Em um mundo cada vez mais acelerado e desconectado do essencial, o massoterapeuta San construiu uma trajetória que vai na contramão da pressa, ele propõe o cuidado com tempo, escuta e presença. Aos 36 anos, é pedagogo, músico, pai de uma criança com TDAH e terapeuta corporal. Mas antes de qualquer rótulo, é alguém que olha para o outro com um profundo senso de humanidade. No seu consultório, a massoterapia não é apenas uma técnica, é uma forma de dizer: “eu te vejo”.
Sua trajetória profissional começou em sala de aula, onde por anos trabalhou como educador em escolas públicas. A convivência com estudantes autistas, com TDAH, TOD e outros perfis neuroatípicos fez San refletir sobre o ambiente que estava inserido: a escola, em geral, não sabe lidar com o toque, com o corpo, com os limites e as necessidades emocionais de cada indivíduo. “As escolas estão implodindo por falta de compreensão. O toque não é trabalhado. A maioria dos desequilíbrios emocionais nasce do toque negado ou mal interpretado”, afirma.
A paternidade também foi um divisor de águas. Pai de Jonas, uma criança incrível com TDAH, San aprendeu na prática que empatia não é uma teoria bonita, mas um exercício diário. “Foi sendo pai e sendo professor que desenvolvi esse olhar sensível. Não se trata só de aliviar dores, mas de caminhar junto, de tornar a vida mais leve.”
Massoterapia como ferramenta de transformação

Esse olhar o levou a buscar novas formas de cuidar, e foi assim que a massoterapia entrou em sua vida, não como uma mudança de carreira, mas como um desdobramento natural da sua missão de vida. Hoje, San atua em atendimentos diversos que vão desde dores musculares e articulares a protocolos específicos para pessoas com autismo, tudo com uma abordagem terapêutica, personalizada e sensível.
A lista de condições que ele atende impressiona: lombalgia, bursite, artrite, reumatismo, fibromialgia e muitas outras. Mas San vai além da dor física. Ele cuida também do que não se vê: da insônia, da ansiedade, da tristeza profunda, da exaustão emocional e até das consequências físicas do luto ou do burnout.
Seus atendimentos para mulheres com dores femininas, como as ligadas à TPM ou à menopausa, por exemplo, têm como ponto de partida a escuta. “A mulher moderna tem uma carga muito maior que a dos homens, trabalha, cuida da casa, da família, e ainda precisa lidar com os ciclos hormonais. A massoterapia ajuda a liberar tensões acumuladas e devolve um pouco do equilíbrio roubado pela rotina”, explica.
Outro tipo de atendimento que chama atenção é a terapia para sinusite. Usando técnicas da medicina tradicional chinesa e estímulos em pontos específicos da região crânio-facial, San promove uma espécie de drenagem natural, auxiliando no alívio da pressão nos seios da face. “Combinamos manobras específicas, óleos essenciais e toques profundos para ativar tecidos e liberar congestões. O resultado, a longo prazo, é a melhora significativa da respiração e da dor de cabeça”, conta.
Ele rejeita o termo “massagem” para definir sua prática. “Reduz o que faço. Trabalho com técnicas diversas, mas o diferencial está no protocolo individual. Uma pedra quente pode ser relaxante para um, mas um gatilho de trauma para outro. Preciso saber quem está comigo.”
Protocolo sensível para pessoas neuroatípicas

Mas é com as pessoas neuroatípicas que ele desenvolveu um dos seus trabalhos mais transformadores. A partir da experiência com crianças e adultos autistas, San criou um protocolo próprio que respeita os limites sensoriais de cada um. “O autismo é um espectro, e isso significa que cada pessoa sente e reage de forma diferente. Há quem tenha hipersensibilidade ao toque, ao som, à luz. Por isso, antes de tudo, eu escuto. Converso, observo, entendo quem está comigo. O toque só acontece quando faz sentido.”
Se para muitos o toque é algo corriqueiro, para algumas pessoas com autismo ele pode ser fonte de profundo desconforto. San entendeu que não existe fórmula, mas escuta. Criou um protocolo exclusivo para pessoas neurodivergentes, baseado em conversas, observações e respeito ao tempo de cada um. “Começamos com a mão da pessoa em cima da minha. Às vezes, o pé, um lugar pouco tocado, vira o ponto de partida. Tudo é feito de forma sensorial, respeitosa e adaptada. A ideia é mostrar que o toque pode ser seguro, previsível, regulador. A pessoa começa a se reconectar com o próprio corpo. Isso é poderoso”, defende”
Os resultados têm sido surpreendentes. Muitos pacientes com TEA que antes rejeitavam qualquer contato físico, hoje conseguem relaxar, estabelecer vínculos e até se expressar melhor. “Eles se encontram na terapia. O corpo fala. O toque comunica. E a gente vai se entendendo assim, mais pelo silêncio do que pelas palavras.”
Dentre os muitos momentos marcantes da carreira, San guarda um com carinho especial a história de uma família que chegou ao consultório exausta, após 11 anos sem conseguir dormir direito por conta das crises de dois filhos com autismo “Eles chegaram ao consultório como plantas murchas. Hoje florescem. Dormem, se comunicam melhor, e um dos meninos até se apresenta em sessões de musicoterapia. Eu não tenho régua para medir minha satisfação”, emociona-se.
Apesar dos resultados, ele ainda enfrenta desafios, como o preconceito com a profissão. “Muita gente associa a massoterapia apenas ao relaxamento. Isso é válido, mas o que eu faço é diferente. É terapêutico, é profundo, é embasado em estudo. Já estou cursando fisioterapia e não coloco limites para minha busca de conhecimento. O corpo e a mente são inseparáveis, e quero seguir entendendo como posso ajudar as pessoas a viverem melhor.”
San costuma dizer que não cura ninguém. Ele caminha junto. E talvez seja essa a chave do seu sucesso: tratar cada atendimento como uma travessia,onde o toque, a escuta e o afeto são os mapas para o bem viver.
Parabéns pelo trabalho! 👏👏👏