Qual o próximo capitalismo?

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Professor e psicanalista, doutor em Ciências Sociais.

Examina a política internacional e suas implicações para a economia, a cultura e as relações de poder.

O pânico segue nos mercados com o anúncio do tarifaço de Donald Trump chegando em sua primeira segunda-feira. No mundo inteiro, bolsas derreteram. Chefes de Estado e de Governo por aí afora trabalham para minimizar os impactos dessa medida; alguns para confrontá-la, planejando ou já anunciando retaliação. A crise que se abateu sobre o mercado global lembrou a pandemia e os crashes do passado. Desta vez, teve uma raiz política, um ato deliberado.

O capitalismo vai sobreviver a isso tudo, é certo. A questão é: que capitalismo? Partindo da premissa de que o presidente dos Estados Unidos não fez o que fez não por ser contra a economia de mercado, mas por ser contra um certo tipo de economia de mercado, podemos então inferir que há outros no varejo. Qual deles parece ser o objetivo de Trump? E qual deveria ser o nosso?

O efeito maior dessas medidas parece ser o abandono dos Estados Unidos de sua posição como polícia do mundo, como força hegemônica inconteste, uma hegemonia calcada no multilateralismo e que sustentou muitos déficits comerciais mundo afora para manter laços estratégicos. Seu presidente, contudo, demonstra não ter interesse em manter esse papel. Há quem diga que “Trump passa”, e em quatro anos voltará um quadro político de sempre. A questão é: em quatro anos, muita água passa por baixo de uma ponte. Nem sempre é possível desfazer as medidas de um presidente fora da curva. Pode ser possível em um país menor, na dinâmica interna, mas as peças do tabuleiro global não retroagem no tempo ao sabor dos calendários eleitorais.

Os Estados Unidos irão, então, se tornar um país qualquer no mapa-múndi? Improvável. Na “nova ordem” que se apregoa por aí, eles parecem apenas dar um recuo estratégico em sua política imperial para reforçar a hegemonia dentro de uma certa zona, que ainda não está clara qual seria. Nessa diplomacia das grandes potências, China, Rússia e Estados Unidos parecem aceitar uma paz de curto e médio prazo, para que todo mundo se prepare para um conflito (comercial? diplomático? bélico?) no futuro.

Enquanto isso, o Brasil corre para fechar o acordo entre União Europeia e Mercosul. Tudo bem, dá um respiro vermos o fim de uma negociação que já dura décadas, mas… parece também que esse acordo chega tarde demais. A Europa hoje sequer é convidada para as grandes discussões sobre seu próprio futuro (a exemplo da Guerra da Ucrânia). Economicamente, já convivem com baixo crescimento e não é exagero dizer que caminham a passos largos para recessões, com o endividamento que deve vir junto com a promessa de rearmamento nessa neura antirrussa que estão vivendo.

O fato é que europeus estão correndo atrás do prejuízo. O cenário, apesar de conflituoso, poderia ser positivo para o Brasil, política e economicamente, seja na relação com a Europa, seja via BRICS, seja na América do Sul onde sempre fomos respeitados como liderança regional. Mas aqui, sequer corremos atrás do prejuízo; continuamos ampliando-o ainda mais. Aplicando políticas de austeridade na contramão de um mundo que caminha para impulsos ao desenvolvimento, parecemos estar dirigindo com o olhar no retrovisor. Num mundo em que o jogo é protagonizado por lideranças fortes (Trump, Putin, Xi Jinping, Erdogan, Netanyahu, Bin Salman), no Brasil os atores políticos parecem aceitar que nesse jogo nós não podemos entrar.



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Professor e psicanalista, doutor em Ciências Sociais.

Examina a política internacional e suas implicações para a economia, a cultura e as relações de poder.

O pânico segue nos mercados com o anúncio do tarifaço de Donald Trump chegando em sua primeira segunda-feira. No mundo inteiro, bolsas derreteram. Chefes de Estado e de Governo por aí afora trabalham para minimizar os impactos dessa medida; alguns para confrontá-la, planejando ou já anunciando retaliação. A crise que se abateu sobre o mercado global lembrou a pandemia e os crashes do passado. Desta vez, teve uma raiz política, um ato deliberado.

O capitalismo vai sobreviver a isso tudo, é certo. A questão é: que capitalismo? Partindo da premissa de que o presidente dos Estados Unidos não fez o que fez não por ser contra a economia de mercado, mas por ser contra um certo tipo de economia de mercado, podemos então inferir que há outros no varejo. Qual deles parece ser o objetivo de Trump? E qual deveria ser o nosso?

O efeito maior dessas medidas parece ser o abandono dos Estados Unidos de sua posição como polícia do mundo, como força hegemônica inconteste, uma hegemonia calcada no multilateralismo e que sustentou muitos déficits comerciais mundo afora para manter laços estratégicos. Seu presidente, contudo, demonstra não ter interesse em manter esse papel. Há quem diga que “Trump passa”, e em quatro anos voltará um quadro político de sempre. A questão é: em quatro anos, muita água passa por baixo de uma ponte. Nem sempre é possível desfazer as medidas de um presidente fora da curva. Pode ser possível em um país menor, na dinâmica interna, mas as peças do tabuleiro global não retroagem no tempo ao sabor dos calendários eleitorais.

Os Estados Unidos irão, então, se tornar um país qualquer no mapa-múndi? Improvável. Na “nova ordem” que se apregoa por aí, eles parecem apenas dar um recuo estratégico em sua política imperial para reforçar a hegemonia dentro de uma certa zona, que ainda não está clara qual seria. Nessa diplomacia das grandes potências, China, Rússia e Estados Unidos parecem aceitar uma paz de curto e médio prazo, para que todo mundo se prepare para um conflito (comercial? diplomático? bélico?) no futuro.

Enquanto isso, o Brasil corre para fechar o acordo entre União Europeia e Mercosul. Tudo bem, dá um respiro vermos o fim de uma negociação que já dura décadas, mas… parece também que esse acordo chega tarde demais. A Europa hoje sequer é convidada para as grandes discussões sobre seu próprio futuro (a exemplo da Guerra da Ucrânia). Economicamente, já convivem com baixo crescimento e não é exagero dizer que caminham a passos largos para recessões, com o endividamento que deve vir junto com a promessa de rearmamento nessa neura antirrussa que estão vivendo.

O fato é que europeus estão correndo atrás do prejuízo. O cenário, apesar de conflituoso, poderia ser positivo para o Brasil, política e economicamente, seja na relação com a Europa, seja via BRICS, seja na América do Sul onde sempre fomos respeitados como liderança regional. Mas aqui, sequer corremos atrás do prejuízo; continuamos ampliando-o ainda mais. Aplicando políticas de austeridade na contramão de um mundo que caminha para impulsos ao desenvolvimento, parecemos estar dirigindo com o olhar no retrovisor. Num mundo em que o jogo é protagonizado por lideranças fortes (Trump, Putin, Xi Jinping, Erdogan, Netanyahu, Bin Salman), no Brasil os atores políticos parecem aceitar que nesse jogo nós não podemos entrar.


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