Francisco Wellington, Pai Bolinha de Ogum, é cartomante desde 1999. Filho dum Ogã pertence a casa de Pai Neto, o Centro Espírita de Umbanda Xangô Agojô, localizado nas redondezas do centro de Mossoró, Wellington aos 13 anos de idade desenvolveu sua mediunidade, “entrei na gira no dia 27 de novembro de 1996, num toque de Jurema na festa dos senhores mestres na casa de Pai Neto”, lembra com precisão.
Em 1998, Bolinha teve que fazer iniciação aos orixás, uma pequena obrigação de recolhimento que dá cabeça ao santo para iniciar na religião. Em 2003 fez a iniciação completa, a de Yaô, completando sua última obrigação em 2014.
Pai da da Tenda Espírita de Umbanda Corta Embaraço, Bolinha tem o dom da vidência desde 1999, “fui falar isso para uma professora minha do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Socorro Paulino, descendente de ciganos e indígenas, que foi quem me adentrou na cartomancia. Comecei com as cartas no dia 10 de outubro de 1999.”
Pertence a Jurema Sagrada e a Umbanda desde 2007, Pai Bolinha descreve sua tradição religiosa, “nossa Umbanda é traçada como Nagô de Recife, junção que se consolidou a partir da década de 1970.”
A Tenda Corta Embaraço se localiza na rua Nilo Peçanha, no bairro Barrocas, zona Norte de Mossoró. Bolinha ressalta o bom relacionamento que tem com seus vizinhos, e diz que o único ritual público feito pela sua casa é a festa de São Cosme e Damião, realizada no 1º domingo a partir do dia 20 de outubro.
Um dos fundadores da Louvação ao Baobá, Bolinha fala do início da louvação em Mossoró, “a louvação começou com o movimento negro, com os atores Tony Silva, Nonato Santos, Lenilda Sousa, Augusto Pinto, a professora Ivonete Soares, dentre outras pessoas. A louvação foi criada como uma parte religiosa do movimento negro, tendo se iniciado em 2003, através do convite ao terreiro de Pai Neto, que chama Antônio Cuca, o saudoso pai de santo do bairro Teimosos.”
A Louvação ao Baobá chegará a sua 21ª edição este ano, realizada no centro de Mossoró, na praça do teatro municipal, todo dia 20 de novembro.
Bolinha sempre esteve presente nessas 2 décadas de cerimônia religiosa, “desde 2016 que faço parte da coordenação da louvação, e desde 2019 sou coordenador de articulação sócio-político-religiosa do Fórum de Terreiros de Mossoró. Agora com a instituição do feriado nacional do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, acredito que mais terreiros participem da louvação.”
Bolinha enfatiza que a Louvação ao Baobá, ao mostrar as pessoas dos terreiros, fez avançar a luta contra o preconceito às religiões afro-ameríndias, “nós agora participamos de audiências públicas junto ao Ministério Público (MP), o apoio das universidades é fundamental para fazer avançar às reivindicações dos povos de terreiros.”
Contudo, Pai Bolinha lamenta a inserção afro-ameríndia nas escolas básicas, como algo de forma folclórica, que não contribui para a luta contra a intolerância religiosa, “mas estamos avançando através do MP, nos fortalecendo. A divulgação das nossas religiões, na televisão, no rádio, nas redes sociais, ao mostrar nossas caras, colabora na desmistificação que nossas religiões são para fazer o mal na vida das pessoas. Não acreditamos em demônio, não temos satanás em nossa religião.”
“As religiões de matriz afro-ameríndia cultuam orixás, inquices, voduns, entidades e divindades africanas e de nossas matas, os pretos velhos e caboclos. Temos nossas crianças, nossos guias, nossos protetores. Tudo isso faz parte das linhas de umbanda. Nossa religião é para curar as pessoas.”
Pai Bolinha realça a importância do Fórum de Terreiros de Mossoró, que articula os terreiros de matriz afro-ameríndia da cidade, na luta contra o preconceito e nas políticas públicas para os povos dos terreiros. O Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, é parceiro fundamental nas reivindicações das políticas.
“Quero parabenizar ao coordenador geral do Fórum, Lucas Sullivam, a professora Eliane Anselmo, coordenadora do NEABI, a professora Márcia Silva, coordenadora de ações afirmativas do Fórum, a Flávio Roberto, secretário do Fórum. E agradecer a todos os pais e mães de santos que estão unidos com a gente no Fórum”, encerra Bolinha.