Olá, queridos! Como vão?
Essa busca pelo autoconhecimento que falamos sempre aqui, caminho sem volta que tomei, e do qual não me arrependo um segundo, não foi algo que surgiu para mim facilmente, mas que se mostrou bastante necessária.
Eu passei muito tempo sem entender quem eu era, qual era meu lugar no mundo, como eu me encaixava na minha família, entre minhas amizades, colegas de profissão. Imagino que muitos de vocês possam ter tido o mesmo questionamento, em algum momento da vida.
Acredito que algo que contribuiu muito para a demora de me enxergar, de entender todos esses questionamentos, foi eu ter buscado essas respostas nas expectativas alheias, e não onde elas realmente estavam, que é, e sempre foi, dentro de mim mesma. Não que eu tenha encontrado todas essas respostas, ainda as busco. Sempre buscamos.
Sei que muitos vão concordar comigo quando digo que já nascemos cheios de expectativas alheias, seja essa expectativa a respeito de que profissão seguiremos, que estilo de vida teremos, que relacionamentos nos envolveremos.
Claro que toda essa expectativa vem através de enorme bem querer que as pessoas, que esperam tudo isso de nós, têm por nós. Isso é certo. Porém, ainda assim, são expectativas criadas a respeito de um ser humano que às vezes nem nasceu ainda, mas já carrega um enorme peso de tudo aquilo que esperam dele.
Não querendo entrar em debate de gênero nesse texto, mas, por fazer parte dele, é algo do qual não posso fugir, meu olhar está imerso nisso, posso dizer sem medo de errar que as expectativas que se criam sobre as meninas, futuras mulheres, são ainda muito mais pesadas. Por vezes, cruéis.
Mas falemos dessa expectativa alheia de forma geral. Uma cobrança que existe para que tenhamos pontos de vista alinhados aos daqueles com quem convivemos, para que tenhamos gostos parecidos também. Hábitos. Passatempos. Ideologias.
A sociedade cunhou o termo ovelha negra para rotular aquele, dentre os seus, que era diferente de todos. Uma imagem fortemente associada a jovens rebeldes e transgressores, que eram vistos assim, mas podiam muito bem ser apenas amantes de Paulo Coelho numa família apaixonada por Machado de Assis.
Para uma criança, é natural imitar os mais velhos, seus exemplos naturais. Mas quando a idade vai permitindo a esse indivíduo pensante o maravilhoso uso da palavra “por que?”, as diferenças podem surgir e esse mesmo indivíduo perceber que não gosta tanto assim de MPB, ou que prefere muito mais passear no campo que acompanhar a família à praia, ou que se diverte mais entre seus livros que em horas de fofocas entre amigos.
E nenhuma dessas atitudes ditas diferentes é sinônimo imediato de desgostar da companhia dos seus, ou menos ainda de querer julgar ou insinuar que seus gostos são ruins. Apenas que esse indivíduo está aprendendo a identificar os seus próprios gostos e isso fala apenas sobre si mesmo, não é uma indireta para ninguém.
Conheço pessoas que se sentem pessoalmente ofendidas se não concordamos com elas. Que entendem como um insulto, ao seu gosto pessoal, alguém manifestar que gosta de algo diferente, que pensa diferente. Como se alguém dizer que gosta de laranja está na verdade dizendo que maçãs são ruins.
Se vocês não estão entendendo o que eu quero dizer, juntem-se a mim, pois eu também não compreendo a lógica por trás desse tipo de raciocínio.
Por conta dessas expectativas dos outros, por conta de pessoas que, por quererem que sejamos felizes, tentam nos impor o que as faz feliz, acabamos aceitando tais modelos de felicidade sem sequer nos questionar se aquilo é nosso. Não nos permitimos descobrir algo nosso, quando o alheio já vem pronto.
“Ah, mas Fulana é tão feliz assim! Vou seguir a dica dela para ser feliz também!”
Provavelmente, Fulana é feliz assim porque faz o que faz da forma que ela se sente bem. O resultado que alcançou com suas buscas a faz sentir confortável com suas escolhas, se sentir em casa, pertencente àquele lugar em que chegou.
Mas, e você? Você questiona se os modelos que segue são modelos emprestados ou se eles vêm de um desejo interno? A profissão que escolheu, a cidade em que vive, o estilo qual se veste, a pessoa com quem se relaciona, os livros que lê, ou se não lê, as músicas que ouve, ou se odeia música. Sobre todas essas escolhas, alguma vez já se questionou se as fez por um desejo interno seu, ou se apenas seguiu o que outra pessoa orientou sem sequer entender se era o que caberia para você?
Eu já me senti atraída por várias escolhas que, posteriormente, descobri que não eram minhas. Percebi que me senti atraída pela felicidade de quem falava dessas escolhas com uma luz que irradiava. Achava que se escolhesse aquele caminho, teria a mesma luz de felicidade em mim. Ledo engano.
O que acontece hoje é que percebo, sim, essa luz de felicidade numa crescente proporcional ao tanto de escolhas que faço em sintonia com aquilo que aprendi a entender como meu, com minhas vontades.
Percebo que quanto mais silencio as vozes dos outros, quanto mais me escuto, quanto mais me volto para mim mesma, mais perto da minha essência eu fico. E a essência de cada um de nós, queridos, tem um brilho tão forte que quase cega. E é ao nos aproximarmos dela que passamos a sentir essa felicidade irradiante.
Confesso que, por muito tempo, quis atingir essas expectativas que existiam sobre mim. Queria mostrar para as pessoas que me cercam o quanto as respeito, seguindo suas opiniões e seus modelos de vida. Mas, uma voz interna certa vez me fez uma pergunta que me libertou dessa necessidade de seguir, cegamente, às expectativas alheias.
Essa voz me olhou ternamente e questionou: “Mas, se eu quiser alcançar as expectativas alheias sendo outra pessoa, quem que vai ser eu?”
Independente da crença de cada um, é certo que estamos aqui nesse mundo com um propósito. E cada ser humano tem o seu propósito. Eu, ao deixar de ser eu mesma, na minha mais pura essência, estou descumprindo o propósito que me trouxe até aqui.
Quem convive comigo hoje, muito provavelmente, já me ouviu repetir um pensamento que gosto muito: “Desses bilhões de seres humanos que existem nesse planeta, só você tem o privilégio de ser você!”. Isso não é maravilhoso de se pensar? É libertador, é leve, é… é inspiração! Inspiração para nos encher de coragem e mandar as expectativas alheias às favas (sejamos educados com os endereços para os quais mandamos as coisas, ok).
Afinal, se só eu posso ser eu, então ninguém nunca foi eu. Concordam? E se ninguém nunca foi, então ninguém sabe como melhor ser. Só quem vai descobrir isso sou eu mesma. À medida que vivo minha vida com minhas próprias escolhas. À medida que me conheço e me entendo. À medida que experimento simplesmente ser.
E se eu errar, tudo bem. Tenho uma frase que diz: “Se é pra amargar uma decisão errada, que seja fruto da sua vontade e não das certezas incertas alheias.”.
Quanto às expectativas alheias, aquelas que vêm recheadas de vontade de nos ver feliz, de nos ver fazer boas escolhas, de nos ver crescer. Essas, a gente agradece, de coração, e delas a gente fica com o carinho, o apoio e o amor que vem junto. Porque as escolhas, com todo respeito que cabe aos que nos amam, as escolhas são só nossas para serem feitas.
Espero que você se questione, se pergunte, que experimente, viva, aprenda, observe, se jogue, que faça tudo isso num delicioso movimento de se descobrir, e seguir com a tranquilidade de que suas escolhas são mesmo suas, ainda que parecidas com as dos outros, mas que saíram lá de dentro da sua essência, prontinhas para ganhar o mundo!
Até a próxima!