Em um relato impressionante, um dos seis trabalhadores resgatados em condições análogas às de escravidão na Fazenda Lakanka, arrendada pelo cantor Leonardo, descreveu as condições desumanas que enfrentou durante seu tempo no alojamento. Em novembro de 2023, durante uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, o trabalhador revelou: “A casa é muito ruim e está cheirando muito mal. Há muito morcego no alojamento. As formigas e cupins andam por cima dos empregados enquanto estão deitados. Já vi escorpião e lacraia dentro do alojamento e tenho medo de sair à noite, devido à presença de muitos animais.”
O alojamento, uma casa abandonada, não oferecia camas ou banheiro e estava infestado de morcegos e fezes. O trabalhador descreveu como os morcegos dominavam o espaço e a constante presença de escorpiões e cobras tornava a situação ainda mais aterrorizante. “Nós usávamos árvores próximas para urinar e defecar, porque o banheiro estava inoperante,” ele relatou, enfatizando a falta de higiene.
Os trabalhadores, que se dedicavam a catar raízes para preparar o solo, enfrentavam uma rotina extenuante, trabalhando das 7h às 17h, com apenas uma hora de almoço. O pagamento era de R$ 150 por dia, mas a falta de segurança e benefícios trabalhistas tornava essa remuneração quase insignificante. O depoimento detalhou ainda que, em muitos dias, eles eram obrigados a trabalhar aos domingos sem descanso semanal, apenas para garantir alguma forma de sustento.
Como não havia chuveiros ou qualquer local para tomar banho, os empregados improvisaram uma mangueira preta amarrada à estrutura de madeira e foi ligada a uma bomba de água dentro de um poço. Segundo o relatório, os empregados tomavam choques ao acionarem o disjuntor após o banho para desligar a bomba, quando ainda estavam molhados.
“Eu apresentava sintomas como dor no corpo e na cabeça, tosse, olhos inchados, e fui medicado pelo gerente,” relatou o trabalhador, ilustrando o impacto físico e psicológico das condições de trabalho. A fiscalização revelou que eles não tinham contratos registrados e, portanto, não contavam com qualquer proteção trabalhista ou acesso a benefícios.
A situação dos trabalhadores resgatados só veio à tona na última segunda-feira (7), depois que o ministério incluiu o cantor Leonardo na “lista suja” de empregadores que já submeteram funcionários a trabalho escravo. O artista pagou R$ 94 mil em multas e R$ 225 mil de indenização aos resgatados. Em abril deste ano, o processo foi arquivado.
O caso se tornou público após o nome de Leonardo ser incluído na “lista suja” do Ministério do Trabalho, que identifica empregadores que submeteram trabalhadores a condições análogas à escravidão. O cantor afirmou não ter conhecimento das condições em que os funcionários viviam, defendendo-se de que a fazenda estava arrendada e que a responsabilidade cabia ao arrendatário.
Segundo a defesa do cantor, quando o Ministério Público do Trabalho se manifestou, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi firmado, e “todos os problemas foram resolvidos”, mesmo sem serem de responsabilidade direta de Leonardo, dado o arrendamento da fazenda.
Também de acordo com o advogado, as indenizações devidas foram pagas, e o acordo proposto pelo Ministério Público foi aceito, resultando no arquivamento dos processos.