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As vezes, esse degustador de filmes e séries assiste algo e passa dias pensando se vale ou não apena escrever sobre e trazer aqui para sua leitura. Isso acontece porque escrevo desenjando que assista o filme e veja se compartilha das mesmas impressões que passo no texto. Mas, no caso desse filme escrevi assim que terminei de assistir, agora apresento a resenha para seu deleite.
O filme “Sugar Baby” (2021), dirigido por Mélissa Larivière, é uma reflexão perturbadora e atual sobre os perigos de viver imerso no mundo virtual. A trama acompanha a jovem Emma, interpretada por Noémie O’Farrell, que, em busca de validação e conexão, mergulha em um relacionamento virtual com um homem mais velho, explorando as dinâmicas de poder e as ilusões criadas pelas redes sociais e plataformas digitais. O filme não apenas retrata a busca por afeto em um ambiente digital, mas também expõe as armadilhas psicológicas e emocionais que surgem quando a vida real é substituída por uma realidade virtual.

Um dos pontos fortes do filme é a maneira como ele aborda a solidão contemporânea. Emma, uma jovem introvertida e insegura, encontra no mundo virtual um refúgio onde pode reinventar-se e sentir-se desejada. No entanto, essa fuga rapidamente se transforma em uma prisão, onde as fronteiras entre o real e o virtual se confundem.
A direção de Larivière é eficaz ao usar planos fechados e cores frias para transmitir o isolamento da protagonista, enquanto as cenas nas redes sociais são saturadas e brilhantes, simbolizando a falsa promessa de felicidade que o mundo digital oferece.
A crítica ao consumismo e à objetificação do corpo feminino também é central na narrativa. Emma, ao se envolver em um relacionamento de “sugar baby”, acaba sendo reduzida a um produto, negociando sua imagem e afeto em troca de atenção e presentes. O filme questiona até que ponto as plataformas digitais, ao incentivarem a exibição constante da vida privada, contribuem para essa mercantilização das relações humanas. A personagem de Emma torna-se um símbolo da geração que cresceu sob a influência das redes sociais, onde a autoestima é frequentemente medida por likes e seguidores.
No entanto, o filme peca em alguns momentos por sua abordagem superficial de temas complexos. A relação entre Emma e seu “sugar daddy” poderia ter sido explorada com maior profundidade, especialmente no que diz respeito às motivações psicológicas de ambos. Além disso, o final, embora impactante, parece apressado e deixa questões importantes sem resposta, como o impacto a longo prazo dessa experiência na vida da protagonista.
Apesar dessas falhas, “Sugar Baby” é um alerta necessário sobre os perigos de viver imerso no mundo virtual. O filme nos lembra que, embora a internet possa oferecer conexões instantâneas e uma sensação de pertencimento, ela também pode ser um espaço de alienação e exploração. Em uma era em que a vida online muitas vezes substitui a vida real, “Sugar Baby” serve como um espelho perturbador de nossas próprias vulnerabilidades e da facilidade com que podemos nos perder na ilusão do mundo digital.
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