Crônica: As cadeiras dançam, e o povo senta no chão

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Gestor público, produtor cultural e empresário. Militante da Rede Sustentabilidade, ex-chefe de gabinete da SEMIDH e conselheiro da Lei Câmara Cascudo.

A política natalense tem uma coreografia curiosa. As cadeiras mudam de lugar, os personagens trocam de figurino, mas a música é sempre a mesma. E mesmo assim, a plateia aplaude — talvez por costume, talvez porque não entendeu direito a peça.

Na última dança das cadeiras, a Secretaria Adjunta de Mulheres ganhou uma nova titular. Sai um homem técnico, entra uma mulher política. Ganha-se um símbolo, perde-se um motor. Como se resolver um problema com um gesto simbólico fosse suficiente para fazer um carro andar. Mas é Natal — aqui já se tentou dirigir um ônibus com promessa.

Midiany Geizy, recém-egressa de uma queda na Cultura causada por um desentendimento de bastidor (ou de sofá), ressurgiu como adjunta das Mulheres. Foi um movimento elegante, se visto de longe: retirou-se um homem de um cargo que deveria ser feminino e realocou-se uma mulher que precisava urgentemente de um cargo. Dois coelhos com uma canetada só.

Claro, ninguém falou disso desse jeito. Falaram em escuta dos movimentos, em compromisso com a pauta de gênero, em avanços. Esqueceram de dizer que tudo começou com uma briga entre a esposa de um vereador e uma secretária. Política pública, em Natal, às vezes se faz com indiretas no WhatsApp.

Enquanto isso, o técnico Saulo Spinelly, que mantinha a engrenagem girando — mesmo sendo um corpo estranho na lógica do símbolo —, sai de cena. Não por incompetência, mas por excesso de coerência. Uma qualidade que, como sabemos, pesa demais para quem vive de acordos leves.

No fim, a Secretaria fica como muitas secretarias ficam: nas mãos de quem tem pouca autonomia e muita maquiagem. Não a maquiagem das mulheres, mas a da política: aquela base grossa que tenta esconder o vazio atrás do espelho.

E o povo, como sempre, assiste. Uns acham que foi avanço. Outros não entenderam nada. E alguns, mais atentos, percebem que a dança é bonita, mas sempre termina com a cadeira quebrada.

Wesley de Lima Caetano (geleia)



Crônica: As cadeiras dançam, e o povo senta no chão

Gestor público, produtor cultural e empresário. Militante da Rede Sustentabilidade, ex-chefe de gabinete da SEMIDH e conselheiro da Lei Câmara Cascudo.

A política natalense tem uma coreografia curiosa. As cadeiras mudam de lugar, os personagens trocam de figurino, mas a música é sempre a mesma. E mesmo assim, a plateia aplaude — talvez por costume, talvez porque não entendeu direito a peça.

Na última dança das cadeiras, a Secretaria Adjunta de Mulheres ganhou uma nova titular. Sai um homem técnico, entra uma mulher política. Ganha-se um símbolo, perde-se um motor. Como se resolver um problema com um gesto simbólico fosse suficiente para fazer um carro andar. Mas é Natal — aqui já se tentou dirigir um ônibus com promessa.

Midiany Geizy, recém-egressa de uma queda na Cultura causada por um desentendimento de bastidor (ou de sofá), ressurgiu como adjunta das Mulheres. Foi um movimento elegante, se visto de longe: retirou-se um homem de um cargo que deveria ser feminino e realocou-se uma mulher que precisava urgentemente de um cargo. Dois coelhos com uma canetada só.

Claro, ninguém falou disso desse jeito. Falaram em escuta dos movimentos, em compromisso com a pauta de gênero, em avanços. Esqueceram de dizer que tudo começou com uma briga entre a esposa de um vereador e uma secretária. Política pública, em Natal, às vezes se faz com indiretas no WhatsApp.

Enquanto isso, o técnico Saulo Spinelly, que mantinha a engrenagem girando — mesmo sendo um corpo estranho na lógica do símbolo —, sai de cena. Não por incompetência, mas por excesso de coerência. Uma qualidade que, como sabemos, pesa demais para quem vive de acordos leves.

No fim, a Secretaria fica como muitas secretarias ficam: nas mãos de quem tem pouca autonomia e muita maquiagem. Não a maquiagem das mulheres, mas a da política: aquela base grossa que tenta esconder o vazio atrás do espelho.

E o povo, como sempre, assiste. Uns acham que foi avanço. Outros não entenderam nada. E alguns, mais atentos, percebem que a dança é bonita, mas sempre termina com a cadeira quebrada.

Wesley de Lima Caetano (geleia)


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