Adjuto Dias parece viver suspenso num dilema entre os Velho e Novo testamentos. E deste conflito moral, o que sabemos até agora é que ele tem saído mais forte; força da qual precisará caso lhe recaiam sobre os ombros as mãos severas do Deus de Moisés.
“Porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem.”
Assim Moisés transmitiu as palavras de Deus aos descendentes daqueles que com ele saíram do Egito rumo à Terra Prometida. Moisés falava na planície de Moabe, às portas das terras nas quais sabia que não chegaria a ingressar.
Já Adjuto é de uma geração posterior. Seu pai, Álvaro Dias, adentrou e se assenhorou de diversas terras, prometidas ou apenas conquistadas.
A metamorfose do “mudinho”
Desde que seu pai saiu da cadeira de prefeito de Natal, Adjuto Dias tem manifestado uma das mais interessantes metamorfoses políticas do RN contemporâneo.
O “mudinho”, como ainda lhe chamam nos corredores da Assembleia Legislativa, mostrou que fala e fala bem. Até se valeu da alcunha capacitista para troçar de seus críticos, comentando sobre o apelido em um de seus vídeos no Instagram.
Pelas redes sociais, Adjuto vem se tornando um dos mais efetivos e cativantes críticos do governo Fátima Bezerra, a quem o pai manifestamente pretende suceder.
Sem o telhado de vidro da gestão do pai na capital, Adjuto pode se soltar e revelar sua inédita eloquência. Ele visitou obras do Governo do Estado, percorreu bairros e cidades e até mesmo fez uma visita surpresa ao Hospital Walfredo Gurgel, se contrapondo à propaganda do governo para a área da saúde.
“Lembrai-vos da mulher de Ló”
O risco que corre Adjuto Dias é o de fazer o que fez a mulher de Ló, que “olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal”.
Quanto mais crescem as ambições políticas do pai, mais pesa nos ombros do filho aquilo que até aqui foi feito. Soldado leal e prestativo, Adjuto Dias tomou para si a responsabilidade de dar voz a uma oposição inepta e fisiológica que não tem voz porque simplesmente não tem interesses ou projetos que possam ser ditos em público.
Adjuto tenta dar cara nova ao velho coronelismo do Seridó. E nisto se aferra ao passado.
Para seu alento, o deputado estadual Adjuto Dias pode se apegar à versão javista mais generosa do Novo Testamento. Citemos Jeremias: “Naqueles dias, nunca mais dirão: ‘Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram’. Cada um morrerá pela sua própria iniquidade.”
Resta saber se até o dia do juízo não terá Adjuto Dias colecionado seus próprios pecados, na trilha das pegadas políticas do pai.
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