Donald Trump está enfrentando várias acusações, mas há uma que pode prejudicar seriamente sua reputação como magnata. Entre as diversas ações legais contra o ex-presidente, um julgamento civil em andamento em Nova York, movido pela procuradora-geral do estado de Nova York, Letitia James, parece ser o que pode atingi-lo com mais força.
Até o momento, Trump enfrenta quatro casos criminais distintos, totalizando 91 acusações criminais em quatro estados diferentes. Além disso, há um processo civil por fraude sendo julgado em Manhattan e uma segunda ação por difamação movida pela escritora E Jean Carroll, que acusou Trump de agressão sexual. Trump foi considerado culpado e ordenado a pagar US$ 5 milhões a Carroll.
O caso criminal mais perigoso para o ex-presidente, considerando a gravidade das acusações e a aparente clareza das evidências, é conhecido como “caso dos documentos classificados”, movido na Flórida pelo procurador especial Jack Smith. Este caso, com julgamento previsto para maio do próximo ano, envolve 40 acusações criminais, sendo a mais grave passível de uma pena máxima de 20 anos de prisão. A defesa de Trump – que ele “desclassificou” os documentos antes de removê-los da Casa Branca – parece contradita por evidências de áudio em que Trump afirma que poderia ter desclassificado documentos “secretos”, mas optou por não fazê-lo.
Entretanto, a possível conclusão das esperanças políticas de Trump nesse caso não é tão evidente quanto parece. A audiência está designada para a juíza Aileen Cannon, indicada por Trump, e o júri será selecionado em distritos da Flórida que votaram maciçamente a favor de Trump. Além disso, trata-se de uma acusação federal, o que significa que, se os advogados de Trump conseguirem adiar a data de início além das eleições de novembro e Trump for reeleito, ele poderia instruir o Departamento de Justiça a encerrar todo o processo até o final de seu mandato.
O julgamento por obstrução de eleição é mais sério para Trump, sendo apresentado por Smith em relação às ações do ex-presidente antes da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Embora seja mais difícil provar as acusações mais graves de que Trump tentou subverter a democracia, ao contrário do caso dos documentos, este será julgado no Distrito de Columbia, onde o júri será formado por uma população majoritariamente democrata.
Resta o que, à primeira vista, parece ser o caso mais local e menos impressionante contra Trump, relacionado à interferência nas eleições na Geórgia. No entanto, este caso, que alega uma conspiração para reverter o resultado das eleições de 2020 na Geórgia, pode ser o mais promissor para prejudicar Trump. Isso ocorre porque foi movido sob a lei estadual, não federal, escapando assim da jurisdição de um presidente em exercício.
No entanto, mesmo com todos esses casos criminais, as pesquisas indicam que Trump não está em apuros. Seus números de aprovação permaneceram praticamente inalterados ao longo do último ano, mesmo diante das 91 acusações. Parece que, para seus apoiadores, mesmo ser descrito por um juiz como culpado de estupro não é um impedimento. Diante disso, o julgamento civil atual em Nova York, conduzido por Letitia James, poderia ser a maior ameaça à reputação de Trump como empresário. Este processo não implica prisão ou interrupção de sua candidatura presidencial, mas ameaça desmascarar sua imagem como um homem de negócios de renome e retirar sua licença para operar um negócio em Nova York.
Um juiz já o considerou culpado por fraude, e esta audiência visa avaliar o nível de danos. Ao contrário das outras ações legais contra Trump, que ele conseguiu apresentar como parte de uma vasta conspiração contra ele, o caso de fraude, alegando que inflou o valor de seus negócios para obter melhores taxas de empréstimo, o faz parecer desonesto, de pequena estatura, corrupto e, crucialmente, não tão rico quanto afirma ser.
Emma Brockes é colunista do The Guardian.