O governo federal divulgou, nesta quarta-feira (23), detalhes alarmantes sobre a composição de produtos vendidos como “café” que foram apreendidos em fevereiro em fábricas de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Segundo o Ministério da Agricultura, os produtos não continham sequer grãos de café e eram feitos exclusivamente com resíduos da lavoura, como cascas e grãos ardidos, considerados impróprios para consumo. Além disso, a análise apontou a presença de toxinas cancerígenas.
“Recolhemos [dos supermercados] porque a matéria era toda feita de resíduo, só lixo”, afirmou Hugo Caruso, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov), durante a apresentação dos resultados.
As três marcas responsáveis pelas fraudes não foram reveladas. Elas comercializavam os produtos como “pó sabor café”, o chamado “cafake”, e enganavam consumidores com embalagens que imitavam marcas conhecidas. Muitas traziam fotos de xícaras com café e grãos, enquanto a descrição técnica, “pó para preparo de bebida sabor café”, aparecia em letras pequenas e discretas, geralmente na parte inferior da embalagem.
Fraude em larga escala
A operação, deflagrada após denúncias de fraude, encontrou nas fábricas matéria-prima composta por elementos proibidos pela legislação brasileira, como cascas, grãos com defeitos, aromatizantes e resíduos descartados na produção tradicional. Embora a legislação permita até 1% de impurezas naturais no café (como pequenos galhos ou folhas), a lei proíbe totalmente a adição de grãos de outras espécies, açúcar, caramelo, borra de café solúvel e corantes.
O “café fake” apreendido sequer poderia ser classificado como alimento, segundo o governo. A partir de agora, os produtos também serão analisados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que poderá aplicar sanções adicionais e investigar os riscos à saúde provocados pelas toxinas encontradas nas amostras.
Engano intencional
Com o aumento do preço do café nos últimos meses, os produtos “saborizados” mais baratos ganharam espaço nas prateleiras. Um pacote de 500 g de “pó sabor café” chegou a ser vendido a R$ 13,99, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). No entanto, esses produtos não contêm o fruto do cafeeiro e, frequentemente, são compostos por ingredientes como milho, cevada e aromatizantes, que os classificam como ultraprocessados.
A nutricionista Mariana Ribeiro, do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), alerta: “O problema desses produtos é que eles utilizam no rótulo elementos visuais dando a entender que se trata de café, quando, na verdade, o que tem dentro da embalagem é outro componente”.
Casos como o da marca “Melissa”, que imitava as cores e o estilo gráfico da conhecida “Melitta”, mostram como a fraude é pensada para confundir o consumidor, que acredita estar levando para casa um produto tradicional, mas adquire um substituto sem qualquer valor nutricional e com potenciais riscos à saúde.
*Com informações do g1
Deixe um comentário