O Karatê além da autodefesa



De aluno a mestre - Foto: Cedida De aluno a mestre – Foto: Cedida




O rigoroso treinamento de corpo e mente prepara seus alunos para além dos dojos

O Karatê surgiu em meados do século XV, combinando influências de técnicas chinesas e japonesas, nas ilhas Ryukyu, onde hoje está localizada a Província de Okinawa. Com a globalização, a arte marcial chegou a outros países, principalmente após a Segunda Guerra Mundial.

Devido a expansão, o Karatê desenvolveu diferentes estilos, cada um com sua peculiaridade. Atualmente, existe mais de dezenas de sub estilos, mas a Federação Brasileira de Karatê (FBK) reconhece apenas cinco deles: Goju-Ryu, Shotokan, Wado-Ryu, Shito-Ryu e Shorin-Ryu. Enquanto a Federação Mundial de Karatê (WKF) desconsidera o Shorin-Ryu entre os cinco citados.

Em Natal, dentre os diversos dojos que existem, o professor e mestre de Karatê Juarez Alves por muito tempo ensinou a arte marcial, desde meados da década de 70, um trabalho que fez com muita garra, dedicação e disciplina, no centro da Cidade Alta. De lá saíram muitos alunos que seguiram seus passos, como é o caso de Expedito de Andrade Jr.

Mestre Juarez Alves a esquerda e Samurai a direita – Foto: Cedida

Samurai, como é conhecido, constantemente apanhava na escola e viu no Karatê a saída para se defender. “Eu apanhava muito na escola, era mole e os garotos viviam batendo na minha pessoa, aí pedi a minha mãe para me colocar na aula, para eu poder me defender e deu muito certo”, comenta.

O que começou como um meio de autodefesa, ensinou a Samurai mais do que ele imaginava, junto com as técnicas veio a paciência, disciplina, perseverança e concentração, que hoje ele repassa para seus alunos.

Devido a uma difícil situação financeira, quando estava desempregado, Samurai viu em seus conhecimentos marciais a oportunidade de sobreviver dando aulas. Desde os anos 90 ele passa seus conhecimentos a quem tem interesse de aprender as técnicas da luta, a sede fica no Bairro Potengi, na Zona Norte de Natal.

“O que me levou a dar aula foi a necessidade, pois estava desempregado. Como eu já era faixa preta, vi que dava para sobreviver dando aula e sustentar a família, até hoje vivo do Karatê”, afirma Samurai.

Karatê nas olimpíadas

O Karatê não estava entre os esportes das Olimpíada de Paris deste ano e tudo indica que também não estará nas olimpíadas de 2028. Apesar da ideia principal ser a mesma, muitos karatecas veem que existe uma diferença entre o Karatê apresentados nas olimpíadas e o Karatê dos dojos.

Alguns deles acreditam que a competição gera uma desunião, um certo tipo de rivalidade entre os diferentes estilos de Karatê, deixando de lado os princípios e ensinamentos éticos da arte marcial.
“Existem centenas de federações, como vão escolher qual vai participar? São estilos diferentes, como vão criar lutas entre esses estilos? São muitas vertentes aí preferem não colocar nas olimpíadas. Eu particularmente sou contra, acredito que enfraquece o esporte”, relata Samurai.

Há quem seja a favor do Karatê nas olimpíadas e há quem ache que o esporte não se envolver em competições em jogos olímpicos, mas esse é um tema que ainda vai gerar muitas discussões.

Além do dojo

Mestre Samurai – Foto: Cedida

Independente do Karatê estar nas olimpíadas ou não, uma coisa é certa, o que se aprende nos treinos se expande em todas as áreas da vida e mostra que no esporte há sempre a inclusão.

Samurai revela que possui muitos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Um deles, inclusive, a história se assemelha a do sensei.

Samurai nos conta que foi procurado pelos pais de um jovem, chamado Matheus, para matricular o rapaz nas aulas de Karatê devido ao bullying que o garoto sofria, já era seu quinto ano sendo agredido na escola.

“Ele sofria muito por ser autista, os outros meninos empurram ele, ele não sabia se defender, tem um coração de ouro e começamos o treinamento dentro das condições dele. Matheus começou a ver os meninos perdendo na luta, mas aprendeu que fazia parte, assim como ele também podia ganhar. Hoje ele é faixa marrom”, relata.

Samurai relembra que esse mesmo aluno chegou a se defender na escola e orientou ao garoto que: “você não pode agredir ninguém de forma livre, mas tem todo direito do mundo de se defender”, durante a briga dois golpes foram desferidos e o sensei continuou “se no primeiro golpe ele recuou, então não precisava do segundo, isso é sabedoria”, conclui.

Para o sensei, acompanhar a evolução de Matheus foi uma das coisas que deram sentido a continuar fazendo esse trabalho, seu aluno que chegou indefeso e não tinha coragem de machucar ninguém, hoje sabe se defender da maneira correta.

Tanto a trajetória de Samurai, quanto a de Matheus e de tantos outros Karatecas enfatizam o ponto chave do Karatê: a disciplina e o respeito acima de tudo.


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Excelente matéria Mostrando Que a nobre arte do karatê, vai muito mais profundo do que simples movimento corporais , À venda verdade essa nobre arte tem no seu intuito a transformação humana através do exercício da suas técnicas , Fazendo com o quê o ser humano entre no estado de consciência que deve a aperfeiçoar e melhorar , O seu caráter como um todo!

Quero agradecer ao mestre Expedito por toda a atenção dada ao Matheus, vemos diariamente evoluções significativas em todos os contextos em que ele se encontra.
Parabéns Sensei, que Deus continue abençoando sua caminhada.

Querido sensei, sua dedicação e paixão pelo karatê são um verdadeiro exemplo. Agradecemos por tanto cuidado e comprometimento. Expresso minha gratidão por todo apoio e confiança que você deposita no meu filho. Sua dedicação à educação dele é extremamente valiosa. Oss 🥋











O Karatê além da autodefesa



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Quero agradecer ao mestre Expedito por toda a atenção dada ao Matheus, vemos diariamente evoluções significativas em todos os contextos em que ele se encontra.
Parabéns Sensei, que Deus continue abençoando sua caminhada.

Querido sensei, sua dedicação e paixão pelo karatê são um verdadeiro exemplo. Agradecemos por tanto cuidado e comprometimento. Expresso minha gratidão por todo apoio e confiança que você deposita no meu filho. Sua dedicação à educação dele é extremamente valiosa. Oss 🥋



De aluno a mestre - Foto: Cedida De aluno a mestre – Foto: Cedida

O rigoroso treinamento de corpo e mente prepara seus alunos para além dos dojos

O Karatê surgiu em meados do século XV, combinando influências de técnicas chinesas e japonesas, nas ilhas Ryukyu, onde hoje está localizada a Província de Okinawa. Com a globalização, a arte marcial chegou a outros países, principalmente após a Segunda Guerra Mundial.

Devido a expansão, o Karatê desenvolveu diferentes estilos, cada um com sua peculiaridade. Atualmente, existe mais de dezenas de sub estilos, mas a Federação Brasileira de Karatê (FBK) reconhece apenas cinco deles: Goju-Ryu, Shotokan, Wado-Ryu, Shito-Ryu e Shorin-Ryu. Enquanto a Federação Mundial de Karatê (WKF) desconsidera o Shorin-Ryu entre os cinco citados.

Em Natal, dentre os diversos dojos que existem, o professor e mestre de Karatê Juarez Alves por muito tempo ensinou a arte marcial, desde meados da década de 70, um trabalho que fez com muita garra, dedicação e disciplina, no centro da Cidade Alta. De lá saíram muitos alunos que seguiram seus passos, como é o caso de Expedito de Andrade Jr.

Mestre Juarez Alves a esquerda e Samurai a direita – Foto: Cedida

Samurai, como é conhecido, constantemente apanhava na escola e viu no Karatê a saída para se defender. “Eu apanhava muito na escola, era mole e os garotos viviam batendo na minha pessoa, aí pedi a minha mãe para me colocar na aula, para eu poder me defender e deu muito certo”, comenta.

O que começou como um meio de autodefesa, ensinou a Samurai mais do que ele imaginava, junto com as técnicas veio a paciência, disciplina, perseverança e concentração, que hoje ele repassa para seus alunos.

Devido a uma difícil situação financeira, quando estava desempregado, Samurai viu em seus conhecimentos marciais a oportunidade de sobreviver dando aulas. Desde os anos 90 ele passa seus conhecimentos a quem tem interesse de aprender as técnicas da luta, a sede fica no Bairro Potengi, na Zona Norte de Natal.

“O que me levou a dar aula foi a necessidade, pois estava desempregado. Como eu já era faixa preta, vi que dava para sobreviver dando aula e sustentar a família, até hoje vivo do Karatê”, afirma Samurai.

Karatê nas olimpíadas

O Karatê não estava entre os esportes das Olimpíada de Paris deste ano e tudo indica que também não estará nas olimpíadas de 2028. Apesar da ideia principal ser a mesma, muitos karatecas veem que existe uma diferença entre o Karatê apresentados nas olimpíadas e o Karatê dos dojos.

Alguns deles acreditam que a competição gera uma desunião, um certo tipo de rivalidade entre os diferentes estilos de Karatê, deixando de lado os princípios e ensinamentos éticos da arte marcial.
“Existem centenas de federações, como vão escolher qual vai participar? São estilos diferentes, como vão criar lutas entre esses estilos? São muitas vertentes aí preferem não colocar nas olimpíadas. Eu particularmente sou contra, acredito que enfraquece o esporte”, relata Samurai.

Há quem seja a favor do Karatê nas olimpíadas e há quem ache que o esporte não se envolver em competições em jogos olímpicos, mas esse é um tema que ainda vai gerar muitas discussões.

Além do dojo

Mestre Samurai – Foto: Cedida

Independente do Karatê estar nas olimpíadas ou não, uma coisa é certa, o que se aprende nos treinos se expande em todas as áreas da vida e mostra que no esporte há sempre a inclusão.

Samurai revela que possui muitos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Um deles, inclusive, a história se assemelha a do sensei.

Samurai nos conta que foi procurado pelos pais de um jovem, chamado Matheus, para matricular o rapaz nas aulas de Karatê devido ao bullying que o garoto sofria, já era seu quinto ano sendo agredido na escola.

“Ele sofria muito por ser autista, os outros meninos empurram ele, ele não sabia se defender, tem um coração de ouro e começamos o treinamento dentro das condições dele. Matheus começou a ver os meninos perdendo na luta, mas aprendeu que fazia parte, assim como ele também podia ganhar. Hoje ele é faixa marrom”, relata.

Samurai relembra que esse mesmo aluno chegou a se defender na escola e orientou ao garoto que: “você não pode agredir ninguém de forma livre, mas tem todo direito do mundo de se defender”, durante a briga dois golpes foram desferidos e o sensei continuou “se no primeiro golpe ele recuou, então não precisava do segundo, isso é sabedoria”, conclui.

Para o sensei, acompanhar a evolução de Matheus foi uma das coisas que deram sentido a continuar fazendo esse trabalho, seu aluno que chegou indefeso e não tinha coragem de machucar ninguém, hoje sabe se defender da maneira correta.

Tanto a trajetória de Samurai, quanto a de Matheus e de tantos outros Karatecas enfatizam o ponto chave do Karatê: a disciplina e o respeito acima de tudo.




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