A Justiça Federal determinou a suspensão imediata das obras do projeto de urbanização na Praia de Tourinhos, em São Miguel do Gostoso, no litoral Norte potiguar, e a retirada dos barraqueiros que trabalham de forma irregular no trecho. A decisão, anunciada nesta terça-feira (14), atende a um pedido do Ministério Público Federal do RN (MPF).
Segundo o MPF, o projeto – que prevê a criação de dez quiosques – estava sendo executado sem o aval dos órgãos ambientais. A decisão também exige que o Município intensifique a fiscalização na área.
Obras Sem Licenças Ambientais
O MPF apontou que a elaboração e a execução do empreendimento ocorreram sem o devido licenciamento ambiental do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do estado (Idema) e sem autorização da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), uma vez que a área é de interesse federal. Em resposta, a prefeitura de São Miguel do Gostoso negou que as obras fossem irregulares, mas afirmou que cumprirá a decisão judicial e retomará as obras após obter as devidas licenças ambientais.
Detalhes das Licenças Ambientais
A prefeitura informou que havia solicitado as licenças necessárias ao Idema, que inicialmente concedeu uma Dispensa de Licença apenas para a retirada das barracas. Contudo, ao tomar conhecimento de que a obra incluía serviços de esgotamento sanitário, o Idema cancelou a dispensa e instruiu o município a solicitar uma Licença Simplificada. Além disso, a construção de um terminal de turismo, não previsto inicialmente, também necessita dessa nova licença.
Risco de Danos ao Meio Ambiente
A decisão judicial destacou que a ocupação da área pelos barraqueiros, “sem a adoção das necessárias cautelas ambientais, é causa de sérios danos ao meio ambiente, por estar situada em área de zona costeira”. A construção da orla sem o devido licenciamento ambiental foi considerada uma “causa permanente de dano ao frágil ecossistema”.
A medida cautelar foi concedida devido ao entendimento do juiz de que havia perigo de dano em caso de demora na resolução do caso. O MPF relatou que fez “inúmeras tentativas de resolução” da situação por vias extrajudiciais, mas sem sucesso.
Impacto Ambiental e Proteção das Tartarugas
O MPF destacou que nos últimos 14 anos, danos ambientais têm sido causados na área devido à retirada da vegetação de restinga pelo Município. Em 2010, a prefeitura construiu três quiosques no local, suprimindo a vegetação da área de preservação permanente. Além disso, a praia é um local de reprodução de uma espécie de tartarugas marinhas em perigo de extinção. Recentemente, o MPF entrou com uma ação para coibir e proibir o trânsito de veículos na região para proteger as tartarugas.
Questão Ambiental e Social
A urbanização da orla também tem uma dimensão social, pois a retirada dos quiosques afeta diretamente 12 famílias que dependem das barracas de praia para sua subsistência. O MPF enfatizou a necessidade de alinhar os interesses de recuperação ambiental com a questão social envolvida.
A prefeitura informou que os recursos para a urbanização estão na conta da administração municipal, aguardando a resolução do mérito e a liberação dos órgãos competentes.
Conclusão
A decisão judicial representa um passo importante na proteção ambiental da Praia de Tourinhos, mas também coloca em evidência a necessidade de soluções que conciliem a preservação do meio ambiente com os interesses das famílias que dependem da atividade econômica na região. A prefeitura de São Miguel do Gostoso agora enfrenta o desafio de obter as licenças necessárias e garantir que o projeto de urbanização possa prosseguir de forma sustentável e legal.