Nos últimos meses, denúncias graves envolvendo o prefeitura Allyson Bezerra (UNIÃO) ganharam destaque após a divulgação de áudios e documentos que apontam supostos esquemas de irregularidades na gestão municipal em Mossoró. O caso, que está sob investigação do Ministério Público, foi trazido à tona por um trabalho minucioso de apuração jornalística do profissional Bruno Barreto. O trabalho se desenrolou mesmo após o jornalista enfrentar resistência e tentativas de descredibilização por parte de aliados do prefeito.
As reportagens de Bruno Barreto revelam um suposto esquema de irregularidades na prefeitura de Mossoró, com base em áudios e documentos do Ministério Público. Os registros mostram diálogos de aliados do prefeito envolvendo desvios em licitações e pressões por obras irregulares. A apuração, que começou com fontes sigilosas, enfrentou tentativas de abafamento, desde ataques nas redes sociais até censura judicial.
Entre as principais denúncias está a contratação de empresas que não venceram licitações, com indícios de superfaturamento.
Nesta entrevista, o jornalista responsável pela cobertura detalha como obteve informações, traz os desafios enfrentados durante a investigação e as estratégias usadas pelo grupo político local para abafar as revelações. Além disso, adianta que novas reportagens estão por vir, prometendo expor mais fatos que ainda não chegaram ao conhecimento público.
As respostas abaixo revelam não apenas os bastidores da apuração, mas também o clima de tensão entre a imprensa independente e o poder estabelecido em Mossoró. Confira;
Focando mais no processo de apuração em si, já que os fatos estão postos e são notórios, como esse grande esquema chegou a você?
Eu fui procurado por uma fonte e ela dizia que tinha esses áudios, então ela ficou de me passar esses áudios, uma segunda fonte já tinha me passado a notícia de fato do Ministério Público com as aberturas dos processos, a aceitação das denúncias pelo Ministério Público, então eu aguardei os áudios por alguns meses. Esses áudios não chegaram rápido… o primeiro áudio, que é um áudio de uma hora e vinte minutos e a partir disso eu cruzei o que foi dito no áudio com as informações da denúncia. Em princípio tem duas denúncias, então as denúncias já foram para o Ministério Público… o Ministério Público está investigando.
Após o recebimento do material, como foi a apuração para confirmar as informações que hoje são públicas?
Eu cruzei, como eu tinha explicado, quando eu recebi os documentos, e eram documentos oficiais do Ministério Público. Um documento de dentro do Ministério Público, e toda a tramitação da notícia de fato até ela se transformar em duas investigações desmembradas: uma investigação aceita pelo desembargador João Rebouças e a outra pelo desembargador Cornélio Alves.
Eu aguardei o áudio principal de uma hora e vinte do Erinaldo conversando com aquele que seria o advogado dele, que acabou não sendo. Esse áudio está censurado, então não posso ficar falando muito sobre ele. Mas depois uma outra fonte me repassou áudios que não são alcançados pela decisão judicial, porque elas não são relacionadas ao advogado. É preciso entender que o advogado alega que eu violei o sigilo da fonte, sendo que eu não violei, porque foi o próprio advogado que vazou o áudio para várias pessoas aqui de Mossoró. Então, ele mesmo lista, nomina algumas dessas pessoas. Curiosamente nenhuma delas foi a minha fonte que entregou o áudio. Então, esse áudio aí já estava rodando em várias mãos.
Tem informações que esse áudio passou por gente da direita, que não teve coragem de noticiar por questões de conveniência política, porque querem ter um entendimento com o prefeito para as eleições do ano que vem. Então, eu consegui novos áudios de diálogos de Erinaldo com Luiz Augusto da OCTHA, do Rodrigo Lima fazendo cobranças. Inclusive, tem matéria hoje sobre a cobrança do secretário Rodrigo Lima, secretário de infraestrutura, homem de confiança do prefeito, cobrando, mostrando que tinha consciência de que a obra estava sendo feita por uma empresa que não foi a empresa que ganhou a licitação.

Durante esse processo de publicação, houve tentativas de ouvir o lado da prefeitura de Mossoró ou do Prefeito?
Sim, procurei o prefeito no WhatsApp, mas ele me bloqueou, mas eu deixei a pergunta, está registrado, tem print, ele não respondeu. Procurei o secretário de comunicação Wilson Fernandes, ele também não me respondeu. Só quem me respondeu foi o advogado de Allyson, que é uma pessoa que eu sempre respeitei muito, que é o Caio Victor, mas ele foi bem, digamos assim, bem seco, grosso. Até me surpreendi com a grosseria dele. Ele disse que não era meu advogado, tentou negar, dizer que a informação não procedia, mas aí todo mundo sabe que a informação procede, tem as denúncias, tem a investigação, então está tudo transcorrendo. Eu sei de muita coisa, ainda de coisas que não dá para publicar, porque eu não tenho provas, outras eu já tenho as provas, então assim, vem aí a segunda temporada dos Segredos de Allyson, que vai ficar mais para a frente, porque tem muita coisa ainda para apurar.
Então ainda há muita revelações a serem publicadas no futuro?
Sim, vai ter a segunda temporada. Eu estou finalizando algumas matérias que ainda estavam pendentes, porque como eu trabalho na UERN, eu faço tudo só, às vezes preciso viajar, serviço da UERN também, então tem muita coisa. Eu acabo demorando um pouco para finalizar tudo. Eu estou botando uma matéria hoje, que já entrou, outra entra amanhã e depois eu vou aguardar alguns dias, porque o volume de problemas na gestão de Allyson Bezerra é muito grande e é muita coisa abafada. Então, como a imprensa de Mossoró está completamente alinhada ao prefeito, eu fiquei meio que sozinho nesse trabalho, tem pouquíssimos blogs aqui da cidade, estão repercutindo… há um processo para abafar as denúncias, abafaram uma CEI, agora vão mudar o regimento da Câmara para dificultar ainda mais a tramitação de uma CEI.
O que foi feito para relativizar o material que você anda publicando?
Há sim um trabalho para abafar. O prefeito usou várias táticas. Primeiro ele ignorou, depois disse que era mentira, depois ele passou a me atacar, botou o pessoal dele para me atacar; em seguida mandou alguns recados, que se ele for governador vai me prejudicar, mas a mídia fez um trabalho constrangedor. Os colegas da mídia aqui de Mossoró, alguns se submeteram a um trabalho constrangedor para tentar desqualificar as denúncias, mas o fato é que tem duas investigações do Ministério Público autorizadas por dois desembargadores diferentes e as investigações estão transcorrendo, já houve alguns depoimentos. Eles tentam falar que a denúncia é anônima, mas na verdade tem um documento em que Erinaldo assina a denúncia de dezembro e outro que é o mesmo documento, só que sem a assinatura dele, ou seja, houve um período que eu já preenchi, já sei o que aconteceu, mas em breve vai ter matéria sobre isso explicando o que aconteceu entre dezembro de 2022 e março de 2023. O que aconteceu nesse período, eu vou contar também sobre isso.

Como o grupo do prefeito aborda a temática nas redes sociais ou no cotidiano?
Olha, eles têm uma tática muito forte de tentar me ignorar, então eles fazem um trabalho de me deixar isolado na mídia local. Eu sou muito tranquilo em relação a isso, mas não é um assunto que me incomoda, mas o trabalho é esse, o trabalho é tentar me isolar na mídia com esse trabalho.
Você acha que a sua apuração atrapalha os planos políticos do prefeito para 2026?
Eu não tenho essa pretensão de atrapalhar planos políticos de A, B ou C, ou de favorecer A, B ou C, o que eu tenho é jornalismo na veia, então todo o trabalho que eu faço é no sentido de levar informação à população, a população tem o direito de saber o que está acontecendo e é meu trabalho fazer isso.
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