Durante a sessão desta terça-feira (22) na Câmara Municipal de Natal, a vereadora Thabatta Pimenta (PSOL) fez um pronunciamento contra a nomeação de uma mulher cisgênero para a coordenação do programa Transcidadania, voltado à população LGBTQIA+ da capital potiguar.
A vereadora expressou seu descontentamento e afirmou que a nomeação fere diretamente o que está previsto no próprio edital do programa, que exige que o cargo seja ocupado por uma pessoa travesti, transexual ou transgênero, com formação acadêmica e experiência comprovada em promoção dos direitos humanos. “É com urgência que eu peço à secretária municipal de Direitos Humanos e à gestão Paulinho Freire que siga o edital do programa Transcidadania, com urgência”, declarou Thabatta.
Ela ainda ressaltou que há pelo menos duas pessoas trans aprovadas no processo seletivo, aguardando convocação, e criticou a escolha feita pela gestão: “É um absurdo o que está sendo feito com a população LGBTQIA+, nesse exato momento”.
A vereadora lembrou que o programa foi criado com o objetivo de dar visibilidade e apoio à população LGBTQIA+, e que o processo deve garantir a representatividade correta dentro da coordenação. “Como é que o programa, com a importância que tem, não tem as pessoas devidas? Como é que a gente vai oportunizar a população LGBTQIA+, que tanto clama por oportunidade, tendo o edital ali para ser seguido?”, questionou ela, reforçando a urgência de uma revisão dessa decisão.
Durante sua fala, Thabatta citou a Lei Municipal nº 7313/2022, que regula o programa Transcidadania, e indicou que a nomeação desrespeita a legislação vigente. Ela informou ainda que “uma das pessoas entrou na Justiça para ser convocada”. A parlamentar também trouxe à tona o fato de que o programa possui uma normativa específica para garantir que a coordenação seja exercida por alguém que, de fato, compreenda a realidade da comunidade transgênero. “O edital é claro e não está sendo seguido. Não podemos permitir que a gestão ignore a legislação e a representatividade necessária nesse momento.”
A vereadora concluiu sua fala exigindo que a gestão reveja a decisão e “haja esse chamado”, reforçando a importância de garantir a representatividade e o respeito ao edital. “Isso não é só uma questão de justiça, é uma questão de respeito com quem vive diariamente a luta e precisa de políticas públicas que atendam às suas necessidades reais”, finalizou Thabatta, demonstrando indignação com a situação.
A nomeação de Leila Maia e a reação dos ativistas
A nova coordenadora do programa Transcidadania, Leila Maia, foi oficialmente apresentada aos integrantes do programa por meio de uma mensagem enviada via WhatsApp. No texto, Leila informa que assumirá a coordenação do programa e convoca o primeiro encontro com os participantes. O encontro tem como objetivo orientar sobre o cronograma de capacitações e atividades futuras.
Nota de Repúdio à Nomeação da Coordenadora do Transcidadania de Natal
Diversas organizações da sociedade civil também se manifestaram publicamente por meio de uma nota de repúdio. O documento destaca a inconformidade com a nomeação de uma mulher cisgênero para coordenar o programa Transcidadania de Natal, considerando a decisão uma violação das diretrizes legais para políticas públicas voltadas à população trans.
Na nota, organizações como ATREVIDA/RN, SIDADANIA/RN, e o Coletivo Fora da Ordem afirmam que a escolha ignora as diretrizes legais que exigem representatividade de pessoas trans para a coordenação do programa. “A escolha de uma mulher heterossexual e cisgênero para coordenar um programa criado especificamente para a promoção da cidadania e dignidade da população trans é, no mínimo, inconcebível”, diz a nota.
A nota reforça que a nomeação não reflete os princípios de representatividade e empatia institucional necessários para a eficácia de políticas públicas afirmativas. Ela também enfatiza que a ocupação de cargos de liderança por pessoas trans em projetos como o Transcidadania não é apenas desejável, mas essencial para a coerência, dignidade e justiça social. “Reforçamos que representatividade não é mero simbolismo — é elemento essencial para a eficácia de políticas públicas afirmativas.”
A nota exige a imediata revisão da nomeação, além de criticar a falta de compromisso com a causa trans e de empatia institucional. “Essa luta é nossa, e não aceitaremos retrocessos”, conclui o documento.
Assinam a nota:
- Jackeline Brazil – Presidente da ATREVIDA/RN
- Givanilson de Oliveira Araújo – SIDADANIA/RN
- Coletivo Fora da Ordem
- Wanja Celine Guedes – Attransparencia/RN
- Secretaria LGBT do PT/RN
- Coletivo ParaTodos
- Cores
- NEGEDI IFRN
- Yalodê Afroacademia
- Instituto Lélia González
- Atreva-se
- Jeane Ferreira – Liga de Combate a AIDS
- União da Juventude Socialista – UJS
- Coletivo Diversidade do Vale – CODIVA
- Rede DeBandeira
- ArtGay
- Associação Norte Riograndense da população LGBTQIA+
- Coletivo LGBTI Leilane Assunção
- Grupo Afirmativo de Mulheres Independentes- GAMI
- Liga Brasileira de Lésbicas
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