Uma investigação da Polícia Federal e do Ministério Público revelou que máfias italianas, como a Cosa Nostra e a ‘Ndrangheta, têm usado o Rio Grande do Norte para lavar dinheiro oriundo do tráfico de drogas e outros crimes. O esquema criminoso envolve a compra de imóveis, restaurantes e empresas de fachada para ocultar os recursos ilícitos, conforme apontou reportagem publicada neste domingo (23) pelo jornal O Globo.
As investigações avançaram significativamente após a delação do mafioso italiano Vincenzo Pasquino, preso no Brasil em 2021 e extraditado no ano passado. Ele detalhou as conexões entre a máfia italiana e facções criminosas brasileiras, além da utilização de corretores de imóveis e políticos locais para viabilizar os negócios ilícitos.
Um dos casos mais emblemáticos do esquema envolve Giuseppe Calvaruso, apontado como “tesoureiro” da Cosa Nostra, que movimentou cerca de R$ 300 milhões por meio da compra de apartamentos, flats, loteamentos, além de pizzarias e cafeterias em Natal e João Pessoa. Entre as empresas utilizadas para disfarçar as operações está a “América Latina Hemisfério Investimentos Imobiliários”, cujo capital declarado é de R$ 100 milhões.
De acordo com a investigação, os mafiosos adotavam táticas para evitar suspeitas. Enquanto gerenciavam milhões de reais em transações fraudulentas, levavam vidas discretas. Um exemplo é Giuseppe Bruno, que, apesar de seu envolvimento com o esquema, morava de aluguel em um bairro periférico de Natal, dirigia um carro popular e almoçava em restaurantes baratos. Essa estratégia segue uma tradição da Cosa Nostra: evitar ostentações e manter um perfil discreto para não atrair a atenção das autoridades.
Laranjas
A investigação revelou que Bruno utilizava Sara da Silva Barros, uma mulher sem antecedentes criminais, como sua principal laranja. Conversas obtidas pela polícia mostram que Bruno e Calvaruso usaram o nome dela para abrir a pizzaria e cafeteria Italy’s, localizada na orla de Natal. Os planos para o negócio eram ambiciosos, com expectativa de faturamento de R$ 150 mil por mês, mas a pizzaria acabou fechando as portas pouco tempo depois.
Em abril de 2022, Sara Barros registrou um boletim de ocorrência contra Bruno, acusando-o de agressões físicas e psicológicas. No depoimento, admitiu ser laranja do italiano.
Outro personagem investigado é Anselmo Limeira de Oliveira, ex-assessor parlamentar da Câmara Municipal de João Pessoa, acusado de intermediar compras de imóveis e fornecer documentos falsos para mafiosos.
A escolha do Nordeste brasileiro, e especificamente do Rio Grande do Norte, como base para a máfia italiana não foi por acaso. A região oferece menor fiscalização e facilita a movimentação de dinheiro ilícito. Diante dessa nova ameaça, o Ministério da Justiça estuda a criação de um “código antimáfia”, com o objetivo de reforçar o combate ao crime organizado internacional no Brasil.