Operação aponta suposto esquema com taxa de 12% sobre verbas públicas; líder do governo na Câmara e outros deputados são mencionados, mas negam irregularidades.
Uma investigação da Polícia Federal (PF) sobre desvios em emendas parlamentares no Ceará revelou indícios de um esquema que cobrava até 12% do valor repassado a prefeituras como contrapartida ilegal. O caso, que tem como alvo principal o deputado Júnior Mano (PSB-CE), também menciona emendas indicadas pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e pelos parlamentares Eunício Oliveira (MDB-CE) e Yuri do Paredão (MDB-CE). Nenhum dos três foi alvo de mandados de busca e apreensão, mas a PF defende a necessidade de “diligências investigativas” para esclarecer suas vinculações ao caso.
De acordo com a PF, o grupo criminoso, liderado pelo ex-candidato a prefeito de Choró Carlos Alberto Queiroz, conhecido como “Bebeto”, atuava na intermediação fraudulenta de recursos, direcionando verbas públicas para licitações suspeitas e campanhas eleitorais. Em mensagens interceptadas, os investigados se referiam à cobrança como “pedágio” ou “imposto”, prática que a PF classificou como “corrupção institucionalizada”.
Deputados Mencionados Rebatem Acusações
José Guimarães negou qualquer irregularidade, afirmando que não destinou emendas aos municípios citados. “Não enviei recursos para Choró, onde inclusive apoiamos um candidato adversário do atual prefeito”, declarou. Sobre Canindé, destacou que uma consulta ao Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) comprova a ausência de repasses em 2024 e 2025.
Eunício Oliveira, por meio de sua assessoria, afirmou que suas emendas são destinadas “com transparência e dentro da legalidade” e que solicitou ao Ministério da Saúde a suspensão de uma transferência recente a Canindé. Já Yuri do Paredão ressaltou que todos os recursos sob sua responsabilidade estão publicamente disponíveis no Portal da Transparência da Câmara.
A PF cumpriu mandados de busca e apreensão no gabinete e residências de Júnior Mano, autorizados pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O parlamentar, que nega envolvimento, é acusado de atuar como peça central no esquema, manipulando eleições municipais por meio de compra de votos e desvio de verbas.
Entre as evidências coletadas estão diálogos em que Bebeto menciona Guimarães e Eunício como responsáveis por emendas específicas. Em um dos trechos, ele alega que o líder do governo teria liberado R$ 2 milhões para Choró, enquanto Eunício indicou R$ 1 milhão para Canindé. A PF também ouviu uma ex-prefeita de Canindé que afirmou ter rompido com o grupo após se recusar a devolver 10% do valor de duas emendas atribuídas a Guimarães.
A investigação segue em andamento, com a expectativa de que novas diligências esclareçam o papel dos mencionados e a extensão do suposto esquema.
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