Pescadores de Ponta Negra enfrentam dificuldades após obra de engorda: “Não temos mais condições de trabalhar”

Ícone de crédito Pesca antes da engorda – Foto: Fabio Pinheiro




A obra de engorda da praia de Ponta Negra, que visava à revitalização do local, alterou as condições de trabalho dos pescadores da região, cujas atividades dependem diretamente da praia. O que antes eram tarefas simples, como o lançamento das jangadas e o acesso ao mar, tornaram-se desafios diários após a ampliação da faixa de areia.

Em entrevista a O Potengi, Rosângela Silva do Nascimento, presidente da Colônia de Pescadores de Natal, detalhou os impactos diretos da obra na vida dos trabalhadores da pesca. A principal dificuldade relatada é a grande distância entre a nova faixa de areia e o tradicional ponto de lançamento das embarcações. “Ficou muito longe de onde as jangadas ficam para o mar. Pedimos judicialmente à Prefeitura uma cabrita (embarcação de apoio) para ajudar nesse deslocamento, mas até agora não tivemos retorno”, explicou Rosângela.

Além disso, a obra deixou rastros que prejudicaram ainda mais o cotidiano da comunidade pesqueira. Os tubos da draga, que foram deixados na praia após o término dos trabalhos, causaram sérios danos a uma das embarcações. “Quando a draga foi embora, ela deixou os tubos na praia e dentro da água. O suficiente para quebrar uma jangada e ocasionar a perda total de um barco a motor”, lamentou a presidente.

Alterações nos pontos de pesca e escassez de recursos

A ampliação da faixa de areia também comprometeu pontos tradicionais de pesca da comunidade. “A pesca está escassa, e tem muito cascalho na praia trazido pela draga. Isso afetou diretamente a nossa atividade”, afirmou Rosângela. Ela também destacou que a pesca de arrasto, uma das principais práticas pesqueiras da região, está sendo especialmente prejudicada, pois os pescadores têm encontrado dificuldades para pescar como antes.

A infraestrutura, que já não era das melhores, também foi comprometida pela obra. Segundo Rosângela, a situação da comunidade pesqueira, que já enfrentava desafios, piorou consideravelmente. “Essa situação sempre foi difícil, e agora piorou. Não temos mais condições de trabalhar com a mesma estrutura de antes”, afirmou.

Rosângela é enfática ao afirmar que a atividade pesqueira foi muito mais prejudicada do que qualquer benefício que a obra tenha trazido para a sociedade como um todo, e alega que os impactos negativos na pesca são maiores que os positivos para a sociedade.

Pescadores agora têm dificuldades em levar jangada – Foto: Reprodução/@danielvalencapt

Falta de apoio financeiro 

A presidente da Colônia de Pescadores de Natal também destacou a falta de apoio financeiro por parte dos governos municipal, estadual e federal, que, segundo ela, não têm oferecido suporte para ajudar a categoria a se adaptar às novas condições de trabalho após a obra. “Nós (instituição) temos tentado ajudar, mas financeiramente é impossível. Não temos apoio dos governos nas três esferas”, desabafou Rosângela.

Diálogo com a Prefeitura

Durante o processo da obra, uma das condicionantes que a Prefeitura deveria cumprir estava relacionada às atividades pesqueiras, incluindo a navegação, pesca e o comércio de pescados. No entanto, os pescadores alegam que não houve um comunicado direto entre a classe e a Prefeitura de Natal. “Todo o diálogo aconteceu de forma judicial”, afirmou Rosângela.

A comunidade pesqueira não era contra a realização da obra da engorda, mas sim, de como o processo vinha sendo feito, deixando de fora as pessoas que mais seriam afetadas negativamente e a falta de transparência da prefeitura, ao receber a notícia de forma indireta, os pescadores não sabiam se teriam algum suporte da prefeitura e muito menos como sobreviveriam durante e após a obra, já que a única certeza era a modificação na atividade pesqueira.

Ainda que, durante o processo da obra,  a Prefeitura tenha fornecido algum auxílio para os pescadores que atuam próximo à área de jazida, esse apoio também só foi possível por intermédio de vias judiciais. Rosângela ressaltou que, além destes pescadores, a área de Ponta Negra é lar de mais de 200 famílias que dependem da pesca como fonte principal de sustento.

Pedindo abertura de Comissão Especial de Inquérito

Devido às questões envolvendo a obra de engorda da praia de Ponta Negra, o vereador Daniel Valença afirmou que pretende apresentar um requerimento na Câmara de Vereadores, solicitando a abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar o caso. A matéria completa sobre as justificativas usadas por Daniel para solicitar abertura do CEI pode ser lida clicando aqui.

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Ícone de crédito Pesca antes da engorda – Foto: Fabio Pinheiro

A obra de engorda da praia de Ponta Negra, que visava à revitalização do local, alterou as condições de trabalho dos pescadores da região, cujas atividades dependem diretamente da praia. O que antes eram tarefas simples, como o lançamento das jangadas e o acesso ao mar, tornaram-se desafios diários após a ampliação da faixa de areia.

Em entrevista a O Potengi, Rosângela Silva do Nascimento, presidente da Colônia de Pescadores de Natal, detalhou os impactos diretos da obra na vida dos trabalhadores da pesca. A principal dificuldade relatada é a grande distância entre a nova faixa de areia e o tradicional ponto de lançamento das embarcações. “Ficou muito longe de onde as jangadas ficam para o mar. Pedimos judicialmente à Prefeitura uma cabrita (embarcação de apoio) para ajudar nesse deslocamento, mas até agora não tivemos retorno”, explicou Rosângela.

Além disso, a obra deixou rastros que prejudicaram ainda mais o cotidiano da comunidade pesqueira. Os tubos da draga, que foram deixados na praia após o término dos trabalhos, causaram sérios danos a uma das embarcações. “Quando a draga foi embora, ela deixou os tubos na praia e dentro da água. O suficiente para quebrar uma jangada e ocasionar a perda total de um barco a motor”, lamentou a presidente.

Alterações nos pontos de pesca e escassez de recursos

A ampliação da faixa de areia também comprometeu pontos tradicionais de pesca da comunidade. “A pesca está escassa, e tem muito cascalho na praia trazido pela draga. Isso afetou diretamente a nossa atividade”, afirmou Rosângela. Ela também destacou que a pesca de arrasto, uma das principais práticas pesqueiras da região, está sendo especialmente prejudicada, pois os pescadores têm encontrado dificuldades para pescar como antes.

A infraestrutura, que já não era das melhores, também foi comprometida pela obra. Segundo Rosângela, a situação da comunidade pesqueira, que já enfrentava desafios, piorou consideravelmente. “Essa situação sempre foi difícil, e agora piorou. Não temos mais condições de trabalhar com a mesma estrutura de antes”, afirmou.

Rosângela é enfática ao afirmar que a atividade pesqueira foi muito mais prejudicada do que qualquer benefício que a obra tenha trazido para a sociedade como um todo, e alega que os impactos negativos na pesca são maiores que os positivos para a sociedade.

Pescadores agora têm dificuldades em levar jangada – Foto: Reprodução/@danielvalencapt

Falta de apoio financeiro 

A presidente da Colônia de Pescadores de Natal também destacou a falta de apoio financeiro por parte dos governos municipal, estadual e federal, que, segundo ela, não têm oferecido suporte para ajudar a categoria a se adaptar às novas condições de trabalho após a obra. “Nós (instituição) temos tentado ajudar, mas financeiramente é impossível. Não temos apoio dos governos nas três esferas”, desabafou Rosângela.

Diálogo com a Prefeitura

Durante o processo da obra, uma das condicionantes que a Prefeitura deveria cumprir estava relacionada às atividades pesqueiras, incluindo a navegação, pesca e o comércio de pescados. No entanto, os pescadores alegam que não houve um comunicado direto entre a classe e a Prefeitura de Natal. “Todo o diálogo aconteceu de forma judicial”, afirmou Rosângela.

A comunidade pesqueira não era contra a realização da obra da engorda, mas sim, de como o processo vinha sendo feito, deixando de fora as pessoas que mais seriam afetadas negativamente e a falta de transparência da prefeitura, ao receber a notícia de forma indireta, os pescadores não sabiam se teriam algum suporte da prefeitura e muito menos como sobreviveriam durante e após a obra, já que a única certeza era a modificação na atividade pesqueira.

Ainda que, durante o processo da obra,  a Prefeitura tenha fornecido algum auxílio para os pescadores que atuam próximo à área de jazida, esse apoio também só foi possível por intermédio de vias judiciais. Rosângela ressaltou que, além destes pescadores, a área de Ponta Negra é lar de mais de 200 famílias que dependem da pesca como fonte principal de sustento.

Pedindo abertura de Comissão Especial de Inquérito

Devido às questões envolvendo a obra de engorda da praia de Ponta Negra, o vereador Daniel Valença afirmou que pretende apresentar um requerimento na Câmara de Vereadores, solicitando a abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar o caso. A matéria completa sobre as justificativas usadas por Daniel para solicitar abertura do CEI pode ser lida clicando aqui.

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