Em artigo publicado na última semana, o ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates defendeu o retorno da estatal ao setor de etanol, mas com um novo modelo de atuação. O executivo, que comandou a empresa entre 2023 e 2025, argumenta que a transição energética exige reposicionamento estratégico e vê nos biocombustíveis uma oportunidade para a Petrobras se manter relevante em uma economia de baixo carbono.
Prates questiona no texto se a Petrobras deveria retornar ao setor após experiências anteriores mal-sucedidas, mas sua resposta é afirmativa – desde que com abordagem diferente:
“O etanol é um ativo estrutural do Brasil: temos escala, tecnologia, know-how e uma política pública consolidada de descarbonização da matriz veicular. A Petrobras, por sua vez, não precisa voltar a operar usinas diretamente, mas pode atuar como articuladora, investidora qualificada e integradora de valor em projetos com maior retorno e menor exposição ao risco agrícola.”
O ex-presidente destaca oportunidades em segmentos avançados, como etanol de segunda geração (E2G) e combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), além da logística integrada de biocombustíveis. Segundo ele, a Petrobras poderia ser uma “viabilizadora do mercado de carbono nacional”, agregando sua expertise industrial a uma cadeia já consolidada.
Além do etanol, Prates aponta outras frentes estratégicas para a Petrobras na transição energética:
- Hidrogênio de baixo carbono: Produzido a partir do gás natural já explorado pela empresa, com aplicação em indústrias e logística.
- Captura e armazenamento de carbono (CCUS): “Tecnologia que a Petrobras domina como poucas no mundo”, podendo evoluir de solução para o pré-sal a serviço global de descarbonização.
- Energia eólica offshore: Aproveitando a competência da empresa em operações marítimas, em parceria com desenvolvedores eólicos e estaleiros.
- Refino sustentável: Produção de diesel verde (HVO) e SAF para agregar valor aos ativos existentes.
Visão de longo prazo
O ex-presidente encerra o artigo com um chamado à “perenização” da Petrobras:
“A Petrobras deve mirar na perenização: ser uma empresa que continuará existindo e gerando valor mesmo em um mundo pós-fóssil. Isso exige foco em transição energética com base técnica, visão de longo prazo e responsabilidade com o país.”
Para Prates, o retorno ao etanol – se bem executado – pode ser um passo coerente, mas o caminho completo passa por diversificar com inteligência, “sem abandonar a rentabilidade nem o compromisso com o futuro”.
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