Prisões, exílios e mortes: o rosto da repressão também assombrou o Rio Grande do Norte



Ícone de crédito As marcas da ditadura são até hoje lembradas na UFRN. Essa placa está situada na Biblioteca Central. Foto: Reprodução/UFRN




Prisões, exílios e mortes: o rosto da repressão também assombrou o Rio Grande do Norte





Ícone de crédito As marcas da ditadura são até hoje lembradas na UFRN. Essa placa está situada na Biblioteca Central. Foto: Reprodução/UFRN


Entre 1964 e 1985, o Rio Grande do Norte viveu, como o restante do país, os anos sombrios da ditadura militar. Apesar de distante dos grandes centros de poder, o estado foi palco de perseguições políticas, prisões, censura e resistência silenciosa, marcada por estudantes, jornalistas, sindicalistas e religiosos.

Logo após o golpe de 1964, lideranças ligadas ao governo João Goulart e aos movimentos de trabalhadores rurais e urbanos foram presas ou afastadas de seus cargos. A capital potiguar tornou-se ponto estratégico para as forças armadas, principalmente por abrigar bases militares e comunicações que ligavam o Nordeste ao restante do país.

Embora parte da população, especialmente sindicalistas e camponeses, tenham se colocado à disposição para resistir à ação dos militares, a saída do país de João Goulart e a atitude, em Natal, do prefeito Djalma Maranhão, de se entregar voluntariamente para evitar derramamento de sangue permitiu que o golpe de Estado rapidamente se consolidasse.

Djalma Maranhão havia sido eleito em 1961 e foi responsável pela erradicação do analfabetismo em Natal naquele período por meio da campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler, com matriz nas ideias de Paulo Freire. Com a prisão, ele foi exilado no Uruguai e nunca mais retornou à sua terra. Conta-se que morreu de saudade.

A ditadura em todos os lugares

Em Natal, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) foi um dos principais espaços de contestação e, ao mesmo tempo, de vigilância. Professores e alunos sofreram processos administrativos e cassações. O DOPS e o Exército mantiveram intensa vigilância sobre os movimentos estudantis e sindicais, especialmente os ligados aos portuários, bancários e trabalhadores da educação.

A Igreja Católica teve papel ambíguo: enquanto parte do clero apoiava o regime, outro segmento, influenciado pela Teologia da Libertação, acolhia perseguidos e denunciava violações de direitos humanos. O arcebispo Dom Nivaldo Monte, embora cauteloso, manteve diálogo com setores progressistas.

O jornalismo potiguar enfrentou forte censura. Jornais como o Diário de Natal e o Tribuna do Norte receberam ordens diretas para não publicar matérias consideradas “subversivas”. Ainda assim, repórteres locais conseguiram driblar a repressão por meio de metáforas e crônicas simbólicas.

A repressão

Durante os 21 anos de ditadura militar (1964–1985), o Rio Grande do Norte viveu uma repressão silenciosa, mas constante. O estado, embora distante dos grandes centros de resistência política, registrou dezenas de prisões, cassações e perseguições contra estudantes, sindicalistas, religiosos e intelectuais.

Logo após o golpe de 1964, forças do Exército e da Polícia Militar potiguar prenderam líderes camponeses e dirigentes da antiga Superintendência de Política Agrária (Supra), vinculada ao governo deposto de João Goulart. Muitos foram detidos sob acusação de “subversão” e enviados ao Quartel do 16º Regimento de Infantaria, em Natal, onde sofreram interrogatórios e maus-tratos.

Entre os casos mais emblemáticos está o de Luiz Maranhão Filho, jornalista, deputado cassado e dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Preso e torturado em 1974, Luiz Maranhão desapareceu nos porões da repressão e seu corpo jamais foi encontrado — tornando-se um dos nomes potiguares incluídos na lista oficial de mortos e desaparecidos políticos do Brasil.

Outros militantes, como Manoel Lisboa de Moura, líder da Ação Popular (AP), também foram vítimas da tortura e executados sob custódia militar. Diversos jovens potiguares se viram obrigados a fugir do país, buscando exílio em Cuba, Chile e França, onde continuaram a militância pela redemocratização.

Na UFRN, diversos estudantes foram presos por participarem de assembleias e manifestações. Professores foram afastados de suas funções por “atividade comunista” e submetidos à vigilância do DOPS. A censura também atingiu jornalistas que denunciavam abusos ou publicavam textos considerados “anti-patrióticos”. O Diretório Central dos Estudantes até hoje tem como patrono José Silton Pinheiro, estudante de pedagogia carbonizado dentro de um carro após troca de tiros com militares.

Apesar da brutalidade, o período deixou marcas de resistência e solidariedade. Organizações como a Comissão de Anistia e Direitos Humanos da OAB/RN e o Comitê da Verdade do RN seguem, ainda hoje, investigando nomes, locais de prisão e o destino dos que desapareceram — na tentativa de dar voz e justiça àqueles que foram silenciados.


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