O que os olhos não veem, a gente devia sentir



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Sempre gosto dos seus textos, Fernanda. São claros, coerentes e abordam o tema do autoconhecimento com a devida profundidade. Um ótimo Ano Novo pra você!



[legenda-credito-imagem]

Olá, queridos! Como vão?

Começando mais um ano, porém sem começar oficialmente, já que ainda estamos no limbo do calendário entre o Ano Novo e o Carnaval. Mas inauguramos o sentimento de “ano novo, vida nova” de 2025 com louvor.

Reunimo-nos com familiares, amigos, pessoas queridas. Preparamos ceia, nos arrumamos, enfeitamos a casa, ou fomos a algum local já enfeitado. Conversamos, rimos, bebemos (ou não). Fizemos contagem regressiva, nos abraçamos, desejamos coisas boas a quem estava ao nosso redor, enviamos energia positiva e fizemos uma prece a quem não estava. Ao mundo inteiro, que seja. Mal não faz, não é mesmo?

Há quem tenha pulado sete ondas, comido doze uvas, um prato de lentilhas. Há quem tenha usado branco e a roupa íntima da cor correspondente ao que quer atrair nesse ano. Fato é que, para quem é adepto dessas, e de outras práticas da ocasião, elas foram feitas, o ano mudou, e restou a todos a fé de que isso vai surtir os efeitos desejados.

Agora vejamos que, independentemente de quais sejam seus rituais e crenças para a virada do ano, essas atitudes são um exemplo interessante de operar mudanças em nossas vidas. Porque são compostos da parte que vemos e da parte que não vemos. As partes em que organizamos e executamos são visíveis e palpáveis, mas a parte que deixamos para a ação da fé são partes mais complicadas de se ver.

(Gente, ela já começou o ano falando em códigos? Achei que isso aqui ia ficar mais tranquilo de ler. Alguém avisa a ela, por favor?)

Calma! Eu explico. Estou querendo falar com vocês hoje sobre mudanças. Já que conversamos aqui sobre o caminho do autoconhecimento, e esse, opera muitas mudanças em nós, inevitavelmente. Acontece que essas mudanças não são tão fáceis de conseguirmos ver, ao menos não enquanto estamos em meio ao processo.

E por que é importante entender isso? Porque é normal que a gente queira abandonar um processo pelo meio quando não conseguimos ver o resultado dele. E eu bem sei o quão imperceptíveis essas mudanças podem parecer, e o quão tentadora a vontade de desistir pode ser.

Eu passei a entender melhor isso tudo quando coloquei em perspectiva, quando comparei com outros processos meus, esses, bem fáceis de avaliar o progresso.

Como quando eu decidi começar a correr, por exemplo. Não foi algo que comecei a fazer por prazer, eu tinha um propósito. Estava me preparando para uma prova que envolvia teste físico e parte desse teste era a corrida.

O objetivo: correr 2km em até 12 minutos. O obstáculo: eu nunca tinha corrido na vida, a não ser para fugir de briga quando criança. (Fujo mesmo, eu só tenho tamanho).

A primeira vez que tentei correr foi um desastre. O corpo cansou em pouco tempo, meus pulmões pareciam que estavam queimando, minhas pernas não queriam mais me obedecer. O tempo que fiz foi vergonhoso e a distância pior ainda. Mas, eu conseguia ver todos os detalhes do processo. Eu conseguia medir exatamente quais as minhas dificuldades, as minhas necessidades e o objetivo final.

Dia a dia eu conseguia correr um pouco mais. Com orientação do instrutor da academia, ajustei minha respiração, meu ritmo e determinei pequenas metas a alcançar. Comprei um tênis melhor, tive algumas consultorias pontuais de corrida e segui praticando.

Depois de vários meses de dedicação, fazendo o que eu via que precisava ser feito, ajustando o que via que precisava ser ajustado e enxergando minha melhora a cada etapa do processo, eu finalmente consegui fechar os 2km em até 12 minutos.

Faço aqui um adendo importantíssimo: eu sabia que não era uma meta difícil e sabia que muita gente consegue fazer mais avanços em menos tempo de preparo, mas eu fiz questão de esquecer isso porque eu estava lidando apenas com meu preparo, meu corpo, minhas limitações. Fiquem longe da armadilha de olhar para o progresso do outro, é apenas o seu que importa. Proteja-se de tudo que possa te desestimular.

Voltando. Quis trazer esse exemplo de progresso em uma área física, uma área externa, porque todo mundo já passou por algo assim e também porque é muito mais fácil de ver as mudanças. É muito fácil identificar onde estamos, onde queremos chegar e quais ferramentas e técnicas precisamos para alcançar esse objetivo.

Acontece que quando se trata de mudanças internas é tudo muito mais complexo. Nem sempre sabemos onde estamos ou onde vamos chegar. Nem sempre sabemos quais ferramentas e técnicas precisamos nesse caminho.

Primeiro você começa tendo a consciência de que precisa olhar para dentro. Daí você começa a se observar e tentar entender seus sentimentos, seus incômodos, suas falhas, suas sombras. Depois você vai na tentativa e erro mesmo, ajustando seu comportamento e suas formas de ver o mundo até que comece a fazer sentido.

Mas, repito, não é um caminho no qual você vai conseguir enxergar seus avanços com tanta facilidade quanto quando opera mudanças externas. Todo começo já é um desafio, imagina continuar algo que, parece, não estar dando resultado?

Trazendo para exemplos de novo, uma mudança interna que eu tento operar há muito tempo é a minha paciência. Tenho muita dificuldade em desenvolvê-la. Não afeta todas as áreas da minha vida, mas afeta muitas. E, confesso, há momentos em que eu penso que não avancei nada. Momentos em que me sinto frustrada por pensar que regredi até.

E o que fazer, então, para não desanimar, quando não conseguimos medir muito bem esses avanços? Bom, como eu disse a vocês antes, não tenho fórmula para nada, não tenho formação acadêmica na área, tenho apenas a minha vivência e observação de mundo para oferecer aqui.

Mas, com base na minha bagagem, eu posso dizer, ironicamente, que tenham paciência (Eu sei, logo eu dizendo isso). Por incrível que pareça, é o que funciona para mim. Ao menos essa paciência eu consegui desenvolver.

A paciência de olhar com cuidado cada etapa nova e perceber que, mesmo que um pouquinho, eu já agi diferente naquela situação. A paciência de dizer para mim mesma “Está tudo bem não ter feito diferente agora. Você está no seu processo, no seu tempo, o importante é continuar tentando”. A paciência de entender que o caminho dessa mudança pode ser longo, sem placas e cheio de obstáculos, mas que eu preciso continuar seguindo.

A paciência de olhar para o caminho que ficou para trás, para o caminho que tenho pela frente, mesmo que não consiga enxergá-lo muito bem ainda, olhar também para dentro, saber identificar e abandonar pelo caminho, sem apego, o que deixou de fazer sentido para mim, mas jamais, em hipótese alguma, olhar para os lados.

Nesse caminho nós só podemos nos comparar com quem fomos antes e com quem queremos ser amanhã. O outro tem o caminho dele. Deixa ele. Seja com auxílio de alguma terapia, ou não, as mudanças internas só podem ser feitas por nós.

Então, que sejam bem-vindas as mudanças! As que podemos medir facilmente, como as mudanças externas; as que medimos, mas também entregamos boa parte para a fé, como nos rituais de Ano Novo; e as que não vemos, nem medimos, tão facilmente assim, mas que também não têm medida do tanto que são importantes e benéficas para nós.

Até a próxima!




O que os olhos não veem, a gente devia sentir



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Olá, queridos! Como vão?

Começando mais um ano, porém sem começar oficialmente, já que ainda estamos no limbo do calendário entre o Ano Novo e o Carnaval. Mas inauguramos o sentimento de “ano novo, vida nova” de 2025 com louvor.

Reunimo-nos com familiares, amigos, pessoas queridas. Preparamos ceia, nos arrumamos, enfeitamos a casa, ou fomos a algum local já enfeitado. Conversamos, rimos, bebemos (ou não). Fizemos contagem regressiva, nos abraçamos, desejamos coisas boas a quem estava ao nosso redor, enviamos energia positiva e fizemos uma prece a quem não estava. Ao mundo inteiro, que seja. Mal não faz, não é mesmo?

Há quem tenha pulado sete ondas, comido doze uvas, um prato de lentilhas. Há quem tenha usado branco e a roupa íntima da cor correspondente ao que quer atrair nesse ano. Fato é que, para quem é adepto dessas, e de outras práticas da ocasião, elas foram feitas, o ano mudou, e restou a todos a fé de que isso vai surtir os efeitos desejados.

Agora vejamos que, independentemente de quais sejam seus rituais e crenças para a virada do ano, essas atitudes são um exemplo interessante de operar mudanças em nossas vidas. Porque são compostos da parte que vemos e da parte que não vemos. As partes em que organizamos e executamos são visíveis e palpáveis, mas a parte que deixamos para a ação da fé são partes mais complicadas de se ver.

(Gente, ela já começou o ano falando em códigos? Achei que isso aqui ia ficar mais tranquilo de ler. Alguém avisa a ela, por favor?)

Calma! Eu explico. Estou querendo falar com vocês hoje sobre mudanças. Já que conversamos aqui sobre o caminho do autoconhecimento, e esse, opera muitas mudanças em nós, inevitavelmente. Acontece que essas mudanças não são tão fáceis de conseguirmos ver, ao menos não enquanto estamos em meio ao processo.

E por que é importante entender isso? Porque é normal que a gente queira abandonar um processo pelo meio quando não conseguimos ver o resultado dele. E eu bem sei o quão imperceptíveis essas mudanças podem parecer, e o quão tentadora a vontade de desistir pode ser.

Eu passei a entender melhor isso tudo quando coloquei em perspectiva, quando comparei com outros processos meus, esses, bem fáceis de avaliar o progresso.

Como quando eu decidi começar a correr, por exemplo. Não foi algo que comecei a fazer por prazer, eu tinha um propósito. Estava me preparando para uma prova que envolvia teste físico e parte desse teste era a corrida.

O objetivo: correr 2km em até 12 minutos. O obstáculo: eu nunca tinha corrido na vida, a não ser para fugir de briga quando criança. (Fujo mesmo, eu só tenho tamanho).

A primeira vez que tentei correr foi um desastre. O corpo cansou em pouco tempo, meus pulmões pareciam que estavam queimando, minhas pernas não queriam mais me obedecer. O tempo que fiz foi vergonhoso e a distância pior ainda. Mas, eu conseguia ver todos os detalhes do processo. Eu conseguia medir exatamente quais as minhas dificuldades, as minhas necessidades e o objetivo final.

Dia a dia eu conseguia correr um pouco mais. Com orientação do instrutor da academia, ajustei minha respiração, meu ritmo e determinei pequenas metas a alcançar. Comprei um tênis melhor, tive algumas consultorias pontuais de corrida e segui praticando.

Depois de vários meses de dedicação, fazendo o que eu via que precisava ser feito, ajustando o que via que precisava ser ajustado e enxergando minha melhora a cada etapa do processo, eu finalmente consegui fechar os 2km em até 12 minutos.

Faço aqui um adendo importantíssimo: eu sabia que não era uma meta difícil e sabia que muita gente consegue fazer mais avanços em menos tempo de preparo, mas eu fiz questão de esquecer isso porque eu estava lidando apenas com meu preparo, meu corpo, minhas limitações. Fiquem longe da armadilha de olhar para o progresso do outro, é apenas o seu que importa. Proteja-se de tudo que possa te desestimular.

Voltando. Quis trazer esse exemplo de progresso em uma área física, uma área externa, porque todo mundo já passou por algo assim e também porque é muito mais fácil de ver as mudanças. É muito fácil identificar onde estamos, onde queremos chegar e quais ferramentas e técnicas precisamos para alcançar esse objetivo.

Acontece que quando se trata de mudanças internas é tudo muito mais complexo. Nem sempre sabemos onde estamos ou onde vamos chegar. Nem sempre sabemos quais ferramentas e técnicas precisamos nesse caminho.

Primeiro você começa tendo a consciência de que precisa olhar para dentro. Daí você começa a se observar e tentar entender seus sentimentos, seus incômodos, suas falhas, suas sombras. Depois você vai na tentativa e erro mesmo, ajustando seu comportamento e suas formas de ver o mundo até que comece a fazer sentido.

Mas, repito, não é um caminho no qual você vai conseguir enxergar seus avanços com tanta facilidade quanto quando opera mudanças externas. Todo começo já é um desafio, imagina continuar algo que, parece, não estar dando resultado?

Trazendo para exemplos de novo, uma mudança interna que eu tento operar há muito tempo é a minha paciência. Tenho muita dificuldade em desenvolvê-la. Não afeta todas as áreas da minha vida, mas afeta muitas. E, confesso, há momentos em que eu penso que não avancei nada. Momentos em que me sinto frustrada por pensar que regredi até.

E o que fazer, então, para não desanimar, quando não conseguimos medir muito bem esses avanços? Bom, como eu disse a vocês antes, não tenho fórmula para nada, não tenho formação acadêmica na área, tenho apenas a minha vivência e observação de mundo para oferecer aqui.

Mas, com base na minha bagagem, eu posso dizer, ironicamente, que tenham paciência (Eu sei, logo eu dizendo isso). Por incrível que pareça, é o que funciona para mim. Ao menos essa paciência eu consegui desenvolver.

A paciência de olhar com cuidado cada etapa nova e perceber que, mesmo que um pouquinho, eu já agi diferente naquela situação. A paciência de dizer para mim mesma “Está tudo bem não ter feito diferente agora. Você está no seu processo, no seu tempo, o importante é continuar tentando”. A paciência de entender que o caminho dessa mudança pode ser longo, sem placas e cheio de obstáculos, mas que eu preciso continuar seguindo.

A paciência de olhar para o caminho que ficou para trás, para o caminho que tenho pela frente, mesmo que não consiga enxergá-lo muito bem ainda, olhar também para dentro, saber identificar e abandonar pelo caminho, sem apego, o que deixou de fazer sentido para mim, mas jamais, em hipótese alguma, olhar para os lados.

Nesse caminho nós só podemos nos comparar com quem fomos antes e com quem queremos ser amanhã. O outro tem o caminho dele. Deixa ele. Seja com auxílio de alguma terapia, ou não, as mudanças internas só podem ser feitas por nós.

Então, que sejam bem-vindas as mudanças! As que podemos medir facilmente, como as mudanças externas; as que medimos, mas também entregamos boa parte para a fé, como nos rituais de Ano Novo; e as que não vemos, nem medimos, tão facilmente assim, mas que também não têm medida do tanto que são importantes e benéficas para nós.

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