por Angelo Girotto


O Potengi

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  • Prefeito Augusto Alves enfrenta pedido de impeachment por crime de responsabilidade

    Rombo nas contas da previdência dos servidores de Tangará já ultrapassa os R$ 9 milhões de reais; desviando os recursos que deveriam ser pagos ao fundo previdenciário, o prefeito interino augusto Alves está agora na iminência de perder o mandato

    O prefeito de Tangará, Augusto Alves, enfrenta agora um pedido de impeachment apresentado à Câmara de Vereadores da cidade sob a alegação de ter cometido crime de responsabilidade.

    Após assumir interinamente a prefeitura, sendo vice do ex-prefeito Dr. Airton (afastado do cargo pela Justiça devido a um processo de interdição levado a cabo por seu filho), Augusto Alves não teria realizado um único pagamento referente aos valores devidos à previdência dos servidores do município.

    “Estamos diante de uma situação alarmante. Se essa dívida não for sanada, os aposentados e pensionistas poderão ficar sem receber seus benefícios num futuro bem próximo”, afirmou Gilson Filho, presidente do sindicato dos servidores em Educação.

    Na última reunião dos conselhos Deliberativo e Fiscal do Tangará Prev, realizada em 24 de maio de 2024, foram discutidos os impactos da falta de repasse das contribuições previdenciárias.

    A ausência de ações concretas para sanar o déficit levou os conselheiros Luiz Carlos de Oliveira e Roberto Luiz da Silva Filho a protocolar um pedido de impeachment contra o prefeito interino.

    A acusação central é que a administração de Augusto Alves não tem realizado os repasses obrigatórios ao fundo de previdência (Tangará Prev).

    Essa prática ilegal resultou em um déficit alarmante que coloca em risco o pagamento dos benefícios dos servidores aposentados e pensionistas, ameacando centenas de famílias.

    O rombo no Tangará Prev já ultrapassa os R$ 9 milhões. Esse déficit significativo é atribuído à falta de repasses tanto na administração atual quanto na anterior, sem qualquer ação concreta de Augusto Alves para resolver o problema.

    Os conselheiros do Tangará Prev estão ainda organizando ações judiciais para pressionar a gestão de Augusto Alves a dar respostas sobre o uso indevido dos recursos previdenciários. Essa mobilização judicial destaca a gravidade da situação e a insatisfação com a atual gestão.

    Impeachment poderá ser votado ainda em julho

    A presidente da Câmara Municipal de Tangará, Ana Viana, conhecida na cidade como Ana de Ilo, tem agora o prazo de três dias para se pronunciar sobre a abertura do processo de cassação do mandato do prefeito interino Augusto Alves. A partir da abertura, Augusto terá até dez dias para apresentar suas alegações. Então o processo se iniciará na Câmara de Vereadores que designará uma comissão para conduzi-lo.

    Em Patu, essa prática está prestes a levar à perda do mandato do prefeito Rivelino Câmara, que enfrenta uma ação popular solicitando seu afastamento imediato por um rombo nas finanças do fundo de previdência que supera os R$ 3 milhões.

    Note-se que o rombo na previdência de Tangará é três superior ao da previdência de Patu. Augusto Alves, que se movimenta para disputar a eleição em outubro, poderá permanecer no cargo até lá.


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  • Júlio César usa cargo da prefeitura para cooptar Pastor presidente da Assembleia de Deus em Ceará-Mirim

    O prefeito Júlio César está usando de todas as armas disponíveis para tentar emplacar a candidatura de seu assessor, inclusive algumas bem questionáveis. A mais recente de suas medidas duvidosas foi usar a estrutura da prefeitura para intervir na posição dos religiosos da cidade nesta eleição.

    É o caso da nomeação do filho do  Pastor presidente  da Assembleia de Ceará-Mirim para um cargo na Controladoria Geral do Município.

    Wesley Kaillo Costa Sousa, que é filho do pastor Jairo Kaillo, passou a receber R$ 2.800 mensais.

    Fiéis com quem falamos questionam a atitude do pastor, alegando que a Igreja não foi consultada sobre o apoio ao prefeito e que não veem com bons olhos esse tipo de relação.


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  • Zona Norte decidirá futuro político de Carlos Eduardo

    Dádiva e calcanhar de Aquiles de Carlos, Zona Norte será o palco daquela que pode ser a última grande batalha eleitoral dele que foi quatro vezes prefeito da capital

    Os números da pesquisa O Potengi/Ranking divulgados nesta edição nos contam que o futuro do ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD) será decidido pelos cerca de 190 mil eleitores da Zona Norte de Natal.

    Líder em todas as sondagens até agora, Carlos confirmou sua posição ao obter 35,2% das intenções de voto na primeira rodada da série de pesquisas para Natal que o jornal O Potengi realiza em parceria com o instituto Ranking, do Mato Grosso do Sul.

    Zona Norte será decisiva

    Clama por atenção, nesta pesquisa, o expressivo contingente das intenções de voto declaradas a Carlos quem vem da Na Zona Norte de Natal, onde 48,9% dos entrevistados declararam ter a intenção de votar em Carlos Eduardo para prefeito no próximo dia 6 de outubro.

    Há nisso um importante paralelo com 2022, quando Carlos Eduardo enfrentou Rogério Marinho na disputa pelo Senado. Na ocasião, Carlos contava obter uma larga vantagem sobre Rogério na capital para sair vitorioso. Contudo, teve apenas 3.203 votos a mais que o oponente. Ou 0,82%.

    O percentual alcançado por Carlos em Natal, em 2022, foi de 37,19% (apenas dois pontos percentuais acima de seu atual patamar verificado na pesquisa para a prefeitura de Natal, que é de 35,2%). E as consistências entre a situação de Carlos em ambos os pleitos não acabam aí.

    Em 2022, os bairros das 1ª e 69ª zonas eleitorais (que abarcam toda a Zona Norte e os bairros das Rocas, de Santos Reis, da Ribeira, de Petrópolis, da Praia do Meio, de Areia Preta e de Mãe Luiza) responderam por 41,36% dos seus votos. Em 2024, sozinhos, os bairros da Zona Norte respondem por 50,57% das intenções de voto em Carlos!

    Se prova que a Zona Norte de Natal é o bastião do carlismo potiguar, essa concentração verificada pela pesquisa também evidencia que – em contrapartida – a base eleitoral de Carlos encolheu mais de 18% nas outras três zonas da cidade, enquanto se manteve no mesmo patamar se consideradas as quatro regiões.

    Isso é o que dizem os números, mas há ainda outros fatos relevantes que merecem atenção especial ao se tentar analisar a viabilidade eleitoral de Carlos Eduardo nesta eleição municipal.

    A ilusão das pesquisas

    Entre agosto e setembro de 2022, dez das onze pesquisas para o Senado divulgadas no RN davam a vitória para Carlos Eduardo. Nas duas últimas, a vantagem ficou em 8% e 6%, respectivamente.

    O que teria acontecido no mundo invisível da realidade que as pesquisas não captaram? Sem entrar no mérito das limitações que as configurações geográfica e demográfica do RN impõem a pesquisas em nível estadual, arrisco apontar dois fatores que determinaram a derrota de Carlos em 2022 e podem selar seu destino em 2024.

    A força dos prefeitos…

    Muito se falou no impacto corrosivo da declaração do então pré-candidato ao Senado Carlos Eduardo quando disse que os prefeitos do RN estavam com os cofres cheios (e estava errado?). Mas me parece que o fator mais nocivo para Carlos a decorrer da inábil declaração foi um dano colateral.

    Quando se está flertando, o objeto do desejo goza de elogios irrestritos e mimos incontáveis. Mas, uma vez conquistado, muitas vezes sua realidade muda. Fátima operou um cortejo suntuoso para atrair Carlos Eduardo para sua chapa, desarticulando definitivamente a oposição, que esperou demais por Ezequiel Ferreira e Álvaro Dias.

    Uma vez tendo debaixo das asas a liderança que por pouco não a derrota em 2018, Fátima pôde triunfar em sua estratégia brilhante de vencer uma eleição sem disputa. O preço foi o sacrifício da vaga no Senado. E é aí que entra o dano colateral da declaração de Carlos sobre os prefeitos: para levar a cabo o acordo tácito que redundaria na chapa Farinho (Fátima + Marinho) era preciso uma justificativa que permitisse à governadora excluir Carlos dos palanques municipais, nos quais Rogério habilmente se enraizara.

    Carlos partiu para o campo sangrento da luta por votos sem generais nem coronéis; eles estavam todos com Fátima, mas também com Rogério.

    E Carlos parece seguir a mesma trilha em 2024.

    Com apenas um vereador em sua base, e postulando um quinto mandato como prefeito de Natal, ele está praticamente só.

    Apostar na espontaneidade do voto é subestimar fatalmente a importância das redes humanas que formam a decisão final do eleitor.

    A falta de comando e de cavalaria levou à desidratação da campanha de Carlos em 2022. Nada indica que o problema tenha sido superado.

    … e também a dos vereadores

    Não temo afirmar que esta será a eleição mais acirrada da história da Câmara de Vereadores de Natal nesta Nova República.

    As novas regras eleitorais tendem à concentração dos votos em um número menor de candidatos.

    O atual modelo de financiamento das campanhas, baseado em fundos partidário e eleitoral turbinados, reforça o papel dos partidos e, consequentemente, de seus dirigentes.

    É no mínimo temeroso considerar viável entrar em campo sem ter o time completo. Carlos errou ao subestimar a força dos prefeitos. E erra novamente ao repetir o julgamento em relação aos vereadores.

    São os postulantes à vereança aqueles que mais têm a perder nesta eleição. E mais que qualquer outro ator do jogo eleitoral das cidades, são eles que também detêm vínculos mais amplos e mais sólidos com as bases eleitorais. Dos mais de 300 prováveis candidatos a uma cadeira na Câmara de Natal, Carlos não contará com os 40 de praxe. E dentre os já poucos, raros são os que possuem liderança efetiva. A chapa do PSD deverá apenas uma vaga.

    Se Carlos tem uma pedra no meio do seu caminho, é esta. A carência de bases políticas e de apoio de lideranças importantes é o ponto mais frágil de seu projeto – mais até que a escassez de recursos que já se faz sentir.

    Coerência para quê?

    No mundo da política profissional, não devia haver quem realmente leve a sério as objeções a mudanças de posição política. Como disse certa feita o ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti, “quem tem ideia fixa é doido”. Mas para os eleitores leigos, a parada é outra.

    Carlos desfruta de uma reputação pública de bom gestor, em grande parte construída pela comparação entre suas administrações e os quatro anos da gestão de Micarla de Sousa, que foi sua vice e depois o sucedeu na prefeitura e depois foi por ele sucedida. Os quatro anos do interregno de Micarla, para a sorte de Carlos, situaram-se exatamente no meio do período de 14 anos nos quais ele governou a cidade.

    Contudo, em 2022 ocorreu que ele disputava uma eleição parlamentar, na qual as habilidades de gerenciamento do cotidiano costumam ter menor relevância (reparem sobre isso no exato oposto de Carlos, Natália Bonavides, uma parlamentar com sólidas bases eleitorais que contudo patina ao tentar cativar o eleitor para concorrer a um posto no executivo).

    E ocorreu ainda que 2022 reafirmou a polarização ideológica que marca a política brasileira contemporânea.

    Se de um lado da disputa Rogério Marinho possuía clara identificação com o eleitorado bolsonarista, do outro Carlos foi visto com desconfiança – ou no mínimo aceito com pouco entusiasmo – pelos lulistas. Faltou-lhe emoção em 2022. E de onde virá a mudança em prol de Carlos nesta eleição?

    É fato que Carlos tem se renovado nesta pré-campanha. Saiu da zona de conforto do PDT, onde reinava, e buscou guarida junto a Zenaide Maia e Jaime Calado, no PSD. Partiu para o ataque contra “os planos hegemonistas do PT”, de olho em estancar a sangria dos votos de direita que migram para Paulinho Freire.

    É fato também que a imagem de gestor eficiente das tarefas do município ainda é o maior patrimônio eleitoral de Carlos, é ela quem o sustenta à frente das pesquisas.

    Contudo, entre a falta de uma base de apoio político efetiva e o vazio discursivo, bastara a Carlos Eduardo se apegar à imagem de bom síndico? Torcerá pra que a campanha demore a ganhar as ruas e que os grandes temas da política nacional lhe passem ao largo?

    Não resistindo ao cacoete do presidente Lula, também ele com desaprovação em alta pela terra de Câmara Cascudo, apelemos a uma analogia futebolística: seguirá Carlos Eduardo o exemplo do Botafogo de 2023 ou conseguirá, no sacrifício, manter seu atual desempenho até o fim do campeonato, mesmo com elenco desfalcado e o moral da torcida em baixa? Questões que seguirão abertas ao menos até o fim de agosto.

    Mas, analisando os números frios e as letras quentes, uma coisa é certa: se perder a Zona Norte, Carlos Eduardo perde a eleição.


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  • Natália quer Milklei Leite, do PV, como vice, mas vereador recusa

    A pré-candidata à prefeita de Natal pelo PT, Nátalia Bonavides, já tem seu favorito para ocupar a posição de vice na chapa que irá às urnas em 6 de outubro. O nome escolhido pela deputada é o do vereador pelo PV Milklei Leite.

    Pesa a favor do vereador sobretudo sua forte inserção no eleitorado da Zona Norte da capital, onde Natália tem seu pior desempenho nas pesquisas. Natália já vem há muito comentando com petistas que este será um critério decisivo na escolha. Mas também favorece Milklei o fato de que, saindo à majoritária, ele vai liberar uma vaga na chapa proporcional da federação que conta com PT/PV/PCdoB.

    A federação liderada pelo PT deverá eleger quatro vereadores e conta atualmente com cinco mandatários: Brisa Bracchi e Daniel Valença, do PT; Milklei Leite e Herberth Senna, do PV; e Júlia Arruda, do PCdoB.

    Além dos cinco vereadores, disputarão a eleição pela chapa de Natália outros nomes fortes. Janaína Lima terá o apoio de Divaneide Basílio e Mineiro; Samanda Alves conta com toda a estrutura da governadora Fátima Bezerra a seu favor. Isso sem contar com a possibilidade de aparecer um azarão. Aline Juliete seria nossa aposta. Dito isso, ajuda muito tirar um mandatário da mesa na qual há pouca farinha pra muitas bocas.

    Contudo, entretanto, porém…

    Ocorre que na campanha de Natália há muitas pedras no meio do caminho. E essa pedra, no caso particular do desejo de ter Milklei como vice na chapa, parece ser a desconfiança generalizada de que sua candidatura não vingou e não vingará.

    Pois ocorre que, ao que sabemos, o vereador do PV declinou do convite. Prefere a dura disputa pela reeleição que a ingrata esperança de ver Natália eleita. Em vez de ocupar a vice, Milklei trabalha para que o indicado seja o ex-vereador Professor Luís Carlos, do MDB. Assim, Milklei sonha em contar com um importante reforço em suas para sobreviver à chapa da morte na eleição para a Câmara Municipal de Natal em 2024.

    Enquanto isso, seguem Natália e Carlos Eduardo sem um vice pra chamar de seu.


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  • Uma aula improvisada com o professor Cassiano Arruda Câmara

    por Girotto

    Por que danado um sujeito respeitado e admirado por todos em seu meio, ícone de toda uma geração de jornalistas, mestre e referência de tantos ex-alunos e excelente em tudo o que fez, por que danado um cara desses resolve aos 64 anos fundar um jornal diário?

    “Eu precisava saber como é dono de jornal”, diz Cassiano Arruda Câmara. “Já fiz de tudo no jornalismo e na propaganda. Fui redator, repórter de rua, editor, professor. Fiz programa de televisão, de rádio. Até hoje faço. Só não fui ator.E ainda não tinha sido dono de jornal. Faltava essa experiência de ter um jornal. E fiz.”

    No dia 27 de outubro de 2017, saía às ruas a edição de número 2.469 do Novo Jornal, fundado por Cassiano Arruda em 17 de novembro de 2009. A manchete daquela sexta-feira seria a última do jornal sob o comando do mestre Cassiano: “Para MPF, Henrique tenta ocultar bens e valores de propina”. Antes dos afetos, o velho repórter sempre pôs a notícia.

    Cassiano aos 63 anos: “Faltava ser dono de jornal.” Foto: acervo pessoal.

    “Realizei o sonho. E sou muito grato por isso, muito feliz. Nós pegamos a transição do jornal impresso para o online. Minha vontade, meu desejo à época era fazer o impresso, sentir o cheiro do papel pela manhã”, diz Cassiano. “Mas as coisas mudam. Mudaram quando Johann Gutenberg criou a prensa, imagino o que foi na vida de quem trabalhava com caligrafia. Então não tem do que reclamar. Fizemos o jornal por oito anos e foi uma experiência que me marcou.”

    Quando fundou seu jornal, Cassiano era professor do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em sua sala de aula, embasbacado pela novidade, este aspirante a repórter via o exemplo do professor e começava a alimentar devaneios duradouros.

    O jornal do professor Cassiano durou pouco? Muitos sucumbiram ao surgimento das redes online. De jornais a políticos e empresas. O fato inegável é que o Novo, sob a liderança de Cassiano, foi um ar fresco, uma renovação no combalido jornalismo potiguar. Valeu para ele, que realizava o sonho de ser “dono de jornal”. Valeu também para minha geração que, talvez no ocaso de uma tradição (o jornalismo impresso), pôde sentir o aroma das grandes reportagens que não voltaríamos a ver por aqui.

    “A melhor coisa que fiz foi ensinar”, diz. “Era professor de 20 horas. E vivia tendo greves, com aquela inflação do Sarney, não tinha como segurar o salário. Mas falei com meus alunos e disse que a gente estava só perdendo, porque não havia reposição de aula coisa nenhuma. Eu queria dar aula.”

    Foram 31 anos como professor do curso de Comunicação Social da UFRN. Cassiano marcou com suas lições 62 turmas de estudantes e parece ter uma memória prodigiosa, lembra os nomes e rostos de grande parte deles.

    Sentado ali diante da mesa onde, de segunda a sexta, escreve sua coluna e transmite ao vivo um programa de rádio, logo o mestre inverte o jogo e começa ele a entrevistar. Não sei bem se é curiosidade por um ex-aluno ou apenas alguma modéstia desnecessária de não querer falar de si.

    “Você precisa encontrar seu público, ser relevante para ele”, aconselha. Segue sendo professor, ele que foi aluno da primeira turma de jornalismo do Rio Grande do Norte, na Faculdade Eloy de Souza.

    “Ali uma geração inteira de jornalistas experientes teve seu primeiro contato com a academia. Muitos deles acabariam seguindo a docência”, conta. Era 1963. Um ano mais tarde, o golpe militar de 31 de março instauraria a ditadura que cassou, em 1969, o governador, amigo e também patrão Aluízio Alves.

    “Um grande homem e um governador gigante. Pra você ter uma ideia do que foi o governo de Aluízio… Sabe qual foi o primeiro escândalo da gestão dele? Saiu na capa do Correio do Povo, do Dinarte Mariz: ‘Governador instala ar-condicionado no gabinete’. Era o que tinham para atacá-lo.”

    “Fui criado pra ser político”, diz. “Meu pai me mandou pra Salvador estudar, mas enrolei ele. E quando voltei, fui trabalhar na agência de Fernando Luiz da Câmara Cascudo, que trazia pra Natal nossa primeira agência moderna, como conhecemos hoje.”

    Aos 6 anos discursou em Santa Cruz no palanque do futuro governador Dix-Sept Rosado: “Fui criado pra ser político”. Foto: acervo pessoal.

    “Tudo estava por fazer.” Assim Cassiano descreve o clima na imprensa potiguar e brasileira dos anos 1960, quando começou na profissão sendo “o que sempre fui, um repórter que corre atrás”.

    “O pessoal chegava pra mim e dizia ‘você escreve muito bem’. Eu ficava rindo e tentava explicar pra eles. Hoje seria até mais difícil entenderem, porque acabou a figura do copydesk. Mas ali na Tribuna quem revisava meus textos e passava a caneta eram caras como Berilo Wanderley, Sanderson Negreiros, Newton Navarro, Luiz Carlos Guimarães. Aí o texto ficava ótimo, né”, diz, se divertindo muito com a história.

    “Sempre fui de direita. Mas de uma direita inteligente, julgo. No RN não havia isso à época. Hoje existe”, diz Cassiano que não poupa nem a Operação Lava-Jato: “A ditadura do judiciário foi tão ruim quanto a outra”.

    Neste ano, Cassiano lançou seu terceiro livro, reunindo 50 anos de reportagens. A edição estava pronta para ser lançada em 2020, mas acabou ficando num galpão devido à pandemia. Neste período, o mestre enfrentou um câncer e contou o apoio da Liga Contra o Câncer. Passadas as duas lutas, Cassiano doou os 1.300 exemplares para a Liga, que foram lançados em evento concorrido no mês de março.

    A hora avança sem sinais, o mestre começa a preparar o fim da aula.

    “Aprendi a desconfiar de tudo”, diz, justificando porque não publica releases de assessorias de imprensa que não lhe interessem e nunca sem antes ir atrás de saber da história direito. “Não vou entregar minha credibilidade a um fulano porque ele recebe um troco de alguém.”

    Aos 80 anos, o mestre segue ativo e rigoroso no trabalho. “É uma atitude de vida”, diz. E a conversa, para desgosto do aluno, terá que acabar. “Tenho compromisso de fechar jornal. Tenho que buscar notícias.”

    Saio da sala de aula cheio de sonhos malucos na cabeça. Coisa de quem se ilude estar à altura dos mestres. Dali a 20 minutos, Cassiano Arruda Câmara entrará ao vivo na rádio, com sua voz já marcada mas de um timbre genuinamente cativante. Corri pra casa ouvir a transmissão pela internet mesmo. O que será que tiraria da cartola em menos de 20 minutos, já que lhe tomei toda a manhã?


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