A alta do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os combustíveis, que entrou em vigor no último sábado (1º), deve gerar reflexos diretos na cadeia de produção de alimentos em todo o Brasil. No Rio Grande do Norte, os alimentos mais afetados serão os hortifrutigranjeiros, mas carnes e outros produtos também sentirão o impacto. A previsão é que novos aumentos de preços nas prateleiras dos supermercados comecem a ser sentidos em breve.
A principal razão para esse aumento está no reajuste do preço do diesel, que sofreu um acréscimo de R$ 0,06, ou 5%. Esse reajuste é um dos maiores responsáveis pela alta nos custos do transporte de mercadorias, impactando principalmente os produtos que dependem de longas distâncias para chegar ao consumidor final. O economista Emanoel Márcio Nunes, professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), explica que o transporte de alimentos no Brasil é feito majoritariamente por rodovias e, por isso, qualquer aumento no preço do diesel afeta diretamente os fretes, que por sua vez influenciam os preços dos produtos.
“Ao subir o diesel, não são apenas os fretes que aumentam, mas também os custos com tratores, colheitadeiras e outros equipamentos utilizados na produção de alimentos”, afirma Nunes.
O impacto também se estende a outros setores. Segundo o economista Helder Cavalcanti, o diesel é essencial em toda a cadeia de produção, desde o transporte até os insumos utilizados na produção de alimentos. William Eufrásio, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), destaca que os hortifrutigranjeiros serão os mais afetados no estado, principalmente os produtos que não são cultivados na Região Metropolitana de Natal. “O aumento no custo de transporte leva ao encarecimento dos alimentos, especialmente aqueles produzidos mais distantes do centro consumidor”, afirma Eufrásio.
A previsão é de que os aumentos de preços comecem a aparecer rapidamente. Segundo Emanoel Márcio Nunes, é possível que nas próximas semanas já seja possível perceber o impacto nas prateleiras dos supermercados, com um aumento imediato nos preços dos produtos mais vulneráveis à alta do combustível, como frutas, verduras e legumes.
Geraldo Paiva, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do RN, explica que os supermercados, por conta dos estoques, podem demorar cerca de 15 a 20 dias para repassar esses aumentos aos consumidores. “Mesmo com os preços elevados, vamos ter que aumentar os valores para cobrir os custos dos novos reajustes”, diz Paiva.
Mikelyson Góis, presidente da Associação dos Supermercados do RN, ressalta que, embora ainda seja difícil mensurar o impacto exato, os produtos perecíveis, como frutas, verduras e carnes, serão os mais afetados. “Esses produtos, que têm uma reposição semanal, vão sofrer mais com o aumento do frete e já veremos uma mudança de preços nesta semana”, afirma Góis.
Marcelo Queiroz, presidente da Fecomércio-RN, alerta que o impacto do aumento do diesel também será repassado para outros setores, como os serviços de alimentação fora do domicílio. “O aumento de custos logísticos é um desafio para o setor do comércio de bens e serviços, e isso se reflete no aumento dos preços para o consumidor final”, conclui Queiroz.
Reajuste no frete eleva custos operacionais
A alta no preço do diesel também gerou um aumento nos custos operacionais do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC). A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&LOGÍSTICA) divulgou, nesta segunda-feira (03), um comunicado informando que será necessário repassar os aumentos nos preços de combustíveis e outros custos para as tarifas de frete. O diesel, que representa cerca de 35% dos custos do TRC, teve dois reajustes consecutivos: o primeiro, devido ao aumento na carga tributária com a alteração na legislação do ICMS, e o segundo, de 6,29%, anunciado pela Petrobras no fim de janeiro.
De acordo com a NTC&LOGÍSTICA, os custos com transporte de cargas, que já estavam pressionados pela alta da Selic e aumento das despesas trabalhistas, sofreram uma elevação significativa. A associação destaca que, devido às margens reduzidas de rentabilidade do setor, a repassagem dos custos de transporte ao consumidor final é inevitável.
Com isso, a tendência é que os preços dos alimentos e outros produtos transportados por rodovias sigam em alta, reforçando a preocupação de empresários e consumidores em relação aos impactos no orçamento doméstico.
Com informações da Tribuna do Norte