Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (IMT/UFRN) identificou um aumento preocupante na presença de flebotomíneos — os conhecidos “mosquitos-palha” — contaminados por Leishmania infantum na comunidade de Nordelândia, localizada no bairro Lagoa Azul, zona Norte de Natal.
O levantamento é resultado do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do estudante Kezmy Alves, sob orientação da professora Selma Jerônimo e coorientação da bióloga Joanna Valverde. O estudo analisou dados coletados entre 2021 e 2023 e aponta para um cenário de risco ampliado de infecção pela leishmaniose visceral, uma doença grave que pode atingir tanto seres humanos quanto cães.
Aumento progressivo de contaminação
Durante os três anos de pesquisa, foram capturados 949 flebotomíneos na área estudada. Em 2021, foram coletados 339 insetos, com índices de contaminação variando entre 0,24% e 3,58%. Em 2022, foram 228 mosquitos e taxas de 0,05% a 1,89%. Já em 2023, o número de capturas subiu para 382, com variações que chegaram a 5,68% de contaminação.
O avanço na proporção de mosquitos infectados sugere um ambiente cada vez mais propício para a circulação da Leishmania infantum, protozoário causador da leishmaniose visceral.
Cães estão mais vulneráveis
A pesquisa também revelou que os cães apresentam 3,25 vezes mais chances de infecção do que os moradores da região. Isso se deve à proximidade dos animais com os focos do vetor e à sua maior exposição em áreas abertas ou com matéria orgânica acumulada — condições ideais para a reprodução do Lutzomyia longipalpis, o mosquito-palha.
A leishmaniose visceral é uma doença potencialmente fatal, especialmente quando não diagnosticada ou tratada precocemente. Em humanos, a taxa de mortalidade pode chegar a 5% dos casos. Entre os cães, o risco de adoecimento e morte é ainda mais elevado.
De acordo com os pesquisadores, a análise espacial foi fundamental para mapear áreas com condições favoráveis à proliferação do vetor. A concentração de matéria orgânica em decomposição, comum em terrenos baldios e áreas mal urbanizadas, contribui diretamente para o agravamento do problema.
O estudo também aponta uma mudança no perfil das vítimas humanas da doença. Até o início dos anos 2000, a leishmaniose visceral era mais frequente em crianças pequenas, mas nos últimos 20 anos tem afetado adultos jovens com maior frequência. Fatores como melhor nutrição e vacinação têm aumentado a resistência infantil à infecção.
Deixe um comentário