No último sábado (22), quiosqueiros e permissionários da Praia da Redinha foram surpreendidos por uma operação da Prefeitura de Natal, que recolheu parte do material de trabalho desses comerciantes. De acordo com a gestão municipal, a ação cumpriu uma determinação judicial que limita a atuação a apenas dez quiosques na região. Segundo a prefeitura, no momento da fiscalização, havia 16 estabelecimentos funcionando de forma irregular, resultando na apreensão de 123 cadeiras, 29 mesas, 17 sombreiros e um carrinho. Além disso, quatro quiosqueiros foram intimados a comparecer à Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) para esclarecimentos.
Ainda de acordo com a gestão municipal, o ordenamento da Redinha foi definido em um acordo judicial firmado em setembro de 2023, envolvendo a Justiça Federal, o Ministério Público Federal, a Superintendência do Patrimônio da União, a Procuradoria Geral do Município, a Semurb e a Associação dos Quiosqueiros da Redinha. O acordo previa a indenização dos quiosqueiros afetados pelas obras do Complexo da Redinha, garantindo R$ 50 mil para aqueles que optassem por não retornar à orla e R$ 25 mil para quem decidisse retomar as atividades após a conclusão das obras, no entanto, o acordo não abrangeu a todos que atuavam em quiosques, como garçons que estão sem receber nada desde o fechamento do mercado da redinha.
“A gente vai viver de quê?”
Apesar das justificativas da Prefeitura, os quiosqueiros apontam falhas no planejamento e na execução do reordenamento da praia. Em entrevista ao O Potengi, Ronaldo Júnior, que trabalha como quiosqueiro há anos na Praia da Redinha, denunciou o abandono da praia pelo poder público e criticou a falta de estrutura para o trabalho na região.
“A situação da Redinha é a seguinte: não tem estrutura. Eles destruíram a praia, acabaram com tudo, tiraram o calçadão e abandonaram. O mercado público, que é a única fonte de renda além dos quiosques, foi reformado, mas segue fechado. E os quiosques, que eles derrubaram, até hoje não foram refeitos. Como é que a gente vai viver?”, questiona Ronaldo.
Os comerciantes também apontam desigualdade na quantidade de mesas e cadeiras permitidas na Redinha em comparação com outras praias de Natal. “Aqui, são só três mesas por quiosque. Como a gente paga um cozinheiro, um garçom, com isso? Em Ponta Negra, eles podem ter 12, 15 mesas. Por que na Redinha são tão poucas?”
Além dos quiosqueiros, ambulantes que dependiam do fluxo de clientes na região também sofrem com a queda no movimento. “A economia da Redinha gira em torno dessa praia. Tudo é uma cadeia alimentar: o quiosque compra peixe do pescador, compra mantimentos no mercadinho, movimenta a região. Mas se o mercado está fechado e os quiosques não podem trabalhar, ninguém sobrevive”, afirma Ronaldo.
A Prefeitura de Natal defende que a ação foi necessária para evitar a ocupação irregular do espaço público. Segundo Leonardo Almeida, supervisor geral da fiscalização ambiental, a operação visava retirar comerciantes sem autorização e impedir novas irregularidades.
“A operação foi necessária devido à presença de pessoas e organizações não autorizadas que passaram a explorar irregularmente o espaço público, comprometendo o ordenamento da praia”, justificou Almeida.
O sentimento entre os comerciantes é de abandono e lhes falta esperança, “A gente não quer desordem, quer trabalhar. Se eles regularizarem a situação da Redinha, fizerem os quiosques de volta e abrirem o mercado, a gente sai da areia. Agora, o que não pode é destruírem tudo e deixar a gente sem trabalho”, conclui Ronaldo Júnior.