo parcelamento em 200 meses.

    A Câmara Municipal de Tangará também se envolveu na questão. O vereador Nilson Lima apresentou um requerimento solicitando uma audiência pública para debater o assunto e cobrar explicações detalhadas do prefeito sobre a gestão dos recursos previdenciários.

    Enquanto isso, os conselheiros do Tangará Prev, preocupados com o futuro dos servidores ativos e aposentados, estão organizando ações judiciais para pressionar a gestão de Gustavo Alves a dar respostas sobre o uso indevido dos recursos destinados aos servidores.

    Especialistas em previdência alertam que a resolução do rombo no fundo de Tangará exige uma combinação de ajuste fiscal, aumento da arrecadação e um plano de pagamento escalonado da dívida. “É essencial que o município adote uma postura responsável e transparente na gestão dos recursos previdenciários para evitar um colapso no sistema”, destacou Maria José Custódio, Presidente do Conselho Deliberativo.

    O problema está posto, mas a descrença da população em uma solução é crescente. Representando a velha política, Augusto Alves não parece ser capaz de dar o passo à frente que Tangará precisa.

    Em Patu, práticas podem levar à perda do mandato do prefeito Rivelino Câmara

    Em Patu,uma ação popular foi movida solicitando o afastamento imediato do prefeito Rivelino Câmara, por prática similar à que está sendo denunciada em Tangará. A ação alega que o rombo nas finanças do fundo supera os R$ 3 milhões e também pede a indisponibilidade dos bens do prefeito para cobrir o prejuízo.

    Segundo a ação judicial, os valores descontados dos salários dos servidores públicos não estão sendo repassados ao fundo de previdência. Além disso, a verba patronal também não é transferida, situação que coloca o PREVI-PATU à beira do colapso. Este cenário pode comprometer o pagamento de 233 servidores, 66 aposentados, 8 pensionistas e 1 dependente vinculado ao fundo.


  • Quincas Berro D’Água, de Sérgio Machado (Brasil, 2010)

    Diretor: Sérgio Machado
    Com: Paulo José (Quincas Berro D’Água), Marieta Severo (Manuela), Mariana Ximenes (Vanda), Vladimir Brichta (Leonardo), Flávio Bauraqui (Pastinha), Irandhir Santos (Cabo Martim), Luís Miranda (Pé de Vento), Frank Menezes (Curió), Othon Bastos (Alonso), Walderez de Barros (Tia Marisa), Mílton Gonçalves (Delegado Morais), Carla Ribas (Otacília), Germano Haiuti (Tio Eduardo), Eurico Brás (Agenor), Angelo Flávio (Zico) e Maria Menezes (Lolita)

    Por um desses acasos instrutivos, assisti Quincas Berro D’água no mesmo fim de semana em que li O Falecido Mattia Pascal, do siciliano Pirandello. Tanto o Quincas de Amado quanto Mattia afirmam no princípio de suas narrativas em primeira pessoa, repletas de monólogos, que morreram duas vezes. Mas o que une seus temas, contudo, é que tiveram duas vidas.

    Quincas, servidor público aborrecido e oprimido por seu ambiente, larga família e círculo social, dedicando-se à boemia soteropolitana; Mattia, tido como morto, segue nova vida por diversos destinos da Europa vitoriana. Ambos percorrerão um longo caminho pra alcançarem lugares distintos, cada qual reconstruindo o significado das relações humanas e da própria existência.

    Li o livro de Jorge Amado em que se baseia o roteiro do filme – A morte e a morte de Quincas Berro D’Água, de 1958 – há tempo suficiente pra que muita cosia me escape. Mas o principal pôde ser resgatado pelo filme de Sérgio Machado (Cidade Baixa e Onde a Terra Acaba). Lá estão os numerosos personagens de Jorge Amado, ricamente compostos, ainda que superficiais e caricatos; a linguagem debochada e sem pruridos; a incrível sensibilidade para o hilário, cercado pela miséria e amargura. Nesse último ponto, o filme possui grande mérito pela fotografia sombria e bela que contrasta com a constante comicidade do enredo, preservando – sem perder o riso – a gravidade que contém o texto e seu significado último.

    Apesar de num primeiro plano ser uma grande festa, Quincas aborda com vigor o tema mais produtivo da grande literatura: a existência e suas realidades. Nosso protagonista abandona a segura e cômoda vida de funcionário por um cotidiano desregrado e temeroso. Nesta escolha, faz sua crítica ao mundo da filha, que confrontada pela realidade em que vivia o pai terá de lidar com sua herança.

    O filme possui uma série de atuações notáveis, destacadamente Paulo José (um morto roubando a cena) e Mariana Ximenes no papel de Vanda, a filha. Muito se tem dito sobre os inegáveis talentos de Paulo José, esse formidável ator. Por isso mesmo quero dar atenção especial a Ximenes. Desde O Invasor, a jovem atriz chama atenção pela qualidade de suas atuações. Consegue ser intensa e eloquente sem os maneirismos recorrentes do cinema nacional, com uma forma de interpretar própria que só vemos nos grandes talentos.

    Quincas, o filme, faz justiça a Quincas, o livro. E mais: lhe presta um favor. Sem atender à sedução de rebuscar ou encher de pompa e “eruditismo” o texto cru – e por vezes mesmo limitado – de Jorge Amado, o filme traz o autor em sua melhor forma, nos limites de seu alcance e com dignidade. Ano após ano, vemos péssimas adaptações virem a público, acumulando um grande lixo cinematográfico.

    Felizmente, temos neste filme uma notável exceção. Quincas e Mattia partem de um mesmo sentimento de clausura para chegar a pontos distintos em sua trajetória. A aceitação debochada do próprio fim não deixa de ser um desesperado cinismo de Quincas, e o filme é feliz em deixar esta noção transparecer. Por isso e muito mais, Quincas não só vale ser visto como é provavelmente a melhor adaptação do cinema nacional desde Vidas Secas, lado a lado com Lavoura Arcaica. Isso vai soar um sacrilégio aos cinéfilos, mas como adaptação esse filme entrega tudo o que a obra de Jorge Amado oferece.





por Angelo Girotto


O Potengi

Portal de notícias e conteúdos do Rio Grande do Norte




  • Dos 428 candidatos a vereador em Natal, apenas 54 têm chances reais de eleição

    O sistema eleitoral brasileiro estimula a proliferação de candidaturas proporcionais e cria nos eleitores a ilusão de uma competitividade que nem de longe é real; neste ano, a imensa maioria dos candidatos a vereador em Natal terão como única missão bater esteira para aqueles poucos que realmente estão na disputa

    Nossa equipe realizou para esta matéria uma extensa análise da viabilidade eleitoral dos mais de 400 candidatos que concorrem a uma das 29 vagas de vereador na capital potiguar. A análise levou em conta as regras eleitorais que definem como as vagas são distribuídas e buscou mensurar o potencial de cada nominata e candidato a partir de critérios como histórico em votações, bases de apoio e estrutura humana e financeira para as campanhas – o que, obviamente, nem é fácil nem muito se faz dispondo de informações transparentes e confiáveis, por motivos igualmente óbvios.

    Mesmo diante das obscuras dificuldades da empreitada, pudemos chegar a algumas conclusões reveladoras, que serão compartilhadas com nossos leitores nesta e nas próximas cinco edições semanais de O Potengi e também em nosso portal na internet.

    A disputa real pela vereança
se concentra em poucos

    Hoje, falaremos de como as regras eleitorais forjam a ilusão de uma competitividade irreal nas disputas pelo parlamento – e isso em qualquer cidade do país.

    Ao todo, foram registradas 18 nominatas de partidos ou federações para concorrer às 29 cadeiras na Câmara Municipal de Natal, somando 428 candidatos.

    A quantidade de votos que cada nominata precisa obter para eleger um vereador é chamada de quociente eleitoral (QE), que é calculado dividindo o total de votos válidos para vereador pelo número de vagas em disputa.

    O QE para vereador em Natal, na última eleição, foi de 12.440 (360.756 votos válidos divididos por 29). Embora represente um crescimento de 5,42% em relação à eleição de 2016, o QE de 2020 foi inferior ao de 2012, que chegou a 13.169 votos (foram 381.924 votos válidos em 2012, 21.168 a mais que em 2020).

    A redação de O Potengi projeta que nesta eleição retomaremos os patamares de 2012, apesar da recente perda de eleitores da capital. Arredondamos nossa projeção para 13.200 votos. Ou seja, a cada porção de 13.200 votos para vereador que um partido ou federação obtiver, terá direito a um assento na Câmara.

    Mas as regras são ainda mais complicadas que isso. Caso uma chapa obtenha 80% do QE, ela poderá disputar eventuais “sobras” de vagas (vagas que não foram distribuídas pela obtenção de porções integrais do quociente). A própria matemática da eleição torna praticamente impossível que não haja sobras. Então elas têm que entrar no cálculo.

    Isso significa que a chapa que obtiver 10.560 votos entra na disputa por uma vaga, desde que…

    Desde que – e a complicação não para por aí – o candidato mais votado da chapa tenha um mínimo de 20% dos votos equivalentes ao quociente eleitoral. Segundo nossas projeções, para ser eleito pelas sobras, um candidato terá que alcançar no mínimo 2.640 votos.

    Ou seja, para saber aproximadamente quantos candidatos têm chances reais de eleição na disputa de vereador em Natal temos que calcular duas coisas: quantas chapas podem alcançar um mínimo de 10.560 votos para vereador e, dentro delas, quantos candidatos têm potencial para ser o escolhido de pelo menos 2.640 eleitores.

    Na real, são 11 chapas e 54 candidatos
em disputa por 29 vagas na Câmara

    De cara, podemos descartar da disputa real sete das chapas que concorrem na eleição proporcional em Natal. Elas não têm viabilidade para obter o mínimo de 10.560 votos, portanto seus candidatos – mesmo que alcancem os 2.640 sufrágios – estão fora da disputa. Contudo, seus votos serão computados para o cálculo do QE.

    As sete chapas inviáveis (escreveremos sobre elas nas próximas edições) reúnem 105 candidatos a vereador – na disputa real, só restam 323.

    Agrupados nas 11 chapas que têm reais condições de alcançar ao menos o equivalente a 80% do quociente eleitoral, contabilizamos apenas 54 candidatos que apresentam no momento perspectivas de disputar pelos 2.640 votos que serão o ponto de corte mais provável desta eleição.

    Dez desses 11 partidos ou federações muito provavelmente elegerão ao menos um vereador em 6 de outubro. E apenas quatro deles (União, REP, PSDB e FBE), somados, ficarão com no mínimo 18 das 29 cadeiras – podendo, no limite, chegar a concentrar até 21 – mais de 75% da Câmara.

    Tendência é a concentração de votos em poucos

    Na última eleição, apenas 28 candidatos alcançaram os 20% do quociente eleitoral (2.488 votos). Naquela ocasião, tivemos 736 candidaturas a vereador. Na atual, são 428 – 308 candidatos a menos. Fora essa queda de mais de 40% no número de postulantes, também verificamos que os principais candidatos de 2024 trabalham com metas mais elevadas e maiores previsões de gastos, devido tanto às novas regras eleitorais que passam a valer este ano quanto pela concentração de nomes fortes em poucas chapas.

    Continua

    Ao longo da próxima semana, começando segunda-feira (2) pela chapa de vereadores do União Brasil, traremos análises diárias das 11 chapas que – segundo cremos – são aquelas com chances reais de eleger ao menos um vereador em nossa capital no próximo dia 6 de outubro.


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  • Mesmo em falta, a opinião incomoda o poder

    As recentes revelações acerca da atuação do ministro do STF Alexandre de Moraes contra aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro abriu a ferida de um debate urgente no Brasil: o abuso do poder – judiciário, mas também dos demais – no processo de disputas políticas.

    Na carona do ativismo do judiciário, crescem a censura e o cerco à opinião livre, quer seja na imprensa ou nas redes sociais da internet.

    Nesta edição, procuramos traçar uma breve trajetória do percurso que nos levou do apoio da sociedade ao combate às fake news ao atual estágio de censuro e cerceamento das liberdades que tem sua principal expressão no inusitado novo herói da democracia, o ministro Alexandre de Moraes.

    Dentro ou fora dos ritos legais, a exemplo do que ocorreu na Venezuela, é possível corroer a democracia por dentro de suas prórpias regras. Para evitar que a democracia se perca, é preciso tolerância e comedimento dos que detém o poder.


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  • O Brasil refém das “cismas” de Alexandre de Moraes, o novo “herói” da democracia

    Mensagens vazadas revelam que Alexandre de Moraes tem “mania” por críticos de sua atuação no STF e que não se constrange ao usar
das prerrogativas do cargo de ministro para perseguir adversários; “ele está com tempo para ficar procurando”, disse seu assessor

    Triste do país que precisa escolher entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes. Fugindo a esta dupla chantagem, é preciso pôr as coisas em seu lugar e ter perspectiva histórica. Os crimes que são imputados a Jair Bolsonaro e muitos de seus aliados foram exaustivamente divulgados pela imprensa, que assim cumpriu seu papel de fiscalizar o poder a serviço do cidadão.

    O que surge com ainda maior clareza diante de nós, agora, é a outra face da moeda. O vazamento das conversas entre assessores diretos do ministro do STF Alexandre de Moraes revelam que a democracia é atacada pelos dois flancos: o do bolsonarismo e o de seus opositores.

    Foto: Marcelo Camargo/EBC

    A pretexto da defesa da democracia, Alexandre de Moraes tem sido investido de poderes cada vez mais incompatíveis com um regime democrático. Investigações direcionadas e predileção por determinados alvos. Penas e sanções desproporcionais. Censura e boicote à renda de veículos da imprensa e ativistas da comunicação. Ah, mas são bolsonaristas, golpistas, dirão. O fato é que – se quisermos realmente preservar a democracia – precisamos aceitar que a lei vale para todos, até mesmo para aqueles com quem somos incapazes de ao menos conversar.

    Bolsonarista ou não, o livre exercício da opinião e do direito à crítica é indispensável para uma democracia de fato. E é a democracia real que, pelas mãos dos que dizem defendê-la, está ameaçada. Alexandre de Moraes é o principal exemplo desta escalada autoritária, como veremos.

    Do combate às fake news à censura, a saga de Xandão

    No caso de Alexandre de Moraes, muito tem se falado sobre o respeito (ou a falta dele) aos ritos legais que deveriam reger a ação da Justiça. Embora seja um tema importante e revelador do que acontece em nosso país, nem de longe é o fato mais importante revelado pelo vazamento das mensagens entre assessores do ministro do STF, nas quais orquestram a produção de provas contra agentes bolsonaristas.

    O teor das conversas torna patente que a ação de Alexandre de Moraes tem sido politicamente orientada a determinados fins. Tais fins podem até incluir, em certos momentos, a preservação das instituições democráticas. Mas – no mar sem fim dos poderes atribuídos a Moraes – abriram-se também as portas para a censura e a perseguição política.

    O inquérito das fake news, instaurado de ofício em março de 2019 pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, foi criado para investigar “notícias fraudulentas, denunciações caluniosas, ameaças e infrações” contra a Corte. Relatado pelo ministro Alexandre de Moraes, o inquérito se tornou um verdadeiro vale-tudo, do qual emanam os poderes extraordinários que hoje se concentram nas mãos de Moraes.

    Desde o início, o inquérito não seguiu os trâmites habituais: Alexandre de Moraes foi designado relator sem passar por sorteio, o que gerou críticas por parte de juristas e parlamentares. Sob sua condução, várias figuras públicas e influenciadores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro foram alvo de investigações e medidas restritivas. Muitas vezes com punições desproporcionais e sem respeitar o devido direito de defesa.

    Entre os investigados estão o blogueiro Paulo Figueiredo Filho e o comentarista Rodrigo Constantino, cujas publicações nas redes sociais, criticando a atuação da Justiça durante as eleições de 2022, serviram de base para Moraes determinar a quebra de sigilo bancário, o bloqueio de perfis na internet e o cancelamento dos passaportes de ambos.

    Apesar de o processo tramitar em sigilo, o principal alvo do inquérito é o ex-presidente Jair Bolsonaro, incluído na investigação em agosto de 2021 após uma transmissão ao vivo em que atacou o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas. Antes disso, em fevereiro do mesmo ano, o então deputado federal Daniel Silveira foi preso em flagrante após divulgar um vídeo com insultos e ameaças aos ministros do STF.

    Em maio de 2020, Moraes ordenou uma grande operação que incluiu 29 mandados de busca e apreensão contra blogueiros, ativistas e empresários, como Allan dos Santos, Sara Winter, Luciano Hang e Roberto Jefferson. A ação visava desarticular o chamado “gabinete do ódio”, supostamente criado para disseminar fake news e promover ataques contra as instituições democráticas.

    Mais recentemente, o Partido da Causa Operária (PCO) também se tornou alvo de decisões de Moraes. Em junho de 2022, o ministro ordenou o bloqueio dos perfis do partido em diversas redes sociais após publicações que defendiam a dissolução do STF e chamavam Moares de “skinhead de toga” com “sanha por ditadura”.

    Foto: Marcelo Camargo/EBC

    O gabinete de Moraes justificou que as solicitações de informações ao TSE eram práticas normais dentro do escopo de investigações existentes, e o próprio ministro afirmou que todos os procedimentos respeitaram a integridade legal. O caso, no entanto, reacendeu debates sobre a atuação de Moraes como relator dos processos sobre fake news, milícias digitais e os atos de 8 de janeiro de 2023.

    Desde que assumiu o posto no STF, Moraes acumulou poderes significativos como relator de investigações que se originaram do inquérito das fake news – hoje já são várias investigações sob o mesmo arcabouço. Todas elas nas mãos de um único homem, Alexandre de Moraes.

    “Quando ele cisma é uma tragédia”

    As conversas entre o juiz instrutor Airton Vieira (principal assessor de Alexandre de Moraes no STF) e Eduardo Tagliaferro (então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE) contém trechos onde os próprios envolvidos declaram o receio de que os pedidos informais pudessem vir a público. “Formalmente, se alguém for questionar, vai ficar uma coisa muito descarada”, afirmou Vieira. Ele ressaltou que, caso essa atuação fosse exposta, “ficaria chato”. Eles sabiam que faziam algo errado.

    De acordo com as mensagens, o setor de combate à desinformação do TSE, durante a presidência de Moraes, foi transformado em um braço investigativo do gabinete do ministro no STF. Vieira e Tagliaferro trocavam frequentemente solicitações e relatórios para embasar medidas judiciais, como bloqueio de contas em redes sociais e multas, muitas vezes relacionadas a publicações críticas à lisura do processo eleitoral ou apenas críticas diretas a Alexandre de Moraes.
    As conversas costumavam ocorrer pela madrugada.

    Em um dos áudios, Vieira sugere que, para evitar exposições, os relatórios passassem a ser formalmente atribuídos ao TSE, com o timbre do tribunal e sob o comando de um juiz auxiliar do TSE. “Para todos os fins, fica de ordem dele, do dr. Marco [Antônio Martins Vargas, juiz auxiliar de Moraes no TSE], que ele manda enviar pra gente [no STF] e aí tudo bem”, comentou Vieira.

    O receio expresso nas mensagens também se refletiu na tentativa de ocultar a origem dos relatórios. Vieira sugeriu a alteração do timbre nos documentos de “Supremo Tribunal Federal” para “Tribunal Superior Eleitoral”, o que teria sido debatido com Cristina Yukiko Kusahara Gomes, chefe de gabinete de Moraes no STF.

    Em nota, após a publicação das reportagens, o gabinete de Moraes afirmou que “todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria-Geral da República”. Tagliaferro, por sua vez, declarou que cumpria todas as ordens recebidas e não se recorda de ter cometido qualquer ilegalidade.

    Os áudios expõem a linha tênue entre as funções do STF e do TSE e levantam dúvidas sobre a legalidade e transparência na condução de inquéritos que têm como alvo figuras públicas e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. O episódio expõe o delicado equilíbrio entre o combate à desinformação e a preservação de garantias constitucionais.


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  • Paradoxal e imoral: sindicato que deveria defender o trabalhador não garante direitos a prestador de serviço

    O Sindicato dos Servidores Públicos do Município do Natal (SINSENAT) demonstra, a cada dia, uma clara dificuldade na escolha de alguns de seus representantes. Essa constatação foi reforçada, no dia 06 de agosto de 2024, quando o sindicato recebeu uma decisão judicial que o obriga a pagar mais de R$ 200 mil reais a um prestador de serviços (professor) que moveu uma ação em 2017, ainda durante a gestão da líder sindical Soraya Godeiro.
    Agora, após sete anos de disputa judicial, o coordenador do Sinsenat e candidato a vereador pelo Partido Progressistas (PP), J. Neto, firmou um acordo no mínimo estranho, que prejudica ainda mais o próprio sindicato.

    Segundo informações apuradas junto a diretoria do sindicato, que prefere não se identificar com medo de retaliações por parte de J. Neto, o acordo pode colocar em risco as atividades diárias da entidade, podendo até inviabilizar as eleições sindicais.
    O que se percebe é que pela forma como foi conduzido o acordo, J.Neto desconsiderou a tentativa de outros dirigentes, Ana Maria da Silva e Marcone Olímpio e diretores, que amenizava os prejuízos financeiros causados pela decisão e ao mesmo tempo atenuaria os desgastes econômicos gerados pelo processo judicial, por sua vez, J.Neto não esperou uma decisão judicial mais favorável ao sindicato e dentro dos prazos legais, e fez um acordo unilateral.

    “Nós pleiteávamos pelo pagamento inicial de 40% do valor, dividindo o restante em, no mínimo, três parcelas. No entanto, J.Neto com objetivo de dizer que resolveu o problema, mesmo sendo o responsável pelo o aumento do montante da dívida em R$ 200 mil, faz um acordo unilateral que prejudica a vida orgânica do sindicato”, afirma Marcone Olímpio, Coordenador do Sinsenat.

    Por que aqueles que deveriam ser os primeiros a defender os trabalhadores são justamente os responsáveis por essas falhas? Não há uma resposta clara, mas é evidente o paradoxo e a imoralidade em relação ao respeito à classe trabalhadora que se revela na gestão de Soraya Godeiro e J. da Cunha Neto.

    Entenda o caso

    Em 21 de agosto de 2017, durante a gestão de Soraya Godeiro, um professor de inglês, contratado para prestar serviços ao Sinsenat, entrou com uma ação contra o sindicato, cobrando mais de R$ 60 mil reais em pagamentos atrasados. A ironia não poderia ser maior: em 24 de janeiro de 2018, o Sinsenat, representado pela própria ‘sindicalista’ Soraya e pelos advogados do sindicato, recorrendo à Justiça com um embargo para alegar que o professor não havia prestado os serviços pelos quais cobrava.

    Em 26 de abril de 2022 ocorreu a sentença condenatória ao sindicato na primeira instância determinando o pagamento, que totalizava até essa data R$ 60.668,35. Mas sem fazer um acordo, o jurídico do Sindicato apela da condenação, mais uma vez sendo derrotado no Tribunal.

    O professor deu início ao cumprimento de sentença em 8 de agosto de 2023. Dada a negativa do sindicato em pagar a dívida e chegar a um acordo em todas as tentativas anteriores, o valor devido foi atualizado e chegou a R$ 140.207,82. “Mesmo com provas claras de que os serviços foram prestados, J. Neto e o jurídico do sindicato em todo o processo, seguiram a linha da gestão de Soraya, insistindo que o professor não cumpriu suas obrigações, o que agravou a situação”, relata o diretor do sindicato, Francisco Gomes de Lima.

    Em 19 de junho de 2024, sem pagamento voluntário ou uma proposta de acordo adequada, a dívida já ultrapassava R$ 200 mil. O valor foi bloqueado nas contas do sindicato e, misteriosamente, dentro do prazo para impugnação, o jurídico da entidade reconheceu a dívida em sua totalidade. Como resultado, o sindicato se comprometeu a quitar o débito ainda este ano. Segundo fontes, desde o início, Soraya, assim como J. Neto, tinha a opção de uma composição em 10 parcelas de R$ 6 mil, o que teria reduzido significativamente o impacto financeiro.
    É notório que há um racha na gestão do sindicato, mas a atitude de J. Neto de fechar um acordo antes da decisão da juíza ou não apoiar a proposta dos demais coordenadores e do primeiro tesoureiro é, no mínimo, estranho, já revela um desinteresse notável pela saúde financeira do SINSENAT. Será que ele realmente ignorou a importância de manter as atividades e despesas essenciais do sindicato? Porque ele escolheu um acordo ainda mais oneroso?


    2 respostas para “Paradoxal e imoral: sindicato que deveria defender o trabalhador não garante direitos a prestador de serviço”

    1. Não é a primeira condenação causada pela inoperância ou impáfia desses dois “sindicalistas”, o que fica é o desgaste e a despesa para nós servidores que pagamos essas condenações do nosso próprio bolso.
      Sobre a ex coordenadora, vale salientar que outro ex prestador a indiciou por danos morais e até o presente momento, mesmo após condenação, ela não coçou os bolsos. Parece que quando é para tirar do bolso deles, eles vão até o supremo, mas quando é do nosso…

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  • Natália vence primeiro debate entre candidatos a prefeito de Natal

    Desorganizado e improdutivo, o debate promovido na noite de ontem pela Band Natal foi marcado pelo vazio de ideias que tomou conta da política potiguar

    Natália Bonavides foi a única candidata a conseguir se comunicar de forma clara e demonstrar preparo no debate de ontem entre os candidatos a prefeito da capital. Com linguagem e se saindo bem de algumas investidas mal elaboradas de seus adversários, a petista usou o espaço para se apresentar como uma candidata madura e empenhada nos principais temas de interesse do eleitor.

    Já Paulinho Freire levantou questões e dados da maior importância, mas não soube como apresentá-los de forma clara e contundente para o eleitor. Foi, sobretudo, prejudicado pela estratégia de avançar sobre o candidato ausente no debate, Carlos Eduardo. Não conseguiu imprimir sua própria voz no debate como tem feito em outras ocasiões.

    Tanto Natália quanto Paulinho foram prejudicados pelo formato atabalhoado do debate. Há dias que a Band sabia da ausência de Carlos Eduardo, que comunicou que estaria na data em evento pré-agendado de seu partido, em Fortaleza. Ainda assim, a emissora desperdiçou tempo precioso mantendo o candidato no sorteio. A pirraça levou a que Rafael Motta tivesse que repetir um bloco. “O imprevisível aconteceu”, disse a competente mediadora do debate. Mas o imprevisível era mais que previsível, era óbvio.

    As perguntas e réplicas de 30 segundos parecem ter ocupado no debate menos tempo que a explicação das regras e os muitos comentários repetitivos sobre terem convidado o candidato ausente. Tanto que ao final a mediadora se sentiu obrigada a defender a relevância do debate.

    Sim, Rafael Motta. O ex-deputado federal tem muito a apresentar e grande potencial de crescimento nesta eleição. Mas ontem não disse a que veio, tentando soluções fáceis para um debate no qual parecia não estar preparado.

    Embora Natália tenha demonstrado grande competência comunicativa diante do formato improdutivo do debate, mesmo seu desempenho não foi suficiente para salvar a noite. Os três candidatos presentes mostraram que – até agora – ninguém tem nada de relevante a dizer para os eleitores. Talvez Carlos Eduardo tenha feito bem em arrumar outra ocupação para sua noite de quinta-feira.


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