• 400 contra 1: um mergulho na origem do crime organizado no Brasil

    Procurando uma metáfora em que pudesse encaixar o Estado (Nação Brasileira), eis que resolvi criar uma: o Estado é um “caranguejo” quando o assunto é resolver os problemas crônicos em áreas como: educação, saúde, segurança, moradia, infraestrutura entre outras coisas. Porque um caranguejo? Pelo fato de andar sempre de lado dos problemas, mas nunca os ataca de frente na busca por soluções definitivas. Às vezes até surgem soluções, porém como paliativo ao problema.

    É um caranguejo, também, porque as vezes aparece algum administrador das políticas do Estado envoltos na lama da corrupção. As tomadas de decisão por parte de quem rege a coisa pública parecem ser feitas sem respeitar fatores históricos, econômico e socioambientais.

    A direita e extrema-direita, quando no poder, desenvolvem políticas no setor de segurança e de enfrentamento (guerra) com extermínio das populações mais vulneráveis socialmente, bem como a política de encarceramento de amontoar corpos humanos em presídios infectos, onde no lugar de ressocializar os indivíduos o que se cria são mais bandidos que se organizam cada vez mais.

    E a esquerda, essa apesar de identificar fatores históricos relacionado as condições socioeconômicas como causadoras da criminalidade, não consegue ter uma proposta que a combata. Os verdadeiros anseios das populações estão sempre colocados de lado.

    Seu degustador de filmes, séries e tudo mais que o audiovisual produz, traz, dessa vez, um filme para reflexão que abarca questões históricas, senão do nascimento, mas dos primeiros passos do que viria a ser o crime organizado em nosso país, como esse começou a crescer nas cadeias, no caso do filme, no presídio de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e que dali serviu de modelo para outras organizações Brasil afora.

    Hoje os noticiários de TVs e as reportagens da área policial corroboram para demonstrar que já não existe lugar nesse país sem uma, ou até várias, organização criminosas, deixando a população que vive na insegurança no sofrimento.

    Esse longa metragem foi lançado em 2010, dirigido por Caco Souza, retratando a ascensão do Comando Vermelho, facção carioca fundada na década de 70. Baseado no livro autobiográfico de William da Silva Lima, um dos fundadores da organização, o filme acompanha sua trajetória desde o presídio da Ilha Grande até a liderança do grupo. Através de flashbacks, a produção explora as motivações e os desafios enfrentados por William e seus comparsas, contextualizando o surgimento do crime organizado no Brasil em meio à repressão da ditadura militar.

    O filme serve como um ponto de partida para se entender a complexa teia da evolução do crime organizado, que se diversificou e se fortaleceu ao longo das décadas. Fatores como pobreza, desigualdade social, encarceramento em massa e corrupção são apontados como terreno fértil para o desenvolvimento de grupos criminosos. A fragilidade do sistema prisional, a falta de oportunidades para ex-presidiários e a ineficiência das políticas públicas contribuem para a perpetuação do ciclo de violência.

    “400 Contra 1″, filme que vai além da mera narrativa policial, convidando o público a refletir sobre as raízes sociais do crime e os desafios na busca por soluções eficazes, levantando questionamentos sobre o papel do Estado no combate à criminalidade e a necessidade de medidas que ataquem as causas estruturais do problema.

    A obra também convida a pensar sobre a figura do bandido, reconhecendo a complexidade de suas motivações e trajetórias. Mais do que um filme de ação, “400 Contra 1” é um convite à reflexão crítica sobre um tema crucial para a sociedade brasileira. A produção oferece subsídios para entendermos a gênese do crime organizado e os desafios na construção de um futuro mais justo e seguro para todos.

    Ao término do filme ficam os questionamentos: por que que no exato momento onde o crime organizado começa a ganhar corpo, nada foi feito para extingui-lo? Por que foi permitido que fosse ganhando mais corpo ao longo dos anos? Será que não havia informações a respeito? Ou será que nosso “Estado caranguejo” preferiu acompanhar tudo andando de lado, à espera que um milagre tudo resolvesse?

    Essas são apenas divagações minhas, assista o filme e tire suas conclusões.


  • Madame Satã: um retrato atemporal da exclusão e do preconceito

    Oi! tudo bem com você? Daqui, espero que sim! Esse seu degustador de filmes, séries e tudo mais que o audiovisual produz, vem mais uma vez refletir um pouco com você sobre um filme. Dessa vez com um tema atual e urgente: o que podemos, devemos e temos o direito de fazer com nossas vidas, nossos corpos, nossa sexualidade.

    Em uma sociedade moldada numa moral religiosa e carregada de hipocrisia, como a nossa, essas que deveriam ser simples sentenças de um anunciado, acaba ganhando o debate público de interdições, mortes e todos os tipos possíveis de violências, nesse Brasil do século XXI. Apesar de alguns avanços e conquistas para pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, essas continuam sofrendo todo tipo de discriminação e preconceito. Somos um dos países do mundo onde mais se mata pessoas LGBTQIAPN+, bem como mulheres, negros e pobres, sem piedade. Essa situação é quase que uma política de estado, basta olharmos as manchetes dos grandes jornais que vemos como essas populações são tratadas pelo aparato de segurança do estado. Estar dentro de uma dessas categorias de seres humanos e viver em periferia torna a pessoa um alvo, e, na maioria das vezes, sentenciado a morte.

    O filme que as próximas linhas vão tratar junta alguns desses mundos, o protagonista é pobre, negro e homossexual. Madame Satã é seu nome.

    Em Madame Satã vemos o preconceito tomando suas formas contra uma personagem real do Rio de Janeiro que não aceitou ser tratado de forma menor do que merecia, que não aceitava os olhares atravessados dos hipócritas, rebelando-se com sua arte, com seu corpo, com sua forma de amar, para colocar seu nome na história das lutas por viver e ser quem é, do jeito que se quer ser.

    Esse texto não aprofundará essas questões, pois não dará conta, nem por baixo, do grande debate que devemos fazer para superar, de uma vez por todas, os preconceitos. Minha intenção é fazer você assistir os filmes e as sérias que venho trabalhando aqui, e, inteligente com és, tire suas próprias conclusões.

    O filme “Madame Satã”, dirigido por Karim Aïnouz, em 2002, narra um breve período da vida de João Francisco dos Santos, o travesti e capoeirista que se tornou um ícone da cultura popular carioca na década de 1930. Através de uma narrativa fragmentada e sensorial, o longa-metragem mergulha na atmosfera da Lapa boêmia, retratando com maestria a exclusão e o preconceito que permeavam a sociedade da época.

    Embora ambientado em um passado distante, “Madame Satã” levanta questões que ainda hoje ressoam na sociedade brasileira. A marginalização das minorias sociais, a violência contra pessoas LGBTQIAPN+ e a invisibilidade da cultura afro-brasileira são temas que continuam a exigir reflexão e ação.

    A exclusão e o preconceito na época do filme, o que denominamos de homofobia, era extremamente visível. A homossexualidade era considerada um crime no Brasil até 1986. As pessoas homossexuais sofriam constantes perseguições e viviam à margem da sociedade.

    Da mesma forma, a segregação racial era uma realidade no Brasil da época que o filme relata. Negros e negras relegados a papeis subalternos e sofrem com a discriminação em todos os aspectos da vida, isso ocorre no período histórico que o filme relata e segue com algumas proporções nos dias atuais. Em pleno século XXI, o preconceito de cor, de sexualidade e a marginalização social devido a pobreza, continuam existindo.

    O filme “Madame Satã” contribui para a reflexão sobre a história da exclusão e do preconceito no Brasil, celebrando a resistência e a força da comunidade LGBTQIAPN+. É um filme necessário e urgente, que nos convida a repensar nossas relações sociais e lutar por uma sociedade mais justa e inclusiva. Além da exclusão e do preconceito, o filme também aborda temas como: a busca por identidade, a força da comunidade, a beleza da arte e da cultura popular.

    “Madame Satã” é um filme complexo e multifacetado que merece ser assistido, refletido e replicado.

    Ah! É muito fácil de encontrar esse filme na net, é só pesquisar em seu buscador de preferência.


  • Close: Uma tocante história sobre amizade, afeto e a fragilidade da adolescência

    Oi! Tudo de boas com você? Esse degustador de filmes, series e tudo que o audiovisual produz, espera que sim!

    Esse filme é o primeiro no qual vou me valer de conhecimento acadêmico, adquirido quando estava cursando o PROFHISTÓRIA/UFRN, sendo mais exato, o conhecimento da disciplina de Narrativa, Imagem e a Construção do Fato Histórico, que foi brilhantemente ministrada pela Dra. Maria da Conceição Guilherme Coelho. Mas, não irei detalhar aqui o conhecimento, citei só para termos uma ideia do quanto foi emocional escrever sobre esse filme, tendo que recorrer a técnica, senão essa resenha não saía. Se você perguntou o porquê disso agora, respondo com um exemplo, em “Bebe Rena”, que escrevi carregado de emoção, foi muito mais fácil terminar o texto do que nesse, pois, chorei assistindo o filme, estou chorando nesse momento que escrevo. Minha identificação foi imediata com o enredo, guardando proporções. Lembrei de situações que passei quando na adolescência demostrava afetos por meus amigos, e nessa sociedade de hipocrisias sei que um homem não pode demonstrar afetos por homem. Entendo o cunho homofóbico que está por trás dessa situação e que merece um texto para aprofundar o tema.

    Destarte, não vou ser arrogante e ditar para você que esse filme é necessário como a gente sempre lê alguém ditando, que tais livros são necessários, tais filmes e etc. Mas, ao chegar no final dessa parca escrita, se ainda não assistiu “Close”, procure assistir e faça um favor a si e aos que lhe rodeiam, ame a si e ao próximo, respeite e se livre da ignorância homoafetiva e qualquer outra forma preconceituosa, porque essas matam e matam muito.

    “Close”, dirigido por Lukas Dhont, explora, com sensibilidade e maestria, a complexa relação entre dois amigos adolescentes, Léo e Remi, em um momento crucial de suas vidas. O filme captura a intensidade da amizade masculina, a descoberta da identidade e os perigos da pressão social, tudo isso ambientado no contexto escolar.

    O filme acompanha de perto a jornada dos dois amigos enquanto eles lidam com a dor, a culpa, o medo e um deles vai tentar entender os eventos que levaram a uma tragédia ocorrida na trama. Calma, não irei relatar a tragédia para não dar spoiler.

    Um dos pontos fortes de “Close” é a forma como retrata a amizade masculina na adolescência. Léo e Remi são amigos inseparáveis, compartilhando tudo um com o outro. Sua amizade é intensa, física e afetiva, desafiando as normas sociais tradicionais de masculinidade. Explora com delicadeza a descoberta da identidade e as inseguranças que acompanham esse processo. Léo e Remi estão em um momento de suas vidas em que estão começando a se questionar sobre quem são e qual é o seu lugar no mundo. Essa busca por identidade se torna ainda mais complexa diante da pressão social e dos estereótipos de gênero.

    “Close” também aborda o tema do bullying e do impacto devastador que a fofoca pode ter na vida de um adolescente. Um boato maldoso sobre Léo e Remi se espalha pela escola, colocando em risco a amizade dos dois e levando a consequências trágicas. O filme nos convida à reflexão sobre a importância da amizade, da comunicação e da empatia. Nos faz pensar sobre como nossas palavras e ações podem afetar os outros, especialmente os mais jovens e vulneráveis.

    Dhont constrói sua narrativa de forma tensa e envolvente, explorando as consequências devastadoras de um boato maldoso e a fragilidade da nossa mente que pode adoecer devido a maldade alheia. A adolescência é retratada com sensibilidade, enquanto o desfecho trágico serve como um alerta para os perigos da homofobia e da falta de empatia.

    Este é um filme imperdível para quem busca uma história tocante e reflexiva sobre a amizade, o afeto e os desafios da adolescência, que vai te emocionar e te fazer pensar, espero eu.


  • Ilha das Flores: um retrato pungente da fome na sociedade de consumo

    E aí, tudo tranquilo com você? Espero sinceramente que sim. Como vocês sabem, sou um degustador de filmes e séries, na verdade, de tudo que o audiovisual produz. Deixei claro no último texto que não curto apenas filmes de terror, por achar o gênero sem graça, mas irei sim, a pedido do meu amigo Ionaldo (Naldo), escrever depois sobre um filme de terror que dei valor.

    Pense um pouco, você é capaz de lembrar de todos os filmes e séries que já assistiu? Se sim, você lembra quais? Quem estava na tua companhia? Porque eu, além de lembrar de todos, ainda sei com quem estava quando assisti cada um. O primeiro que assisti foi “Atrapalhando a Suate”, filme de 1983, do quarteto Os Trapalhões, composto por: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, exibido no cine Panorama, no bairro das Rocas, cinema que alguns anos depois passou a exibir só filmes pornôs, em seguida virou igreja. 

    Quando vi esse filme, estava com meu saudoso pai, Francisco de Assis Silva (Chimba), da minha mãe Maria do Carmo dos Santos Silva (Carminha) e da minha irmã Claudia Poliana Silva, mas sem sombra de dúvidas a pessoa com quem mais fui ao cinema, foi meu primo Edgar Fonseca (Novinho), somos, inclusive, xarás de apelido.

    Do final dos anos 80 até os anos 2000, assistimos para mais de 60 filmes nos cines Rio Grande, Nordeste, Rio Verde, além dos cinemas no Natal Shopping e Midway. Vi alguns títulos como: Amor Estranho Amor, Superman 4, Robocop e Capitão América. Poderia colocar título por título, porém deixaria a resenha enfadonha.

    Apesar das plataformas de streaming, que sou usuário assíduo, não dispenso ir ao cinema, pois para para mim é um ritual assistir um filme na grande telona, acompanhando de uma pipoca quentinha.

    O curta-metragem que vou abordar nas próximas linhas traz um tema forte, que precisa ser enfrentado com responsabilidade social por toda sociedade para ser vencido. Esse tema é a fome, flagelo que quem passa por ele perde um pouco da própria humanidade. 

    O curta-metragem é: Ilha das Flores, dirigido por Jorge Furtado em 1989. Esse curta traça um panorama inquietante da fome em meio à abundância, tecendo uma crítica mordaz à sociedade de consumo. A narrativa acompanha o tomate desde sua colheita em uma próspera plantação, simbolizando a capacidade da terra de prover alimento para todos. No entanto, o tomate logo se vê em meio a uma cadeia de exploração e desperdício. Transportado para um supermercado, ele é exposto como um produto comercial, sujeito às leis de mercado e à obsolescência programada. Imperfeito e fora dos padrões estéticos artificiais impostos pelo sistema, o tomate é descartado, mesmo que ainda comestível.

    Sua trajetória o leva ao aterro sanitário da Ilha das Flores, um microcosmo das disparidades sociais. Lá, o tomate se torna alimento para porcos, enquanto crianças em situação de pobreza disputam restos de comida imprópria para o consumo animal. Essa cena brutal expõe a realidade cruel da fome no mundo, mesmo em um país como o Brasil, grande produtor de alimentos.

    Ilha das Flores não se limita a mostrar a fome como um problema individual, mas a desvenda como um sintoma da disfunção sistêmica. A lógica do lucro a qualquer custo, a valorização da estética em detrimento da nutrição e a concentração de renda nas mãos de poucos são alguns dos elementos que contribuem para a perpetuação da fome, mesmo em um mundo que produz comida suficiente para alimentar toda a população.

    O filme se destaca pela sua linguagem simples e direta, utilizando recursos como a ironia e o humor constrangedor para despertar a reflexão crítica do espectador. A trilha sonora minimalista e a narração em tom documental contribuem para a construção de uma atmosfera densa e impactante.

    Ilha das Flores é um convite à reflexão sobre os paradoxos da sociedade de consumo. Mais do que um curta-metragem, é um manifesto contra a fome e o desperdício, um lembrete de que a comida é um direito humano fundamental e que a erradicação da fome é uma responsabilidade coletiva.

    Para além da crítica social, o filme também oferece algumas pistas para a construção de um futuro mais justo e sustentável como: 

    • Combate ao desperdício: reduzir o desperdício de alimentos em todas as etapas da cadeia alimentar, desde a produção até o consumo, é fundamental para garantir o acesso universal à comida.
    • Agricultura familiar: fortalecer a agricultura familiar e campesina que produz alimentos frescos e nutritivos com menor impacto ambiental é crucial para a construção de um sistema alimentar mais justo e sustentável.
    • Políticas públicas: implementar políticas públicas que garantam o acesso à terra, crédito e assistência técnica para os pequenos agricultores, além de programas de distribuição de alimentos para as populações mais vulneráveis, são medidas essenciais para combater a fome.
    • Consciência do consumidor: o consumo consciente, que valoriza produtos locais, frescos e produzidos de forma sustentável é fundamental para pressionar as empresas por práticas mais justas e ambientalmente corretas.

    Ilha das Flores é um filme necessário e atemporal, que nos convida a repensar nossa relação com a comida e nosso papel na construção de um mundo mais justo e sustentável.

    Vale ressaltar que o curta-metragem é de fácil acesso online, o que permite que seja utilizado como ferramenta educativa em escolas, universidades e comunidades. Através da exibição e debate do filme, podemos promover a conscientização sobre a problemática da fome e mobilizar ações para a construção de um futuro com mais justiça alimentar.


  • Bebê Rena: uma jornada sombria através da solidão, abuso e superação

    Sou um degustador de filmes e séries, aliás, de quase tudo que o audiovisual produz, dos gêneros que se colocam, só não assisto filmes de terror, acho desinteressante, mas os demais estou sempre consumindo. Com as diversas plataformas de streaming o consumo aumentou, porém, deixo claro que não dispenso ir ao cinema e consumir um filme numa boa telona, na companhia de pipoca quentinha, pois vejo algo de místico no ritual de ir ao cinema. Ah! Nunca antes havia escrito sobre filmes ou séries, e olha que devo ter assistido um número bastante razoável, mas nunca fiz as contas de quantos.

    Destarte, isso mudou quando num belo domingo, desses que estou com a boca escancarada repleta de dentes, deitado em minha cama, e vejo no cardápio do streaming uma série com o nome “Baby Reindeer”, na tradução Bebê Rena. De princípio ri com esse nome, pensei, meditei, falei com minha taça de vinho: não vou assistir, deve ser uma droga com esse nome de m… 

    Mas, de maneira oposta ao que pensei, resolvi assistir, e tamanha foi a surpresa, pois fiquei vidrado na tela, ao ponto de o vinho na taça virar purgante de tão quente, e, sem perceber, sete capítulos tinham se passado e eu estava absorto pela série. Seu enredo atravessou-me, por isso resolvi escrever. Não se preocupem, deixarei aqui apenas minhas impressões e poucos spoilers, então vocês podem ou não assistir a série tirando suas próprias conclusões depois dessa leitura.

    Baby Reindeer, minissérie britânica da Netflix, mergulha em um turbilhão de emoções ao retratar a história real de Richard Gadd, interpretado por ele mesmo, que é um comediante em ascensão que se vê enredado em uma teia de obsessão, abuso e trauma. A série, com apenas sete episódios, tece uma narrativa crua e perturbadora, explorando os efeitos devastadores da solidão, do abuso sexual e do vício em drogas na mente e na alma de um indivíduo.

    Logo no início somos apresentados a Donny, um jovem talentoso e carismático, mas que luta para encontrar seu lugar no mundo. Sua solidão o torna vulnerável à atenção de Martha, uma mulher misteriosa e instável, que rapidamente se torna obcecada por ele. O relacionamento tóxico entre ambos se intensifica, levando Donny a um espiral de sofrimento e desespero. A solidão toma conta de Donny, o isolando cada vez mais do mundo exterior. Ele se torna refém da manipulação de Martha, incapaz de escapar de suas garras. 

    A série explora com maestria a fragilidade da psique humana diante da solidão, demonstrando como ela pode abrir portas para relacionamentos abusivos e comportamentos destrutivos.

    O abuso sexual e o vício em drogas se configuram como mecanismos de fuga para Donny, que busca, em vão, aliviar a dor e o vazio que o consomem. A série retrata com brutal honestidade os efeitos devastadores desses traumas, não apenas no corpo, mas também na mente e no espírito.

    Baby Reindeer não se limita a mostrar o lado sombrio da história, a série também oferece um vislumbre de esperança e redenção. Através da força interior e do apoio de amigos e familiares, Donny encontra forças para enfrentar seus traumas e reconstruir sua vida.

    Após maratonar a minissérie posso dizer que a mesma serve como um alerta poderoso sobre os perigos da solidão, do abuso sexual e do vício em drogas. É um lembrete de que a saúde mental deve ser valorizada e protegida e que a busca por ajuda nunca é vergonhosa.

    Com atuações excepcionais, uma trilha sonora envolvente e uma direção impecável, Baby Reindeer é uma obra de arte perturbadora, mas necessária. É uma série que te prende do início ao fim, te faz refletir e te convida a confrontar os fantasmas que assombram a alma humana.

    Nessas poucas linhas, é impossível capturar a complexidade e a profundidade de Baby Reindeer. Mas espero que esta resenha sirva como um convite para explorar essa obra poderosa e comovente, que te fará questionar os limites da resiliência humana.

    Claudio Wagner é professor, cientista da religião, historiador e poeta, autor do Livro Entre a Sombra da Razão e Razão da Sombra, CJA-2016.


Crônicas



















Claudio Wagner













  • 400 contra 1: um mergulho na origem do crime organizado no Brasil

    Procurando uma metáfora em que pudesse encaixar o Estado (Nação Brasileira), eis que resolvi criar uma: o Estado é um “caranguejo” quando o assunto é resolver os problemas crônicos em áreas como: educação, saúde, segurança, moradia, infraestrutura entre outras coisas. Porque um caranguejo? Pelo fato de andar sempre de lado dos problemas, mas nunca os ataca de frente na busca por soluções definitivas. Às vezes até surgem soluções, porém como paliativo ao problema.

    É um caranguejo, também, porque as vezes aparece algum administrador das políticas do Estado envoltos na lama da corrupção. As tomadas de decisão por parte de quem rege a coisa pública parecem ser feitas sem respeitar fatores históricos, econômico e socioambientais.

    A direita e extrema-direita, quando no poder, desenvolvem políticas no setor de segurança e de enfrentamento (guerra) com extermínio das populações mais vulneráveis socialmente, bem como a política de encarceramento de amontoar corpos humanos em presídios infectos, onde no lugar de ressocializar os indivíduos o que se cria são mais bandidos que se organizam cada vez mais.

    E a esquerda, essa apesar de identificar fatores históricos relacionado as condições socioeconômicas como causadoras da criminalidade, não consegue ter uma proposta que a combata. Os verdadeiros anseios das populações estão sempre colocados de lado.

    Seu degustador de filmes, séries e tudo mais que o audiovisual produz, traz, dessa vez, um filme para reflexão que abarca questões históricas, senão do nascimento, mas dos primeiros passos do que viria a ser o crime organizado em nosso país, como esse começou a crescer nas cadeias, no caso do filme, no presídio de Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e que dali serviu de modelo para outras organizações Brasil afora.

    Hoje os noticiários de TVs e as reportagens da área policial corroboram para demonstrar que já não existe lugar nesse país sem uma, ou até várias, organização criminosas, deixando a população que vive na insegurança no sofrimento.

    Esse longa metragem foi lançado em 2010, dirigido por Caco Souza, retratando a ascensão do Comando Vermelho, facção carioca fundada na década de 70. Baseado no livro autobiográfico de William da Silva Lima, um dos fundadores da organização, o filme acompanha sua trajetória desde o presídio da Ilha Grande até a liderança do grupo. Através de flashbacks, a produção explora as motivações e os desafios enfrentados por William e seus comparsas, contextualizando o surgimento do crime organizado no Brasil em meio à repressão da ditadura militar.

    O filme serve como um ponto de partida para se entender a complexa teia da evolução do crime organizado, que se diversificou e se fortaleceu ao longo das décadas. Fatores como pobreza, desigualdade social, encarceramento em massa e corrupção são apontados como terreno fértil para o desenvolvimento de grupos criminosos. A fragilidade do sistema prisional, a falta de oportunidades para ex-presidiários e a ineficiência das políticas públicas contribuem para a perpetuação do ciclo de violência.

    “400 Contra 1″, filme que vai além da mera narrativa policial, convidando o público a refletir sobre as raízes sociais do crime e os desafios na busca por soluções eficazes, levantando questionamentos sobre o papel do Estado no combate à criminalidade e a necessidade de medidas que ataquem as causas estruturais do problema.

    A obra também convida a pensar sobre a figura do bandido, reconhecendo a complexidade de suas motivações e trajetórias. Mais do que um filme de ação, “400 Contra 1” é um convite à reflexão crítica sobre um tema crucial para a sociedade brasileira. A produção oferece subsídios para entendermos a gênese do crime organizado e os desafios na construção de um futuro mais justo e seguro para todos.

    Ao término do filme ficam os questionamentos: por que que no exato momento onde o crime organizado começa a ganhar corpo, nada foi feito para extingui-lo? Por que foi permitido que fosse ganhando mais corpo ao longo dos anos? Será que não havia informações a respeito? Ou será que nosso “Estado caranguejo” preferiu acompanhar tudo andando de lado, à espera que um milagre tudo resolvesse?

    Essas são apenas divagações minhas, assista o filme e tire suas conclusões.


  • Madame Satã: um retrato atemporal da exclusão e do preconceito

    Oi! tudo bem com você? Daqui, espero que sim! Esse seu degustador de filmes, séries e tudo mais que o audiovisual produz, vem mais uma vez refletir um pouco com você sobre um filme. Dessa vez com um tema atual e urgente: o que podemos, devemos e temos o direito de fazer com nossas vidas, nossos corpos, nossa sexualidade.

    Em uma sociedade moldada numa moral religiosa e carregada de hipocrisia, como a nossa, essas que deveriam ser simples sentenças de um anunciado, acaba ganhando o debate público de interdições, mortes e todos os tipos possíveis de violências, nesse Brasil do século XXI. Apesar de alguns avanços e conquistas para pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, essas continuam sofrendo todo tipo de discriminação e preconceito. Somos um dos países do mundo onde mais se mata pessoas LGBTQIAPN+, bem como mulheres, negros e pobres, sem piedade. Essa situação é quase que uma política de estado, basta olharmos as manchetes dos grandes jornais que vemos como essas populações são tratadas pelo aparato de segurança do estado. Estar dentro de uma dessas categorias de seres humanos e viver em periferia torna a pessoa um alvo, e, na maioria das vezes, sentenciado a morte.

    O filme que as próximas linhas vão tratar junta alguns desses mundos, o protagonista é pobre, negro e homossexual. Madame Satã é seu nome.

    Em Madame Satã vemos o preconceito tomando suas formas contra uma personagem real do Rio de Janeiro que não aceitou ser tratado de forma menor do que merecia, que não aceitava os olhares atravessados dos hipócritas, rebelando-se com sua arte, com seu corpo, com sua forma de amar, para colocar seu nome na história das lutas por viver e ser quem é, do jeito que se quer ser.

    Esse texto não aprofundará essas questões, pois não dará conta, nem por baixo, do grande debate que devemos fazer para superar, de uma vez por todas, os preconceitos. Minha intenção é fazer você assistir os filmes e as sérias que venho trabalhando aqui, e, inteligente com és, tire suas próprias conclusões.

    O filme “Madame Satã”, dirigido por Karim Aïnouz, em 2002, narra um breve período da vida de João Francisco dos Santos, o travesti e capoeirista que se tornou um ícone da cultura popular carioca na década de 1930. Através de uma narrativa fragmentada e sensorial, o longa-metragem mergulha na atmosfera da Lapa boêmia, retratando com maestria a exclusão e o preconceito que permeavam a sociedade da época.

    Embora ambientado em um passado distante, “Madame Satã” levanta questões que ainda hoje ressoam na sociedade brasileira. A marginalização das minorias sociais, a violência contra pessoas LGBTQIAPN+ e a invisibilidade da cultura afro-brasileira são temas que continuam a exigir reflexão e ação.

    A exclusão e o preconceito na época do filme, o que denominamos de homofobia, era extremamente visível. A homossexualidade era considerada um crime no Brasil até 1986. As pessoas homossexuais sofriam constantes perseguições e viviam à margem da sociedade.

    Da mesma forma, a segregação racial era uma realidade no Brasil da época que o filme relata. Negros e negras relegados a papeis subalternos e sofrem com a discriminação em todos os aspectos da vida, isso ocorre no período histórico que o filme relata e segue com algumas proporções nos dias atuais. Em pleno século XXI, o preconceito de cor, de sexualidade e a marginalização social devido a pobreza, continuam existindo.

    O filme “Madame Satã” contribui para a reflexão sobre a história da exclusão e do preconceito no Brasil, celebrando a resistência e a força da comunidade LGBTQIAPN+. É um filme necessário e urgente, que nos convida a repensar nossas relações sociais e lutar por uma sociedade mais justa e inclusiva. Além da exclusão e do preconceito, o filme também aborda temas como: a busca por identidade, a força da comunidade, a beleza da arte e da cultura popular.

    “Madame Satã” é um filme complexo e multifacetado que merece ser assistido, refletido e replicado.

    Ah! É muito fácil de encontrar esse filme na net, é só pesquisar em seu buscador de preferência.


  • Close: Uma tocante história sobre amizade, afeto e a fragilidade da adolescência

    Oi! Tudo de boas com você? Esse degustador de filmes, series e tudo que o audiovisual produz, espera que sim!

    Esse filme é o primeiro no qual vou me valer de conhecimento acadêmico, adquirido quando estava cursando o PROFHISTÓRIA/UFRN, sendo mais exato, o conhecimento da disciplina de Narrativa, Imagem e a Construção do Fato Histórico, que foi brilhantemente ministrada pela Dra. Maria da Conceição Guilherme Coelho. Mas, não irei detalhar aqui o conhecimento, citei só para termos uma ideia do quanto foi emocional escrever sobre esse filme, tendo que recorrer a técnica, senão essa resenha não saía. Se você perguntou o porquê disso agora, respondo com um exemplo, em “Bebe Rena”, que escrevi carregado de emoção, foi muito mais fácil terminar o texto do que nesse, pois, chorei assistindo o filme, estou chorando nesse momento que escrevo. Minha identificação foi imediata com o enredo, guardando proporções. Lembrei de situações que passei quando na adolescência demostrava afetos por meus amigos, e nessa sociedade de hipocrisias sei que um homem não pode demonstrar afetos por homem. Entendo o cunho homofóbico que está por trás dessa situação e que merece um texto para aprofundar o tema.

    Destarte, não vou ser arrogante e ditar para você que esse filme é necessário como a gente sempre lê alguém ditando, que tais livros são necessários, tais filmes e etc. Mas, ao chegar no final dessa parca escrita, se ainda não assistiu “Close”, procure assistir e faça um favor a si e aos que lhe rodeiam, ame a si e ao próximo, respeite e se livre da ignorância homoafetiva e qualquer outra forma preconceituosa, porque essas matam e matam muito.

    “Close”, dirigido por Lukas Dhont, explora, com sensibilidade e maestria, a complexa relação entre dois amigos adolescentes, Léo e Remi, em um momento crucial de suas vidas. O filme captura a intensidade da amizade masculina, a descoberta da identidade e os perigos da pressão social, tudo isso ambientado no contexto escolar.

    O filme acompanha de perto a jornada dos dois amigos enquanto eles lidam com a dor, a culpa, o medo e um deles vai tentar entender os eventos que levaram a uma tragédia ocorrida na trama. Calma, não irei relatar a tragédia para não dar spoiler.

    Um dos pontos fortes de “Close” é a forma como retrata a amizade masculina na adolescência. Léo e Remi são amigos inseparáveis, compartilhando tudo um com o outro. Sua amizade é intensa, física e afetiva, desafiando as normas sociais tradicionais de masculinidade. Explora com delicadeza a descoberta da identidade e as inseguranças que acompanham esse processo. Léo e Remi estão em um momento de suas vidas em que estão começando a se questionar sobre quem são e qual é o seu lugar no mundo. Essa busca por identidade se torna ainda mais complexa diante da pressão social e dos estereótipos de gênero.

    “Close” também aborda o tema do bullying e do impacto devastador que a fofoca pode ter na vida de um adolescente. Um boato maldoso sobre Léo e Remi se espalha pela escola, colocando em risco a amizade dos dois e levando a consequências trágicas. O filme nos convida à reflexão sobre a importância da amizade, da comunicação e da empatia. Nos faz pensar sobre como nossas palavras e ações podem afetar os outros, especialmente os mais jovens e vulneráveis.

    Dhont constrói sua narrativa de forma tensa e envolvente, explorando as consequências devastadoras de um boato maldoso e a fragilidade da nossa mente que pode adoecer devido a maldade alheia. A adolescência é retratada com sensibilidade, enquanto o desfecho trágico serve como um alerta para os perigos da homofobia e da falta de empatia.

    Este é um filme imperdível para quem busca uma história tocante e reflexiva sobre a amizade, o afeto e os desafios da adolescência, que vai te emocionar e te fazer pensar, espero eu.


  • Ilha das Flores: um retrato pungente da fome na sociedade de consumo

    E aí, tudo tranquilo com você? Espero sinceramente que sim. Como vocês sabem, sou um degustador de filmes e séries, na verdade, de tudo que o audiovisual produz. Deixei claro no último texto que não curto apenas filmes de terror, por achar o gênero sem graça, mas irei sim, a pedido do meu amigo Ionaldo (Naldo), escrever depois sobre um filme de terror que dei valor.

    Pense um pouco, você é capaz de lembrar de todos os filmes e séries que já assistiu? Se sim, você lembra quais? Quem estava na tua companhia? Porque eu, além de lembrar de todos, ainda sei com quem estava quando assisti cada um. O primeiro que assisti foi “Atrapalhando a Suate”, filme de 1983, do quarteto Os Trapalhões, composto por: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, exibido no cine Panorama, no bairro das Rocas, cinema que alguns anos depois passou a exibir só filmes pornôs, em seguida virou igreja. 

    Quando vi esse filme, estava com meu saudoso pai, Francisco de Assis Silva (Chimba), da minha mãe Maria do Carmo dos Santos Silva (Carminha) e da minha irmã Claudia Poliana Silva, mas sem sombra de dúvidas a pessoa com quem mais fui ao cinema, foi meu primo Edgar Fonseca (Novinho), somos, inclusive, xarás de apelido.

    Do final dos anos 80 até os anos 2000, assistimos para mais de 60 filmes nos cines Rio Grande, Nordeste, Rio Verde, além dos cinemas no Natal Shopping e Midway. Vi alguns títulos como: Amor Estranho Amor, Superman 4, Robocop e Capitão América. Poderia colocar título por título, porém deixaria a resenha enfadonha.

    Apesar das plataformas de streaming, que sou usuário assíduo, não dispenso ir ao cinema, pois para para mim é um ritual assistir um filme na grande telona, acompanhando de uma pipoca quentinha.

    O curta-metragem que vou abordar nas próximas linhas traz um tema forte, que precisa ser enfrentado com responsabilidade social por toda sociedade para ser vencido. Esse tema é a fome, flagelo que quem passa por ele perde um pouco da própria humanidade. 

    O curta-metragem é: Ilha das Flores, dirigido por Jorge Furtado em 1989. Esse curta traça um panorama inquietante da fome em meio à abundância, tecendo uma crítica mordaz à sociedade de consumo. A narrativa acompanha o tomate desde sua colheita em uma próspera plantação, simbolizando a capacidade da terra de prover alimento para todos. No entanto, o tomate logo se vê em meio a uma cadeia de exploração e desperdício. Transportado para um supermercado, ele é exposto como um produto comercial, sujeito às leis de mercado e à obsolescência programada. Imperfeito e fora dos padrões estéticos artificiais impostos pelo sistema, o tomate é descartado, mesmo que ainda comestível.

    Sua trajetória o leva ao aterro sanitário da Ilha das Flores, um microcosmo das disparidades sociais. Lá, o tomate se torna alimento para porcos, enquanto crianças em situação de pobreza disputam restos de comida imprópria para o consumo animal. Essa cena brutal expõe a realidade cruel da fome no mundo, mesmo em um país como o Brasil, grande produtor de alimentos.

    Ilha das Flores não se limita a mostrar a fome como um problema individual, mas a desvenda como um sintoma da disfunção sistêmica. A lógica do lucro a qualquer custo, a valorização da estética em detrimento da nutrição e a concentração de renda nas mãos de poucos são alguns dos elementos que contribuem para a perpetuação da fome, mesmo em um mundo que produz comida suficiente para alimentar toda a população.

    O filme se destaca pela sua linguagem simples e direta, utilizando recursos como a ironia e o humor constrangedor para despertar a reflexão crítica do espectador. A trilha sonora minimalista e a narração em tom documental contribuem para a construção de uma atmosfera densa e impactante.

    Ilha das Flores é um convite à reflexão sobre os paradoxos da sociedade de consumo. Mais do que um curta-metragem, é um manifesto contra a fome e o desperdício, um lembrete de que a comida é um direito humano fundamental e que a erradicação da fome é uma responsabilidade coletiva.

    Para além da crítica social, o filme também oferece algumas pistas para a construção de um futuro mais justo e sustentável como: 

    • Combate ao desperdício: reduzir o desperdício de alimentos em todas as etapas da cadeia alimentar, desde a produção até o consumo, é fundamental para garantir o acesso universal à comida.
    • Agricultura familiar: fortalecer a agricultura familiar e campesina que produz alimentos frescos e nutritivos com menor impacto ambiental é crucial para a construção de um sistema alimentar mais justo e sustentável.
    • Políticas públicas: implementar políticas públicas que garantam o acesso à terra, crédito e assistência técnica para os pequenos agricultores, além de programas de distribuição de alimentos para as populações mais vulneráveis, são medidas essenciais para combater a fome.
    • Consciência do consumidor: o consumo consciente, que valoriza produtos locais, frescos e produzidos de forma sustentável é fundamental para pressionar as empresas por práticas mais justas e ambientalmente corretas.

    Ilha das Flores é um filme necessário e atemporal, que nos convida a repensar nossa relação com a comida e nosso papel na construção de um mundo mais justo e sustentável.

    Vale ressaltar que o curta-metragem é de fácil acesso online, o que permite que seja utilizado como ferramenta educativa em escolas, universidades e comunidades. Através da exibição e debate do filme, podemos promover a conscientização sobre a problemática da fome e mobilizar ações para a construção de um futuro com mais justiça alimentar.


  • Bebê Rena: uma jornada sombria através da solidão, abuso e superação

    Sou um degustador de filmes e séries, aliás, de quase tudo que o audiovisual produz, dos gêneros que se colocam, só não assisto filmes de terror, acho desinteressante, mas os demais estou sempre consumindo. Com as diversas plataformas de streaming o consumo aumentou, porém, deixo claro que não dispenso ir ao cinema e consumir um filme numa boa telona, na companhia de pipoca quentinha, pois vejo algo de místico no ritual de ir ao cinema. Ah! Nunca antes havia escrito sobre filmes ou séries, e olha que devo ter assistido um número bastante razoável, mas nunca fiz as contas de quantos.

    Destarte, isso mudou quando num belo domingo, desses que estou com a boca escancarada repleta de dentes, deitado em minha cama, e vejo no cardápio do streaming uma série com o nome “Baby Reindeer”, na tradução Bebê Rena. De princípio ri com esse nome, pensei, meditei, falei com minha taça de vinho: não vou assistir, deve ser uma droga com esse nome de m… 

    Mas, de maneira oposta ao que pensei, resolvi assistir, e tamanha foi a surpresa, pois fiquei vidrado na tela, ao ponto de o vinho na taça virar purgante de tão quente, e, sem perceber, sete capítulos tinham se passado e eu estava absorto pela série. Seu enredo atravessou-me, por isso resolvi escrever. Não se preocupem, deixarei aqui apenas minhas impressões e poucos spoilers, então vocês podem ou não assistir a série tirando suas próprias conclusões depois dessa leitura.

    Baby Reindeer, minissérie britânica da Netflix, mergulha em um turbilhão de emoções ao retratar a história real de Richard Gadd, interpretado por ele mesmo, que é um comediante em ascensão que se vê enredado em uma teia de obsessão, abuso e trauma. A série, com apenas sete episódios, tece uma narrativa crua e perturbadora, explorando os efeitos devastadores da solidão, do abuso sexual e do vício em drogas na mente e na alma de um indivíduo.

    Logo no início somos apresentados a Donny, um jovem talentoso e carismático, mas que luta para encontrar seu lugar no mundo. Sua solidão o torna vulnerável à atenção de Martha, uma mulher misteriosa e instável, que rapidamente se torna obcecada por ele. O relacionamento tóxico entre ambos se intensifica, levando Donny a um espiral de sofrimento e desespero. A solidão toma conta de Donny, o isolando cada vez mais do mundo exterior. Ele se torna refém da manipulação de Martha, incapaz de escapar de suas garras. 

    A série explora com maestria a fragilidade da psique humana diante da solidão, demonstrando como ela pode abrir portas para relacionamentos abusivos e comportamentos destrutivos.

    O abuso sexual e o vício em drogas se configuram como mecanismos de fuga para Donny, que busca, em vão, aliviar a dor e o vazio que o consomem. A série retrata com brutal honestidade os efeitos devastadores desses traumas, não apenas no corpo, mas também na mente e no espírito.

    Baby Reindeer não se limita a mostrar o lado sombrio da história, a série também oferece um vislumbre de esperança e redenção. Através da força interior e do apoio de amigos e familiares, Donny encontra forças para enfrentar seus traumas e reconstruir sua vida.

    Após maratonar a minissérie posso dizer que a mesma serve como um alerta poderoso sobre os perigos da solidão, do abuso sexual e do vício em drogas. É um lembrete de que a saúde mental deve ser valorizada e protegida e que a busca por ajuda nunca é vergonhosa.

    Com atuações excepcionais, uma trilha sonora envolvente e uma direção impecável, Baby Reindeer é uma obra de arte perturbadora, mas necessária. É uma série que te prende do início ao fim, te faz refletir e te convida a confrontar os fantasmas que assombram a alma humana.

    Nessas poucas linhas, é impossível capturar a complexidade e a profundidade de Baby Reindeer. Mas espero que esta resenha sirva como um convite para explorar essa obra poderosa e comovente, que te fará questionar os limites da resiliência humana.

    Claudio Wagner é professor, cientista da religião, historiador e poeta, autor do Livro Entre a Sombra da Razão e Razão da Sombra, CJA-2016.


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