O Sagrado em O Pequeno Príncipe – Uma Jornada Espiritual

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Grande Wagner, que preciosidade sua visão acerca do Sagrado em O Pequeno Príncipe…

Nunca havia pensado sobre essa perspectiva. Muito linda e salutar a sua leitura. Obrigada pela partilha!

Li a obra há muito tempo, na juventude, não havia nunca olhado sob essa ótica. Um excelente texto, uma profunda e reveladora análise. Além de que a escrita do Claudio Wagner é um deleite. Obrigado por compartilhar amigo.

Ícone de crédito foto: Reprodução

Em 2009, concluí o curso de Ciência da Religião pela UERN. O tema da minha monografia foi “O Sagrado na Obra O Pequeno Príncipe”. Com o passar do tempo, já distante da conclusão da graduação, decidi revisitar esse tema, agora em forma de uma breve resenha, que compartilho com vocês, na esperança de que apreciem a leitura.
O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, é uma obra repleta de simbolismos que transcendem o campo literário, revelando traços do sagrado presentes em diversas tradições religiosas. O deserto, o poço e o encantamento do protagonista pelas estrelas são elementos que dialogam com o Budismo, o Cristianismo, o Islã e o Judaísmo, tecendo uma narrativa que celebra o invisível e o transcendente.
O deserto, espaço de solidão e encontro consigo mesmo, remete às provações espirituais. No Cristianismo, evoca o êxodo de Moisés e o jejum de Jesus, momentos de purificação e preparação espiritual. No Islã, o deserto é o lugar da revelação a Maomé. No Judaísmo, simboliza o caminho rumo à Terra Prometida. Já no Budismo, representa o vazio necessário à iluminação, como na meditação de Buda. Assim, quando o Pequeno Príncipe se encontra perdido no deserto, ele, como os místicos de todas essas tradições, descobre ali a essência da vida, no silêncio e na simplicidade.
O poço, que surge como um milagre em meio ao árido cenário, simboliza vida e sabedoria. No Cristianismo, remete ao poço de Jacó, onde Jesus oferece a “água viva” (João 4:14). No Islã, a água é um dom divino, como o poço de Zamzam, fonte sagrada de Meca. No Judaísmo, os poços são lugares de encontro e revelação, como no episódio de Rebeca e Isaac. Para o Budismo, a água pura simboliza a claridade mental. Quando o Pequeno Príncipe bebe do poço, não sacia apenas a sede física, mas também a sede espiritual, num verdadeiro rito de renascimento.
Por fim, o encantamento do Pequeno Príncipe pelas estrelas, sobretudo em sua despedida, carrega uma poderosa ideia de transcendência. No Cristianismo, as estrelas representam os justos que brilham eternamente (Daniel 12:3). No Islã, são sinais da grandeza de Allah (Alcorão 86:1-3). No Judaísmo, a Estrela de Davi é símbolo de proteção divina. No Budismo, a luz das estrelas evoca a iluminação e a libertação do ciclo do sofrimento. A promessa do Pequeno Príncipe, de que estará em uma estrela, não sugere um fim, mas uma passagem para o eterno, unindo-se ao cosmos sagrado.
Assim, O Pequeno Príncipe revela-se uma obra atemporal, em que o deserto, o poço e as estrelas são vestígios do divino, convidando o leitor a enxergar — como ensina a raposa — “com o coração”. O sagrado, em suas múltiplas formas, habita essa narrativa encantadora, mostrando que o essencial é, verdadeiramente, invisível aos olhos.

Claudio Wagner — Professor, Cientista da Religião e Historiador



O Sagrado em O Pequeno Príncipe – Uma Jornada Espiritual

Ícone de crédito foto: Reprodução

Em 2009, concluí o curso de Ciência da Religião pela UERN. O tema da minha monografia foi “O Sagrado na Obra O Pequeno Príncipe”. Com o passar do tempo, já distante da conclusão da graduação, decidi revisitar esse tema, agora em forma de uma breve resenha, que compartilho com vocês, na esperança de que apreciem a leitura.
O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, é uma obra repleta de simbolismos que transcendem o campo literário, revelando traços do sagrado presentes em diversas tradições religiosas. O deserto, o poço e o encantamento do protagonista pelas estrelas são elementos que dialogam com o Budismo, o Cristianismo, o Islã e o Judaísmo, tecendo uma narrativa que celebra o invisível e o transcendente.
O deserto, espaço de solidão e encontro consigo mesmo, remete às provações espirituais. No Cristianismo, evoca o êxodo de Moisés e o jejum de Jesus, momentos de purificação e preparação espiritual. No Islã, o deserto é o lugar da revelação a Maomé. No Judaísmo, simboliza o caminho rumo à Terra Prometida. Já no Budismo, representa o vazio necessário à iluminação, como na meditação de Buda. Assim, quando o Pequeno Príncipe se encontra perdido no deserto, ele, como os místicos de todas essas tradições, descobre ali a essência da vida, no silêncio e na simplicidade.
O poço, que surge como um milagre em meio ao árido cenário, simboliza vida e sabedoria. No Cristianismo, remete ao poço de Jacó, onde Jesus oferece a “água viva” (João 4:14). No Islã, a água é um dom divino, como o poço de Zamzam, fonte sagrada de Meca. No Judaísmo, os poços são lugares de encontro e revelação, como no episódio de Rebeca e Isaac. Para o Budismo, a água pura simboliza a claridade mental. Quando o Pequeno Príncipe bebe do poço, não sacia apenas a sede física, mas também a sede espiritual, num verdadeiro rito de renascimento.
Por fim, o encantamento do Pequeno Príncipe pelas estrelas, sobretudo em sua despedida, carrega uma poderosa ideia de transcendência. No Cristianismo, as estrelas representam os justos que brilham eternamente (Daniel 12:3). No Islã, são sinais da grandeza de Allah (Alcorão 86:1-3). No Judaísmo, a Estrela de Davi é símbolo de proteção divina. No Budismo, a luz das estrelas evoca a iluminação e a libertação do ciclo do sofrimento. A promessa do Pequeno Príncipe, de que estará em uma estrela, não sugere um fim, mas uma passagem para o eterno, unindo-se ao cosmos sagrado.
Assim, O Pequeno Príncipe revela-se uma obra atemporal, em que o deserto, o poço e as estrelas são vestígios do divino, convidando o leitor a enxergar — como ensina a raposa — “com o coração”. O sagrado, em suas múltiplas formas, habita essa narrativa encantadora, mostrando que o essencial é, verdadeiramente, invisível aos olhos.

Claudio Wagner — Professor, Cientista da Religião e Historiador


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Grande Wagner, que preciosidade sua visão acerca do Sagrado em O Pequeno Príncipe…

Nunca havia pensado sobre essa perspectiva. Muito linda e salutar a sua leitura. Obrigada pela partilha!

Li a obra há muito tempo, na juventude, não havia nunca olhado sob essa ótica. Um excelente texto, uma profunda e reveladora análise. Além de que a escrita do Claudio Wagner é um deleite. Obrigado por compartilhar amigo.