A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) instaurou um inquérito para investigar uma série de denúncias de importunação sexual dentro do ônibus circular que circula pelo campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal. De acordo com informações da Polícia Civil, cerca de 20 boletins de ocorrência foram registrados até o momento.
Segundo informações do setor de Ouvidoria da própria universidade, o número de denúncias chega a pelo menos 29 casos, todas relatando abordagens libidinosas, aparentemente cometidas pelo mesmo homem. O suspeito estaria utilizando uma mochila para disfarçar os toques nas vítimas durante os trajetos dentro do transporte interno da instituição.
Em nota oficial, a UFRN informou que está colaborando com as investigações da polícia e que oferece apoio às alunas vítimas, embora não tenha detalhado quais medidas estão sendo efetivamente tomadas. A assessora técnica de Desenvolvimento Pessoal da universidade, Juliana Paiva, afirmou que o papel da instituição é acolher e orientar as estudantes. “O nosso papel é ter essa escuta, promover orientações, promover alguns encaminhamentos que a gente ache que sejam pertinentes diante do sofrimento que a gente sabe que é causado nos casos de violência, de assédio, discriminação ou qualquer outro tipo de violência na instituição”, declarou.
“Ele usava a mochila para esconder o que estava fazendo”, dizem vítimas
Estudantes que sofreram os abusos relataram que o homem agia de forma semelhante em todos os episódios. Ele escolhia assentos ao lado de mulheres, mesmo quando o ônibus estava praticamente vazio, e utilizava uma mochila grande para esconder os movimentos de suas mãos.
Segundo informações do jornalismo da Inter TV Cabugi, algumas vítimas relataram os abusos, mas preferiram não se identificar por medo e constrangimento.
Uma das estudantes afirmou: “Ele sentou ao meu lado, o ônibus estava bem vazio, e botou a mochila em cima do colo, e ficou com a mão escondida. No começo eu não achei que era, mas aí depois eu percebi que era. Ele é um rapaz bem alto, negro, com cabelo crespo e usa uma mochila bem grande.”
Outra vítima detalhou: “Eu estava sozinha no Expresso Reitoria, sentada sozinha no caso. E veio esse homem sentar ao meu lado, com uma mochila grande. Ele começou a empurrar muito essa mochila pro meu colo. Uma das mãos dele estava embaixo dessa mochila e outra em cima, pressionando essa mochila contra o meu colo para que eu não pudesse sentir a mão dele tocando a minha coxa. Então eu fiquei assustada, fiquei muito em choque, fiquei me tremendo e a única reação que eu tive foi pedir pra que ele se afastasse e, se pudesse, saísse. Ele se afastou assustado e eu consegui sair do circular.”
A polícia reforça que outras vítimas devem procurar a DEAM para registrar denúncias, o que pode ajudar a identificar e prender o agressor.
Crime recorrente em transportes públicos
A importunação sexual é considerada crime desde 2018, com pena de 1 a 5 anos de prisão, conforme o Código Penal Brasileiro. Segundo informações da advogada Geyse Raulino, presidente da Comissão da Mulher da OAB-RN, o crime ocorre quando alguém, sem consentimento, se esfrega ou toca outra pessoa com conotação sexual.
“Às vezes o ônibus está lotado, e o homem se aproveita dessa lotação para tocar no corpo da mulher, em suas partes íntimas”, explicou. “Ou o ônibus está vazio e ele intencionalmente senta ao lado dessa mulher para poder tocá-la, muitas vezes utilizando objetos como mochilas, bolsas ou luvas para disfarçar esse toque e não ser identificado por quem está no entorno.”
A advogada ainda reforçou a importância de combater esse tipo de violência. “A vítima nunca é culpada, e a gente precisa lembrar disso. Isso é muito importante. A gente precisa oferecer ambientes institucionais e transportes, espaços públicos seguros para as mulheres e acolher essas vítimas para que as denúncias sejam feitas e o crime seja de fato combatido.”
*Com informações do g1RN