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Olá, queridos! Como vão?
Sabe quando você escuta a mesma coisa por várias vezes até que um dia aquilo te leva a uma interpretação totalmente diferente da que você sempre teve?
Essa semana eu escutei algo que fez isso comigo. Um conceito que eu sempre entendi de uma forma e que, depois dessa conversa, eu fui levada pelos meus pensamentos para um caminho distinto.
Eu estava tendo uma conversa sobre música. Mais precisamente sobre minha mania de atacar de cantora de vez em quando (não lembro se já falei sobre isso aqui, mas em outra oportunidade falo mais), e fui explicar algo que acontecia e que, para mim, era comum a qualquer pessoa:
— Sabe quando você fala e sente suas cordas vocais vibrando da mesma forma quando você vai cantar “pela garganta”? Tipo quando não associa com a respiração?
— Olha, eu posso até dizer que imagino. Você pode tentar me descrever o que sente, mas a verdade é que eu não tenho como saber como você sente. Cada organismo funciona de um jeito. Eu nunca vou saber exatamente o que você sente e você nunca vai saber exatamente o que eu sinto.
É algo tão simples e tão óbvio que a gente, às vezes, nem se dá conta de quantas camadas de interpretações existem numa simples frase. Na hora eu entendi o que ele quis dizer e a conversa seguiu.
Mas, depois eu fiquei pensando. Pensando além das diferenças que compõem, física e biologicamente um organismo humano. Apesar de serem músculos com os mesmos nomes (nomes até bem interessantes que aprendi como cricotireóideo, tireoaritenóideo e outros), cada um deles vai vibrar, funcionar e ser sentido de uma maneira diferente na garganta em que habita.
Eu tive algo como muito certo, a vida toda, que foi a ideia de se colocar no lugar do outro para tentar entender o que ele sente e praticar a empatia. Mesmo sabendo que não vamos entender até que passemos pela mesma experiência.
Eu continuo acreditando na empatia. Continuo crendo, e tentando sempre, praticar esse exercício de imaginar como o outro se sente. Mas quem me garante que, mesmo passando pela mesma situação, eu vou sentir o mesmo que a outra pessoa?
Vamos trazer para um exemplo mais fácil de imaginar. Duas pessoas frente a uma obra de arte daquelas bastante expressivas, que seja clara quanto a sua mensagem, tanto pelo que expõe quanto pela declaração do próprio autor sobre ela. Como, por exemplo, a tela “Guernica” de Pablo Picasso.
(Pausa para vocês irem ao google conhecerem ou relembrarem dela)
Por mais impactante e clara que ela seja em seu propósito, quem me garante que todo mundo que a vê, sente a mesma coisa? Eu, por exemplo, além da tristeza pela história que ela carrega, sinto uma doce nostalgia porque ela me transporta direto para minhas adoradas aulas de história do ensino médio. Sim, eu era nerd, ainda sou um pouco, na verdade.
Dois sentimentos que, normalmente, não fariam sentido juntos. Tristeza e nostalgia. Mas que no meu contexto, no meu íntimo, faz muito sentido.
Acontece que para quem viveu o horror da tragédia que aquele quadro retrata, poderia ser até ofensivo eu dizer que sinto algo de bom ao vê-lo.
E é nesse ponto, nesse questionamento interno que quero cutucar vocês hoje. Como eu vou entender, de verdade, que cada pessoa sente uma coisa, que cada sentimento manifestado é válido, se eu não olhar primeiro para como eu me sinto sem comparar com o que o outro sente?
Entendam, não estou querendo dissuadir ninguém da prática da empatia que eu mesma defendi nesse mesmo texto. Estou tentando mostrar apenas que, para entender o outro, eu preciso me entender primeiro.
É preciso olhar para cada sentimento que eu tenho para saber qual é real, qual é meu, qual eu estou reproduzindo pelo meio que vivo, que fui criada, no qual quero ser aceita.
Pode parecer estranho sentir algo totalmente diferente do que as pessoas que nos criaram, das pessoas com quem convivemos. Mas, mais estranho ainda é acreditar que só existe uma única forma de sentir ou pensar, mesmo em meio a pessoas ditas iguais.
Gosto muito de uma frase que diz: “Cada cabeça é seu mundo”. E é a mais pura verdade. Só que eu preciso conhecer meu mundo antes de achar que conheço o mundo dos outros. Eu preciso saber onde estou pisando no meu próprio universo, antes de explorar por aí.
É preciso olhar com atenção e acolhimento para tudo aquilo que sentimos, independente do que seja, para conhecer quem somos, para entender como funcionamos. Sem antes comparar com o que o outro sente. Sem achar que devemos sentir isso ou aquilo porque os seus sentem assim.
Conhecer aquilo que se passa, genuinamente, dentro de nós e só depois disso poderemos arriscar dizer “Eu posso tentar imaginar o que você está sentindo”.
Seja a vibração da sua corda vocal, seja uma dor ou uma alegria, sinta. Apenas sinta. Conheça. Familiarize-se. Chame esse sentimento para tomar um café e conversar se for preciso.
O importante é olhar para si, pois além de te levar várias casas para frente no tabuleiro do autoconhecimento, você adquire uma lente para ver um mundo totalmente novo, diferente e mais humano.
Até a próxima!
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