Olá, queridos! Como vão?
Desde que a gente começa a se entender como gente, recebemos avaliações positivas e negativas a nosso respeito. Podemos até, antes disso, entender os ‘nãos’ que ouvimos e aprender que é errado roubar a chupeta da irmã mais nova ou que pular em cima da cama é garantia certa de bronca.
Mas, passando desse estágio inicial, ainda demora mais um tempinho para associar os comentários coléricos sobre nosso comportamento de quebrar as coisas em casa a nossa personalidade arteira.
E quando chega esse momento, somos apresentados a algo que é quase uma instituição da cultura humana: o julgamento alheio sobre nós.
Somos praticamente condicionados a ouvir as ditas críticas construtivas, pois supostamente nos são feitas intencionando nosso bem, nosso crescimento pessoal. Aprendemos a ouvir a opinião alheia, sobre coisas negativas de nós, de tal forma que se torna muito fácil nos prender em uma análise negativa nossa, sobre nós mesmos.
E aprendemos a dar ouvidos a esses comentários porque não só nos é ensinado, como também começamos a entender que as pessoas que nos amam, se importam conosco e, principalmente, são responsáveis pela nossa criação, tecem tais comentários (e broncas) no intuito de nos mostrar que podemos ser sempre melhores, que podemos aprender a ser seres humanos sempre em evolução.
É fato que precisamos, sim, dar ouvidos a algumas dessas críticas construtivas. Especialmente quando estamos recém chegados nesse mundo e aprendendo a ser gente. Também, à medida que vamos crescendo e aprimorando esse conceito. Mas, estejamos atentos ao que se fala e a quem fala.
Em outro momento, aqui nessa coluna, falamos sobre a importância de olhar para dentro e nos permitir conhecer todas as nossas sombras. Aceitar e abraçar uma a uma para, assim, aprender a lidar com elas e, quando possível, modificar esse lado nosso que nos desagrada.
Acontece que o caminho do autoconhecimento, como já disse aqui outras vezes, pode até ser um caminho dolorido, tortuoso, longo, mas sempre será um caminho que vale a pena, um caminho com saldo sempre positivo no final.
Então, como podemos manter nossa disposição em continuar nos conhecendo quando sempre damos ouvido aos comentários negativos sobre nós ou quando encontramos cada vez mais sombras e defeitos em nós mesmos e permitimos que isso tudo nos deprima, ou nos convença, de forma muito errada, que somos, de alguma forma, definidos por esse ou aquele defeito ou sombra?
Apesar de ser um caminho que requer aprofundamento, o autoconhecimento também requer, firmemente, o equilíbrio. Nem tanto buscar apenas defeitos, nem tanto fazer-nos de cegos a eles.
Eu tive vontade de falar sobre isso, nesse texto de hoje, depois que assisti a um vídeo em que, claro que em uma brincadeira, um cachorro recebia a avaliação de desempenho por parte de sua tutora. Avaliação essa que trazia vários apontamentos negativos do comportamento dele.
Fica bem claro no vídeo que o cachorro realmente apresentava os comportamentos narrados na tal avaliação de desempenho. Mas minha questão não é essa. O que me pegou nesse vídeo foi que, ao final, quando sua tutora questiona o que ele pretende fazer sobre isso, o cachorro come a avaliação. E ponto final.
Aqui um adendo, para que créditos sejam devidamente dados, da história do cachorro e da imagem neste texto, eis o perfil onde foi postado esse vídeo: @afernandaarantes
Voltando. Eu acabei interpretando nas cenas (e aqui é só minha opinião porque não sou especialista em linguagem canina) que o cachorro estava já sem paciência de tanto receber críticas e apontamentos sobre seu mal comportamento. Cansado disso tudo ele põe fim à fonte do que lhe aborrece e come o papel que representa tudo isso.
Nós, por vezes, caímos em uma cilada muito comum que é a de só olhar nossos defeitos. Como já disse, o caminho do autoconhecimento precisa de equilíbrio. Não vamos chegar a lugar nenhum somente querendo modificar nossos defeitos. Somente prestando atenção nas partes de nós que outros, e nós mesmos, desgostamos.
Tudo bem, eu sei que muita gente pode me responder que não se importa com a opinião alheia. Excelente! Continue assim. Mas ainda resta nossa própria opinião sobre nós mesmos, que pode ser maculada por um descuido nosso, por nos deixarmos levar pela sensação de que só temos defeitos, à medida que vamos conhecendo cada um deles.
Certa vez, eu descobri em mim um defeito que detesto. Detesto mesmo! Um sentimento que sei que baixa muito minhas vibrações e que me coloca numa energia muito estranha. Percebi que senti inveja de alguém. Quando notei isso, me senti a pior pessoa do mundo. Um sentimento que sempre fiz questão de manter longe de mim, estava lá, entranhado no fundo do meu ser.
A princípio, me senti muito mal. Queria me livrar daquilo a qualquer custo, queria aquele sentimento e aquela energia longe de mim. Mas precisei de várias reflexões internas até entender duas coisas:
uma, o que aquela pessoa tinha que me fez sentir inveja era algo que representava uma falta minha, que jamais seria preenchida por aquilo que a pessoa tinha e que só foi preenchida quando recordei a mim mesma que cada um tem sua história, seu propósito e seu caminho. E que minha história e meu caminho já são repletos de muitas bênçãos e coisas maravilhosas que agradecer;
duas, eu sou apenas humana. Tão simples, não é? Sou apenas humana. Eu vou ter sentimentos ruins, sombras, defeitos. Não sou menor ou pior, enquanto pessoa, por sentir isso. O que faz de mim um ser humano melhor é não externar meus sentimentos ruins, é não agir como eles, mesmo quando penso daquela forma. É achar de onde vem esse sentimento e transformá-lo. Como minha inveja que transformei em auto aceitação.
O que eu fiz com meu sentimento ruim foi comer a minha autoavaliação de desempenho, igualzinho ao cachorro do vídeo, em um momento em que olhar diretamente para minha sombra estava me desmotivando a continuar me conhecendo.
Por vezes temos de fazer isso, sim. Não digo ignorar nossos defeitos. Mas tentar abordá-los pelas beiradas, quando for muito difícil olhar nos olhos deles. Ou até mesmo dar uma pausa estratégica, por que não? Apenas pausa, ok?
Além do mais, todos temos uma quantidade gigantesca de qualidades, as quais também devemos reconhecer e nos sentir orgulhosos delas. Sempre mantendo o equilíbrio para que jamais percamos a disposição e a vontade de percorrer o caminho do autoconhecimento.
Que nós consigamos manter o equilíbrio igual quando se anda de bicicleta: no limiar entre não se deixar cair nem para um lado, nem para o outro, e sempre em frente!
Até a próxima!
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