Vantagem de 15,6% sobre o 2º colocado dá a impressão de uma campanha fácil para Carlos Eduardo (PSD), mas Paulinho Freire (União) e Natália Bonavides (PT) têm a seu favor a tendência de uma disputa intensa até 6 de outubro
Faltando treze semanas para o 1º turno das eleições municipais, a pré-campanha na capital potiguar parece apática. Mas sob a aparência modorrenta, prepara-se uma das disputas mais acirradas pela prefeitura de Natal desde 2004, quando Carlos Eduardo e Micarla de Sousa derrotaram Luiz Almir no 2ª turno por apenas 14 mil votos.
Como aferido pela pesquisa O Potengi / Ranking de 30 de junho, o líder está a cerca de 5% de alcançar a vitória no 1º turno, mas sua jornada não será fácil.
Desconsiderando os votos da Zona Norte, a vantagem de Carlos Eduardo para o segundo colocado na pesquisa, o deputado federal Paulinho Freire, despenca de 15% para 8%. A concentração dos votos em Carlos na Zona Norte é tal que para cada dois votos nesta região ele tem apenas um nas demais três zonas da cidade.
O efeito das chuvas
As fortes chuvas que antecederam o inverno no RN levaram ao transbordamento de quatro lagoas de captação em Natal, três delas na Zona Norte (Santarém, Panatis e Jardim Primavera) A excessão foi a lagoa São Conrado, em Nazaré.
Não à toa, é também na margem setentrional do rio Potengi que se concentra a desaprovação ao prefeito Álvaro Dias. Caso o prefeito queira melhorar seus índices, uma boa pedida é reforçar a atenção dada às obras de ampliação da capacidade de drenagem das lagoas, que já estão em curso.
Carlos no caminho do Brasil contemporâneo
O Brasil viveu importantes mudanças no comportamento dos eleitores a partir dos protestos de junho de 2013. Já no ano seguinte, a onda conservadora que ali nasceu quase elege Aécio Neves e derrota Dilma Rousseff (arrisco dizer que, se o 2º turno de 2014 ocorresse uma semana antes ou depois, Aécio sairia vitorioso).
Da derrota da direita em 2014, e da incapacidade desta em canalizar a crescente revolta popular, emergiu o bolsonarismo. Por seu lado, o lulismo – que é ancorado nos votos dos grotões e nos segmentos de menor renda e escolaridade – avançou em sua rendição ao discurso identitário que (tal qual o bolsonarismo) faz dos costumes sua pauta central.
Natal enfrenta há décadas graves problemas que ainda carecem de solução, e isso certamente estará na mente dos eleitores em outubro. Contudo, a força da polarização ideológica também se fará sentir, e com força.
Durante toda a campanha, à direita de Carlos estará Paulinho Freire, que busca atrair o bolsonarismo e reforçar sua liderança nos setores mais moderados da direita e do centro. À sua esquerda, Natália e sua militância, que hegemonizam a esquerda identitária da capital, um segmento que tem grande influência no debate público, sobretudo a partir das redes sociais.
À medida que a campanha ganhe corpo, esses dois campos (que praticamente dividem hoje o país ao meio) só terão um mercado a explorar, o centro, onde Carlos tenta se equilibrar e resistir.