A droga como fuga e a superação de quem quase morreu



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Imagem Anderson Régis

Vivendo nas ruas com a incerteza da sobrevivência, tendo como companhia a fome, o frio, a saudade de casa e o peso do que a levou até ali. A dependência das drogas chegou de maneira rápida e quase letal na vida de Ana Arcanjo, 29 anos. O consumo de maconha e cocaína, como refúgio da sua inocência roubada, abriu as portas para que experimentasse outras drogas. De forma rápida, a pedra pequena e poderosa mostrou à jovem seus dois lados da moeda: o prazer e a devastação.

Os nove anos nos quais sofreu abuso sexual, por seu próprio pai adotivo, fizeram com que algo morresse dentro de Ana. Os abusos tiveram início quando ela ainda estava com seis anos de idade. A falta de esperança e o medo de que o pesadelo não tivesse fim levaram a jovem ao mundo da dependência química.

17 anos, grávida e imersa no vício, Ana teve que fazer uma escolha. Durante a gestação conseguiu ficar limpa e deu à luz uma menina saudável. Mas os dias longe do crack não duraram muito. Aos 18 anos foi expulsa de casa – já havia vendido todos os objetos que existiam em seu quarto, tudo para alimentar a dependência.

Abandonada à própria sorte, passou a morar em uma comunidade comandada pelo tráfico de drogas. A luta pela sobrevivência era constante, passou a trabalhar com reciclagem – catando latinhas -, e diariamente batia de porta em porta para pedir um prato de refeição. O crack, que foi seu companheiro durante quase uma década, era sustentado pelos “corres” que fazia para os traficantes, ou em último caso, recorria à prostituição.

Aceitando a fatalidade que seria terminar sua vida naquela situação, Ana foi vivendo um dia após o outro. “Não tinha esperanças de sair daquela vida, mas sempre orava. Eu ainda tinha fé, uma bem pequenina”, contou. Ela só não imaginava que o rumo da sua vida estava prestes a mudar.
Após oito anos vivendo ao acaso dos perigos da rua, teve que ser hospitalizada devido a uma grave tuberculose. Cada suspiro era um lembrete doloroso de sua fragilidade. Os dias que passou no Giselda Trigueiro lhe deram forças para que ela rompesse definitivamente com o vício.

Ressocialização

“Deus tem um propósito para cada um de nós, é ele que nos dá vida em abundância, fé, coragem e força de vontade para enfrentar as adversidades”, diz Ana. Foto: Anderson Régis.

Ana finalmente teve alta. Mas voltar para perto de sua família não era uma possibilidade, seu pai não permitiria. Com medo de retornar para as ruas e determinada a sair daquela situação, contou com a ajuda da assistência social do hospital, que encaminhou a jovem para um dos albergues municipais de Natal.

A luz no fim do túnel veio com a ajuda de uma equipe multidisciplinar, que contava com psicólogo, cuidadores e assistentes sociais que ajudariam Ana na jornada.

O desejo de voltar a estudar batia em seu peito. Concluiu o ensino médio e passou para o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), conquistando o diploma de técnica em gás e petróleo. Hoje, Ana é graduanda em Segurança Pública. Mas seu grande sonho é se formar em direito e tornar-se policial.

Durante o período que passou no albergue, Ana conheceu Breno Henrique Costa de Mello, coordenador do local, que lhe ofereceu uma oportunidade de emprego. Ela começou atuando como Assistente de Serviços Gerais (ASG), foi promovida a recepcionista e hoje é auxiliar administrativa do setor de benefícios da SEMTAS (Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social).

Para Breno é gratificante relembrar a história de superação de Ana. Ele diz que o que o motiva é “saber que todo o trabalho vale a pena, quando nós vemos resultados como este. Nosso trabalho é conseguir trazer de volta a dignidade e o sentimento de ser humano para pessoas que depositam todas as suas esperanças nesse objetivo”.

Breno também reafirma a importância de projetos como esse. “Sabemos que, para conseguir recalcular a rota e traçar um novo caminho, precisa do apoio das políticas públicas e da força de vontade da pessoa, como foi o caso de Ana.”

Os sete meses nos quais fez do alojamento seu lar deram a Ana a esperança de um recomeço. Há dois anos os vestígios do crack são apenas lembranças de dias ruins em uma época distante. O laço com a família foi refeito. Depois de retomar o comando de sua vida, ela retomou também o contato com sua filha, que continua sendo criada pela mãe de Ana.

Para Ana, sem a fé e as boas pessoas, nada disso seria possível. “Deus tem um propósito para cada um de nós, é ele que nos dá vida em abundância, fé, coragem e força de vontade para enfrentar as adversidades”, comentou Ana, com o enorme sorriso de quem nasceu de novo.








O Potengi

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A droga como fuga e a superação de quem quase morreu



Imagem Anderson Régis


Vivendo nas ruas com a incerteza da sobrevivência, tendo como companhia a fome, o frio, a saudade de casa e o peso do que a levou até ali. A dependência das drogas chegou de maneira rápida e quase letal na vida de Ana Arcanjo, 29 anos. O consumo de maconha e cocaína, como refúgio da sua inocência roubada, abriu as portas para que experimentasse outras drogas. De forma rápida, a pedra pequena e poderosa mostrou à jovem seus dois lados da moeda: o prazer e a devastação.

Os nove anos nos quais sofreu abuso sexual, por seu próprio pai adotivo, fizeram com que algo morresse dentro de Ana. Os abusos tiveram início quando ela ainda estava com seis anos de idade. A falta de esperança e o medo de que o pesadelo não tivesse fim levaram a jovem ao mundo da dependência química.

17 anos, grávida e imersa no vício, Ana teve que fazer uma escolha. Durante a gestação conseguiu ficar limpa e deu à luz uma menina saudável. Mas os dias longe do crack não duraram muito. Aos 18 anos foi expulsa de casa – já havia vendido todos os objetos que existiam em seu quarto, tudo para alimentar a dependência.

Abandonada à própria sorte, passou a morar em uma comunidade comandada pelo tráfico de drogas. A luta pela sobrevivência era constante, passou a trabalhar com reciclagem – catando latinhas -, e diariamente batia de porta em porta para pedir um prato de refeição. O crack, que foi seu companheiro durante quase uma década, era sustentado pelos “corres” que fazia para os traficantes, ou em último caso, recorria à prostituição.

Aceitando a fatalidade que seria terminar sua vida naquela situação, Ana foi vivendo um dia após o outro. “Não tinha esperanças de sair daquela vida, mas sempre orava. Eu ainda tinha fé, uma bem pequenina”, contou. Ela só não imaginava que o rumo da sua vida estava prestes a mudar.
Após oito anos vivendo ao acaso dos perigos da rua, teve que ser hospitalizada devido a uma grave tuberculose. Cada suspiro era um lembrete doloroso de sua fragilidade. Os dias que passou no Giselda Trigueiro lhe deram forças para que ela rompesse definitivamente com o vício.

Ressocialização

“Deus tem um propósito para cada um de nós, é ele que nos dá vida em abundância, fé, coragem e força de vontade para enfrentar as adversidades”, diz Ana. Foto: Anderson Régis.

Ana finalmente teve alta. Mas voltar para perto de sua família não era uma possibilidade, seu pai não permitiria. Com medo de retornar para as ruas e determinada a sair daquela situação, contou com a ajuda da assistência social do hospital, que encaminhou a jovem para um dos albergues municipais de Natal.

A luz no fim do túnel veio com a ajuda de uma equipe multidisciplinar, que contava com psicólogo, cuidadores e assistentes sociais que ajudariam Ana na jornada.

O desejo de voltar a estudar batia em seu peito. Concluiu o ensino médio e passou para o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), conquistando o diploma de técnica em gás e petróleo. Hoje, Ana é graduanda em Segurança Pública. Mas seu grande sonho é se formar em direito e tornar-se policial.

Durante o período que passou no albergue, Ana conheceu Breno Henrique Costa de Mello, coordenador do local, que lhe ofereceu uma oportunidade de emprego. Ela começou atuando como Assistente de Serviços Gerais (ASG), foi promovida a recepcionista e hoje é auxiliar administrativa do setor de benefícios da SEMTAS (Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social).

Para Breno é gratificante relembrar a história de superação de Ana. Ele diz que o que o motiva é “saber que todo o trabalho vale a pena, quando nós vemos resultados como este. Nosso trabalho é conseguir trazer de volta a dignidade e o sentimento de ser humano para pessoas que depositam todas as suas esperanças nesse objetivo”.

Breno também reafirma a importância de projetos como esse. “Sabemos que, para conseguir recalcular a rota e traçar um novo caminho, precisa do apoio das políticas públicas e da força de vontade da pessoa, como foi o caso de Ana.”

Os sete meses nos quais fez do alojamento seu lar deram a Ana a esperança de um recomeço. Há dois anos os vestígios do crack são apenas lembranças de dias ruins em uma época distante. O laço com a família foi refeito. Depois de retomar o comando de sua vida, ela retomou também o contato com sua filha, que continua sendo criada pela mãe de Ana.

Para Ana, sem a fé e as boas pessoas, nada disso seria possível. “Deus tem um propósito para cada um de nós, é ele que nos dá vida em abundância, fé, coragem e força de vontade para enfrentar as adversidades”, comentou Ana, com o enorme sorriso de quem nasceu de novo.


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