O SINAL ESTÁ FECHADO: cinco anos na faculdade para trabalhar até 12 horas por dia dirigindo pro Uber



Andrés Casciani Andrés Casciani




Por muito tempo, ter uma formação acadêmica foi visto como sinônimo de ser alguém na vida e da expectativa de ter segurança financeira. No entanto, as novas gerações lidam com sentimentos bem diversos em relação a essa conquista tão importante.

Apesar de a graduação ainda ser o sonho de muitos, muitos de nossos universitários acabam encontrando nos aplicativos de transporte, como Uber e 99, a única alternativa para garantir seu sustento. A história de Luiz Henrique, mais conhecido como Luizinho, 26 anos, é um exemplo dessa realidade.

Movido pelo sonho inicial de cursar educação física, Luizinho atua como motorista de Uber há mais ou menos quatro anos. Ele começou na profissão para ter uma renda e conseguir pagar a faculdade.

Hoje, formado como educador físico, não pensa em atuar na área e intercala a profissão com a rotina de ser concurseiro, carregando agora o sonho de ser policial. Mesmo gostando da área na qual se formou, o jovem não se imagina atuando nela, “até mesmo pela questão financeira”. Ele relata que ser motorista de aplicativo, no momento, é mais vantajoso.

“Em média meu salário fica entre uns R$ 3 mil a R$ 4 mil por mês, dependendo do movimento. Minha rotina depende muito do dia, mas geralmente eu trabalho em média de 10 a 12 horas diárias, e, dependendo da semana, entre 5 a 6 dias trabalhados”, pontua.

Mesmo diante da flexibilidade de horários e da renda que consegue obter, Luizinho ressalta  os problemas de atuar como motorista de aplicativo, começando pela desvalorização da própria plataforma em relação aos seus “funcionários”. Segundo Luiz, o aplicativo “a cada ano suga mais dos motoristas”. Outro ponto que o incomoda é que as estradas esburacadas acabam causando um desgaste a mais no veículo, além do combustível que sobe quase mensalmente, atrapalhando o ganho de quem trabalha na função.

Assim como Luiz, muitos motoristas de aplicativo são profissionais formados que por algum motivo não ingressaram no mercado de trabalho em suas áreas de formação, seja pela falta de oportunidade ou pela remuneração que não compensa.

É o caso de Jailson Araujo, 53, técnico em contabilidade, formado em administração de empresas e pós-graduado em MBA em logística, que não teve a oportunidade de atuar na área.

Sua história com a Uber começou há 6 anos, quando teve que fechar seu pequeno negócio, devido à baixa movimentação que passou a atingir a Cidade Alta. Como motorista de aplicativo, Jailson ressalta a vantagem de ter horários flexíveis, sem precisar ter, diariamente, um horário fixo para começar e terminar de trabalhar.

Mas, como nem tudo são flores, ele ressalta as condições de trabalho a que muitas vezes é submetido, como os baixos ganhos com viagens de valores irrisórios, e comenta que, quando o aplicativo Uber chegou ao Brasil, os uberes chegavam a concorrer com os taxistas, mas que hoje concorrem com os ônibus.

“Quando o App foi implantado no Brasil tínhamos uma tarifa melhor, concorriam com os táxis. Hoje concorremos com os ônibus. Em muitos casos a viagem fica mais barata que o ônibus. Por exemplo, uma viagem de R$ 6,05 leva até 4 passageiros, tendo um custo por usuário de R$ 1.51. Isso quando não é para pegar uma feira em supermercados, o usuário ainda pede para você entrar no condomínio e o ajudá-lo a descarregar”, lamenta Jailson.

Ele também ressalta que dependendo da distância, não aceita a viagem. “Não costumo fazer viagens muito longas, pois em sua maioria não compensa.  Principalmente pela dificuldade de pegar uma outra viagem voltando.”, diz.

Outro caso, é o do psicólogo Lucio Neto, 26, que apesar de atuar na área continua trabalhando como Uber. Formado em 2021 pela Universidade Potiguar, ele trabalha como motorista de aplicativo há 7 anos. Sua relação com a Uber começou assim que ingressou na faculdade, com o intuito de ter uma renda, e viu no aplicativo uma boa oportunidade devido à flexibilidade de horários. 

“A vantagem de ser Uber é que seu salário depende de você, vai depender de seu empenho e de como você consegue administrar seu tempo rodando de aplicativo, escolhendo as melhores corridas, além de que a plataforma paga diariamente”, comenta.

Como psicólogo ele atende às terças feiras. Já em sua rotina como uber, ele trabalha de quarta a segunda, das 6h às 20h, e  aceita apenas viagens que vão até o Aeroporto Internacional de Natal ou voltando dele.

Mesmo a Uber sendo sua maior fonte de renda, ele pensa em atuar cada vez mais como psicólogo, com o objetivo de atuar na área hospitalar, já que a área clínica não lhe traria uma boa segurança financeira. 

“É a Uber que paga minhas contas e não a psicologia, claro ainda tenho só três anos de formado e estou desenvolvendo a carteira de clientes, mas a maioria só querem pagar por plano de saúde e não particular. Mas me imagino cada vez mais na minha área de atuação, tenho o desejo de trabalhar como psicólogo hospitalar e diminuir meu trabalho como uber”, finaliza.


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Apesar de a graduação ainda ser o sonho de muitos, muitos de nossos universitários acabam encontrando nos aplicativos de transporte, como Uber e 99, a única alternativa para garantir seu sustento. A história de Luiz Henrique, mais conhecido como Luizinho, 26 anos, é um exemplo dessa realidade.

Movido pelo sonho inicial de cursar educação física, Luizinho atua como motorista de Uber há mais ou menos quatro anos. Ele começou na profissão para ter uma renda e conseguir pagar a faculdade.

Hoje, formado como educador físico, não pensa em atuar na área e intercala a profissão com a rotina de ser concurseiro, carregando agora o sonho de ser policial. Mesmo gostando da área na qual se formou, o jovem não se imagina atuando nela, “até mesmo pela questão financeira”. Ele relata que ser motorista de aplicativo, no momento, é mais vantajoso.

“Em média meu salário fica entre uns R$ 3 mil a R$ 4 mil por mês, dependendo do movimento. Minha rotina depende muito do dia, mas geralmente eu trabalho em média de 10 a 12 horas diárias, e, dependendo da semana, entre 5 a 6 dias trabalhados”, pontua.

Mesmo diante da flexibilidade de horários e da renda que consegue obter, Luizinho ressalta  os problemas de atuar como motorista de aplicativo, começando pela desvalorização da própria plataforma em relação aos seus “funcionários”. Segundo Luiz, o aplicativo “a cada ano suga mais dos motoristas”. Outro ponto que o incomoda é que as estradas esburacadas acabam causando um desgaste a mais no veículo, além do combustível que sobe quase mensalmente, atrapalhando o ganho de quem trabalha na função.

Assim como Luiz, muitos motoristas de aplicativo são profissionais formados que por algum motivo não ingressaram no mercado de trabalho em suas áreas de formação, seja pela falta de oportunidade ou pela remuneração que não compensa.

É o caso de Jailson Araujo, 53, técnico em contabilidade, formado em administração de empresas e pós-graduado em MBA em logística, que não teve a oportunidade de atuar na área.

Sua história com a Uber começou há 6 anos, quando teve que fechar seu pequeno negócio, devido à baixa movimentação que passou a atingir a Cidade Alta. Como motorista de aplicativo, Jailson ressalta a vantagem de ter horários flexíveis, sem precisar ter, diariamente, um horário fixo para começar e terminar de trabalhar.

Mas, como nem tudo são flores, ele ressalta as condições de trabalho a que muitas vezes é submetido, como os baixos ganhos com viagens de valores irrisórios, e comenta que, quando o aplicativo Uber chegou ao Brasil, os uberes chegavam a concorrer com os taxistas, mas que hoje concorrem com os ônibus.

“Quando o App foi implantado no Brasil tínhamos uma tarifa melhor, concorriam com os táxis. Hoje concorremos com os ônibus. Em muitos casos a viagem fica mais barata que o ônibus. Por exemplo, uma viagem de R$ 6,05 leva até 4 passageiros, tendo um custo por usuário de R$ 1.51. Isso quando não é para pegar uma feira em supermercados, o usuário ainda pede para você entrar no condomínio e o ajudá-lo a descarregar”, lamenta Jailson.

Ele também ressalta que dependendo da distância, não aceita a viagem. “Não costumo fazer viagens muito longas, pois em sua maioria não compensa.  Principalmente pela dificuldade de pegar uma outra viagem voltando.”, diz.

Outro caso, é o do psicólogo Lucio Neto, 26, que apesar de atuar na área continua trabalhando como Uber. Formado em 2021 pela Universidade Potiguar, ele trabalha como motorista de aplicativo há 7 anos. Sua relação com a Uber começou assim que ingressou na faculdade, com o intuito de ter uma renda, e viu no aplicativo uma boa oportunidade devido à flexibilidade de horários. 

“A vantagem de ser Uber é que seu salário depende de você, vai depender de seu empenho e de como você consegue administrar seu tempo rodando de aplicativo, escolhendo as melhores corridas, além de que a plataforma paga diariamente”, comenta.

Como psicólogo ele atende às terças feiras. Já em sua rotina como uber, ele trabalha de quarta a segunda, das 6h às 20h, e  aceita apenas viagens que vão até o Aeroporto Internacional de Natal ou voltando dele.

Mesmo a Uber sendo sua maior fonte de renda, ele pensa em atuar cada vez mais como psicólogo, com o objetivo de atuar na área hospitalar, já que a área clínica não lhe traria uma boa segurança financeira. 

“É a Uber que paga minhas contas e não a psicologia, claro ainda tenho só três anos de formado e estou desenvolvendo a carteira de clientes, mas a maioria só querem pagar por plano de saúde e não particular. Mas me imagino cada vez mais na minha área de atuação, tenho o desejo de trabalhar como psicólogo hospitalar e diminuir meu trabalho como uber”, finaliza.




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