A polêmica engorda da Praia de Ponta Negra voltou a ganhar destaque nacional, mais uma vez por conta dos impactos negativos gerados pela obra. A intervenção, que tinha como objetivo transformar o local em uma grande vitrine turística, acabou se tornando um problema para a administração do ex-prefeito Álvaro Dias (Republicanos) e para a atual gestão de Paulinho Freire (União Brasil).
O caso foi abordado em uma reportagem do jornal Estadão, publicada no último sábado (15), que destacou a perda das ondas ideais para o surfe após o alargamento da faixa de areia.
A obra, que estendeu a orla em 4,6 quilômetros com o depósito de 1,3 milhão de metros cúbicos de areia, alterou significativamente as condições naturais da praia, conhecida anteriormente como um dos melhores pontos para a prática do surfe no Nordeste. Segundo a reportagem, as ondas diminuíram e agora quebram mais próximas à areia, o que tem levado os surfistas a buscar outras praias para praticar o esporte.
“Deu ruim para o surfe. As ondas agora são pequenas e quebram perto da areia”, afirma Sonia Sales, dona da Escola de Surf Morro do Careca
A proprietária da Escola de Surf Morro do Careca, confirmou a mudança. “As ondas ficaram menores e mais fracas, pois a grande quantidade de areia depositada reduziu o espaço onde elas se formavam. Isso afetou diretamente nossas aulas, já que dependemos de boas ondas para ensinar”, explicou. Ela ainda expressou esperança de que a situação melhore com o tempo, mas reconheceu que o impacto foi significativo.
Marcelo Chaves, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e integrante do Programa de Monitoramento da Hidrodinâmica Costeira no RN, explicou ao Estadão que o aterro alterou a dinâmica natural da praia, tornando-a mais instável. Ele ressaltou que, após uma intervenção desse porte, é comum que o local leve de dois a três anos para atingir um novo equilíbrio ambiental.
A Prefeitura de Natal, por sua vez, justificou a obra como uma medida necessária para conter a erosão costeira, que ameaçava o calçadão e o Morro do Careca, um dos principais cartões-postais da cidade.
A administração municipal afirmou que está monitorando a situação e que é preciso aguardar o reequilíbrio natural do ecossistema. A reportagem também destacou que o aumento do nível do mar e a erosão são consequências das mudanças climáticas, citando exemplos de outras cidades brasileiras, como Florianópolis, Balneário Camboriú, Recife e Caraguatatuba, que realizaram obras semelhantes para mitigar esses efeitos.
No entanto, desde a conclusão do aterro, em 24 de janeiro, a praia tem enfrentado problemas com alagamentos durante as chuvas. Há duas semanas, a força das águas abriu uma vala na areia, próximo ao Morro do Careca, evidenciando falhas na drenagem.
Um documento da Defesa Civil do Governo Federal, divulgado pelo deputado federal Fernando Mineiro (PT), apontou que o aterro não deveria ter sido iniciado sem a conclusão das obras de drenagem, que visam evitar alagamentos. O texto afirma que o empreendedor foi alertado sobre a necessidade de finalizar as estruturas de drenagem antes de dar início ao aterro.
Pedindo abertura de Comissão Especial de Inquérito
Devido às questões envolvendo a obra de engorda da praia de Ponta Negra, o vereador Daniel Valença afirmou que pretende apresentar um requerimento na Câmara de Vereadores, solicitando a abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar o caso. A matéria completa sobre as justificativas usadas por Daniel para solicitar abertura do CEI pode ser lida,clicando aqui.
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