Olá, queridos! Como vão?
Mais uma vez chegamos naquela época do ano, a tal época em que olhamos o trajeto que fizemos de janeiro a dezembro, pesamos todos os nossos passos e escolhas e avaliamos se o saldo foi positivo ou não.
A tal época em que fazemos nossas resoluções para o ano que está por vir, a famosa lista do que queremos conquistar e realizar no ano seguinte. Acontece que não basta fazer essa lista, nem mesmo basta realizá-la. Precisamos, acima de tudo, fazer as pazes com as resoluções que não realizamos, e talvez sequer venhamos a realizar.
Claro que é saudável traçar metas e ter objetivos definidos. Correr atrás dos nossos sonhos, plantar as sementes daquilo que queremos colher no futuro. Não estou, de forma alguma, incentivando que alguém desista disso. Longe de mim!
Afinal, é definindo o que queremos e traçando objetivos claros que alcançaremos!
O que estou tentando dizer, e que aprendi a duras penas, é que se eu ficar me culpando e me criticando pelas metas que não alcancei, isso não vai fazer com que eu as alcance, como também vai me atrasar para alcançar as que de fato posso.
Apesar de parecer muita coisa, uma vida toda pode não ser tempo suficiente para mudar tudo que queremos. E independente disso, continuaremos sendo nós mesmos, na nossa essência, ano após ano. E a depender da sua forma de olhar para isso, pode nem ser algo tão ruim assim.
Uma frase que gosto muito, e que acho que ilustra bem esse equilíbrio entre sermos nós e a nossa eterna tentativa de melhorar e evoluir, é o título de um dos álbuns do Gabriel, o Pensador: “Seja você mesmo, (mas não seja sempre o mesmo)”. Entendo como um chamado a evoluir, mas um aviso de que jamais fugiremos de nós mesmos.
Nesse quesito, as resoluções de ano novo têm uma simbologia muito significativa, pois depositamos uma fé tão intensa nelas, que já nos vemos melhorados e transformados em pessoas novas, pela simples força da fé em nossas resoluções. Mas não nos enganemos: há um limite até onde podemos, de fato, nos tornar alguém novo. Repito, jamais fugiremos de nós.
Como todos vocês, eu também coloco muita fé em meus vários desejos de melhorias. Uma das tantas resoluções de ano novo que já fiz foi sobre conseguir modificar, em mim, partes que me atormentavam, que eu achava que devia corrigir, melhorar, extinguir até.
Confesso que algumas eu consegui, ou achei que tinha conseguido. Por um bom tempo deixei de notar essas tais partes, mesmo em situações em que, antigamente, eram como reações instantâneas, como o apertar de um botão.
Até que, com o passar do tempo, e à medida que eu investia mais e mais em olhar para dentro, eu as vi por lá. Guardadinhas, latentes, olhando de volta para mim com olhinhos assustados de criança arteira calculando rota de fuga do castigo.
Uma a uma elas fugiram. Quando eu achava que as tinha sob controle, elas vieram e me controlaram. Minha sorte foi que, ao invés de me desesperar e achar que tinha regredido, eu entendi que o caminho não era controlar ou extinguir essas partes, mas sim aprender a conviver com elas. E passei a vê-las com outros olhos.
A fujona mais recente foi a raiva. Eu pensei que tinha que ser uma pessoa livre de raiva, que devia estar acima disso, já que a raiva me fazia tão mal, inclusive fisicamente. E só então, quando ela não aguentou mais e explodiu, depois de tanto tempo sufocada, meu corpo inteiro sentiu o efeito positivo de deixá-la livre.
E assim eu aprendi que se quero ser alguém livre de raiva, eu preciso libertá-la primeiro. Ela é um ente com vida própria, que não vai deixar de existir, até porque sua existência tem como propósito, também, me proteger. Nem que seja para me avisar, carinhosamente: “Acorda, criatura! Estão tentando te fazer de besta!”.
Como a raiva, muitas outras partes de mim que eu tinha certeza que precisava mudar se mostraram essenciais, não só para minha existência, meu bem estar, mas também para compor o todo que define quem eu sou.
(Fazendo um adendo, no recente filme do ator Ralph Fiennes, “Conclave”, seu personagem diz a seguinte fala “Há um pecado que passei a temer acima de todos: a certeza. Se houvesse apenas certeza e nenhuma dúvida, não haveria mistério.”. Só uma reflexão para colocarmos sob perspectiva nossas certezas e investigarmos até onde elas são tão certas assim.)
Já discutimos aqui sobre sermos compostos de partes luz e partes sombra, que devemos abraçar nossas sombras para mudá-las. Acontece que hoje, eu precisava falar sobre as sombras que não conseguiremos, e nem deveríamos, mudar ou extinguir.
Assim, decidi colocar em minhas resoluções de ano novo a aceitação. Aceitar com acolhimento e paciência as minhas partes sombra e receber delas todas as vantagens que podem me trazer, por mais estranho que isso pareça.
Que estejamos sempre conscientes da nossa necessidade de melhoria, da nossa lista de resoluções não realizadas e da importância de nos acolhermos, tendo alcançado essas resoluções, ou não. Afinal, o ano pode ser novo, mas ainda será você, a sua essência, que vai te acompanhar nesse e nos próximos anos novos que virão, com todas as suas resoluções.
Desejo a todos vocês um Feliz Ano Novo, repleto de autoaceitação, auto acolhimento e muitos avanços na jornada do autoconhecimento.
Até a próxima!
Maravilhosa reflexão
👏👏👏
Muito bom Fernanda!👏
A mudança começa em nós,vamos nos libertar, mesmo que precisamos começar de novo .
Excelente, Fernanda!
Uma reflexão madura e sensata, de quem já trilhou (e continua) um caminho de autoconhecimento 🪴