Parceiros e ex-parceiros são responsáveis por 70% dos casos de violência contra mulheres

Ícone de crédito Foto: Cleverson Nunes/CMSJC





Estudo realizado pelo Fórum de Segurança Pública em parceria com o Instituto Datafolha, intitulado “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, revela que aproximadamente 70% das agressões contra mulheres são cometidas por parceiros ou ex-parceiros. A pesquisa também destaca que 57% dessas violências ocorrem dentro da própria residência das vítimas, evidenciando que o lar, longe de ser um local seguro, é o principal cenário de abusos domésticos.

Os números mostram que a violência de gênero atingiu níveis alarmantes, superando os registros desde 2017. De acordo com Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esse aumento pode estar relacionado ao fato de que mais mulheres estão se identificando como vítimas de agressões. “Hoje, situações que antes eram vistas como normais estão sendo reconhecidas como violência, graças a avanços legislativos e à conscientização sobre o tema”, explica.

Testemunhas presentes, mas silenciosas

A pesquisa aponta que 91,8% das agressões contra mulheres em 2024 foram presenciadas por terceiros. Em cerca de um terço dos casos, os filhos das vítimas estavam presentes durante os episódios de violência. Apesar disso, quase metade das mulheres (47,4%) não toma nenhuma atitude após sofrer agressões. Entre as que buscam ajuda, 19,2% recorrem a familiares, enquanto 15,2% procuram amigos. A polícia é acionada em apenas 14,2% dos casos, com uma parcela ainda menor (10,3%) procurando delegacias especializadas.

Entre os motivos para não denunciar, destacam-se a resolução do problema por conta própria (36,5%), a falta de provas (17,7%), o medo de represálias (13,9%) e a desconfiança na eficácia da polícia (14%).

O estudo ouviu 1.040 mulheres e mostrou que, apesar de avanços como a Lei do Feminicídio (2015) e sua consolidação como crime autônomo em 2024, a violência contra mulheres continua a crescer. Juliana Martins, coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, sugere que esse aumento pode ser um “efeito rebote”, no qual conquistas femininas despertam reações machistas e patriarcais, reforçando a violência como forma de manter o controle.

Samira Bueno complementa que discursos públicos que relativizam a violência de gênero e a misoginia propagada por figuras influentes contribuem para um ambiente que normaliza as agressões. “Essas narrativas criam um cenário que, de certa forma, autoriza e incentiva comportamentos violentos”, afirma.

Tipos de violência em ascensão

A pesquisa detalha os diferentes tipos de violência sofridos pelas mulheres. Em 2024, 31,4% das entrevistadas relataram ter sido insultadas, humilhadas ou xingadas, um aumento de 22,2% em relação a 2017. Além disso, 16,9% sofreram agressões físicas, como tapas, empurrões e chutes, enquanto 16,1% foram ameaçadas ou perseguidas. Casos de stalking (perseguição) também cresceram 9,3% no período. Outro dado preocupante é que 10,7% das mulheres foram vítimas de tentativas de relações sexuais forçadas ou ofensas de cunho sexual, o que equivale a aproximadamente 5,3 milhões de brasileiras.


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Estudo realizado pelo Fórum de Segurança Pública em parceria com o Instituto Datafolha, intitulado “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, revela que aproximadamente 70% das agressões contra mulheres são cometidas por parceiros ou ex-parceiros. A pesquisa também destaca que 57% dessas violências ocorrem dentro da própria residência das vítimas, evidenciando que o lar, longe de ser um local seguro, é o principal cenário de abusos domésticos.

Os números mostram que a violência de gênero atingiu níveis alarmantes, superando os registros desde 2017. De acordo com Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esse aumento pode estar relacionado ao fato de que mais mulheres estão se identificando como vítimas de agressões. “Hoje, situações que antes eram vistas como normais estão sendo reconhecidas como violência, graças a avanços legislativos e à conscientização sobre o tema”, explica.

Testemunhas presentes, mas silenciosas

A pesquisa aponta que 91,8% das agressões contra mulheres em 2024 foram presenciadas por terceiros. Em cerca de um terço dos casos, os filhos das vítimas estavam presentes durante os episódios de violência. Apesar disso, quase metade das mulheres (47,4%) não toma nenhuma atitude após sofrer agressões. Entre as que buscam ajuda, 19,2% recorrem a familiares, enquanto 15,2% procuram amigos. A polícia é acionada em apenas 14,2% dos casos, com uma parcela ainda menor (10,3%) procurando delegacias especializadas.

Entre os motivos para não denunciar, destacam-se a resolução do problema por conta própria (36,5%), a falta de provas (17,7%), o medo de represálias (13,9%) e a desconfiança na eficácia da polícia (14%).

O estudo ouviu 1.040 mulheres e mostrou que, apesar de avanços como a Lei do Feminicídio (2015) e sua consolidação como crime autônomo em 2024, a violência contra mulheres continua a crescer. Juliana Martins, coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, sugere que esse aumento pode ser um “efeito rebote”, no qual conquistas femininas despertam reações machistas e patriarcais, reforçando a violência como forma de manter o controle.

Samira Bueno complementa que discursos públicos que relativizam a violência de gênero e a misoginia propagada por figuras influentes contribuem para um ambiente que normaliza as agressões. “Essas narrativas criam um cenário que, de certa forma, autoriza e incentiva comportamentos violentos”, afirma.

Tipos de violência em ascensão

A pesquisa detalha os diferentes tipos de violência sofridos pelas mulheres. Em 2024, 31,4% das entrevistadas relataram ter sido insultadas, humilhadas ou xingadas, um aumento de 22,2% em relação a 2017. Além disso, 16,9% sofreram agressões físicas, como tapas, empurrões e chutes, enquanto 16,1% foram ameaçadas ou perseguidas. Casos de stalking (perseguição) também cresceram 9,3% no período. Outro dado preocupante é que 10,7% das mulheres foram vítimas de tentativas de relações sexuais forçadas ou ofensas de cunho sexual, o que equivale a aproximadamente 5,3 milhões de brasileiras.

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