
por
Olá, queridos! Como vão?
Mais uma vez deixei para fazer o texto dessa quinzena mais perto do prazo. Mas, dessa vez, não foi por querer observar meu entorno por mais tempo. Dessa vez foi por simplesmente não encontrar algo que me motivasse a escrever. Estou escrevendo nos últimos momentos antes desse texto ir ao ar, e foi justamente isso que me deu a ideia do tema de hoje.
Eu sou uma pessoa muito organizada e responsável com prazos. Sempre fui. Então uma situação como essa é bastante estressante para mim. Chegar até o limite máximo do prazo com a tarefa ainda por cumprir. Infelizmente, essa não é a primeira vez que isso acontece. Felizmente, eu nunca perdi um prazo. Sempre entreguei tudo com o qual me comprometi.
Essa coisa de deixar para última hora é bastante normal entre nós brasileiros. Faz parte da nossa cultura. E, apesar de eu não gostar quando faço isso, entendo que é algo que influencia nosso modo de viver. E, mesmo que cumpridora dos meus prazos, sou procrastinadora também. Imaginem o caos que é viver na minha cabeça!
Junte isso tudo ao fato de eu produzir muito bem sob pressão, na correria, na loucura das rotinas que não nos dão nem tempo para respirar. (E o pior é que eu gosto desse ritmo) Esse conjunto de fatores contra, e ter os prazos cumpridos acabou me dando a sensação eterna de que, mesmo que pareça que não vai dar tempo e que eu não vou conseguir, eu acabo conseguindo, sim.
Gosto de pensar que tenho uma equipe muito boa de espíritos que me ajudam muito nessas inspirações de última hora. Sei que não posso contar sempre com isso, seria deixar o trabalho sempre com eles e esquecer da minha responsabilidade, mas é o que entendo que acaba acontecendo, como agora. Não estou diminuindo minha capacidade de fazer o que preciso, apenas exaltando e agradecendo a ajuda que sei que recebo. (Deixando claro que isso é o que eu acredito, sem intenção alguma de influenciar ninguém).
Enfim, voltando ao tema de hoje. Passei vários dias pensando sobre o que escrever. Esperando que algo me inspirasse, dentre os acontecimentos do meu dia a dia. E nada. Comecei a me sentir frustrada, preocupada, agoniada. Eu sempre cumpro meus prazos, ora! Não seria dessa vez que eu iria falhar!
E aí comecei a pensar na falha. No quanto nos cobramos por sempre acertar. No quanto nossa sociedade hoje caminha cada vez mais para um mundo em que todos temos de ser perfeitos e não podemos não dar conta das coisas.
Eu sempre fui muito crítica comigo mesma, desde que me entendo por gente, sempre me cobrei demais. O que resultou em uma tolerância mínima para minhas próprias falhas. Tinha mais paciência com os erros dos outros que com os meus próprios (Eu disse mais, não disse infinita. Não sou santa). Falhar sempre foi algo que me deixava quase doente. Acredito que algumas vezes deve mesmo ter deixado.
Esses dias, conversando com um amigo, perguntei a ele sobre como tinha se saído em uma nova empreitada, a qual tinha me dito dias antes. “E aí, como foi?”, “Falhei miseravelmente”, ele respondeu. Claro que em tom de brincadeira, mas lembrei dessa fala enquanto pensava sobre errar e aceitar errar.
Quando a gente se dispõe a fazer algo, é claro que queremos conseguir. Já tentamos fazer pensando no resultado como sendo um sucesso. Dizemos que sabemos que existe a chance de dar errado, mas será que sabemos mesmo? Será que sabemos isso ao ponto de sentir isso? Ou será que sabemos apenas no racional e não no emocional?
Eu disse que já fui bastante crítica de mim mesma. Tenho aprendido a ter mais paciência comigo e acredito que evoluí muito nesse sentido. Mas ainda me percebo em meio a uma frustração sem tamanho quando percebo a chance de falhar. Ou quando, de fato, falho. Ora, eu não compreendi que falhar é parte do processo? Por que estou tão frustrada com isso agora?
E para conseguir me responder isso tudo, de novo, repito a vocês o que digo sempre, sobre a melhor ferramenta de autoconhecimento: a auto observação. Será que eu estou evoluindo mesmo o quanto imagino? O que estou sentindo agora? Ainda caio no erro de me cobrar demais? O que estou fazendo para mudar isso? Simplesmente repetindo a mim mesma que devo ser paciente comigo sem, na realidade, praticar a auto paciência?
É muito deliciosa a sensação da conquista. Alcançar o que queremos, superar desafios. Tem gosto de sol de fim da tarde na pele numa cadeira na beira do mar. Tem aconchego de café recém feito. Tem cheiro de chuva no mato crescendo. Tem sabor de cafuné.
Por isso é tão difícil sentir o fel da frustração escorrendo na língua. O amargor da derrota. Quando comparados assim, faz todo sentido não gostar de falhar, nem perder, nem errar. Nossas preces e desejos parecem querer apenas a evolução a ponto de não errar mais.
Mas a gente sabe que isso não é possível. A gente sabe que vai errar até o nosso último suspiro. Não adianta brigar com isso. A falha é mais uma das partes características daquilo que nos torna humanos. Concordo que não é agradável. Acho que ficou claro aqui o quanto eu mesma detesto falhar. Mas é tão parte de nós e tão importante quanto acertar.
Não estou romantizando a falha, nem dizendo que exaltem seus erros. Estou dizendo é que o que vai fazer a diferença nesse processo não é não falhar, mas sim usar a falha como ferramenta. Ela pode ser muito útil para muita coisa, em especial duas, para o propósito do que estamos falando aqui.
Uma: quando erramos aprendemos sobre aquilo. Isso é mais antigo que andar para frente. Os erros nos ensinam a como não fazer numa próxima tentativa. Dois, e mais importante para a nossa conversa: errar nos ensina sobre nós mesmos.
Como reagimos na falha? Quantas vezes tentamos? Em que ponto abrimos mão daquilo? Quando continuamos a tentar, estamos sendo persistentes ou teimosos? Que pessoa me torno quando falho, resiliente ou emburrada? Jogo a responsabilidade das minhas falhas no que me é externo, seja alguém ou algo, ou assumo para mim as rédeas da situação, mesmo que signifique admitir um erro?
Todas essas perguntas, e muitas outras, devemos fazê-las a cada erro, a cada falha. Até porque as situações serão diferentes e, consequentemente, nossos comportamento e reação.
Certa feita, escutei da professora de um curso que fiz a seguinte frase “Antes feito que perfeito”. Poucas vezes ouvi algo tão sensato. Faz olhar para trás e pensar no quanto deixamos de fazer algo porque não estava bom o suficiente, não estava ajustado o suficiente, e no fim nem feito foi.
É certo que é um aprendizado, um caminho longo a ser percorrido, esse de aprender a lidar com a frustração do erro, da falha. E justamente por isso precisa ser encarado com real dedicação. É preciso se jogar nas tentativas para se acostumar com os erros.
Quantas vezes não ouvimos a história da invenção da lâmpada e a célebre frase, atribuída a seu inventor Thomas Edison, sobre ter falhado repetidas vezes no processo “Eu não falhei 10 mil vezes. Apenas descobri 10 mil maneiras que não funcionavam“. No fim das contas, é esse mesmo o caminho. Tentar. Errar. Tentar de novo. E, se formos sabidos o bastante, usar cada erro como oportunidade de aprender sobre como não fazer, e sobre nós mesmos enquanto tentamos.
Vamos “falhar miseravelmente” tantas vezes quantas forem necessárias. Vamos tentar. Vamos chamar a frustração pela falha para bem pertinho de nós, convidá-la para um café e perguntar “E aí?”, e ouvir o que ela tem a dizer.
Por hoje, eu aprendi uma bela lição com a minha frustração de não ter conseguido escrever meu texto a tempo, por ter falhado na minha organização habitual. Percebi, aqui junto com vocês, o quão produtivos podem ser os sentimentos e situações ruins, se bem aproveitados. Claro que tudo dentro do possível e dadas as devidas proporções.
Até porque, como já entendemos, falhar faz parte. Até mesmo falhar em ver como podemos aproveitar a frustração pela falha. (Pera, que até eu já estou me perdendo nessa linha de raciocínio) Vamos apenas nos permitir. Vamos tentar e falhar e aprender.
E enquanto isso, vamos viver!
Até a próxima!
Deixe um comentário