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A gente precisa tirar da cabeça essa ideia de que nossos filhos são perfeitos. Eles erram. Eles fazem coisas erradas. Independentemente da forma como os orientamos, eles não convivem só conosco. Estão na escola, nas redes sociais, nas aulas de música, em ambientes que não conseguimos controlar. E a verdade é que não os acompanhamos o tempo todo. Não dá.
Esses dias, assisti a uma série chamada Adolescente. Em uma cena, a polícia invade a casa de um pai para levar o filho — um menino entre 12 e 14 anos. O pai não entende nada. O filho era calmo, dormia em casa todas as noites, era “bom”. Mas, no decorrer da série, ele descobre que não conhecia o próprio filho.
Essa é a realidade de muitos de nós. Não conhecemos nossos filhos. O que vou dizer agora é difícil de se ler, mas a maioria de nós não conhece os nossos próprios filhos. Entregamos a eles um celular caríssimo e esquecemos de oferecer o que realmente importa: convivência, diálogo, afeto, limite, presença.
As máquinas já estão dominando. Não apenas os hábitos, mas o pensamento, os valores e os afetos. Vivemos cercados por gente influenciada por quem não tem nada a oferecer. Por dancinhas vazias, por corpos editados, por vidas falsas em feeds perfeitos. É isso que molda o que nossos adolescentes acreditam ser o ideal.
Vivem presos ao celular como se fossem vítimas de uma sociedade sem pai e sem mãe. Poucos conseguem se libertar dessa arma silenciosa. Estão sendo educados por telas, por algoritmos, por influenciadores que nada entendem da vida real.
Quando proibiram o uso de celulares em sala de aula por lei federal, pensei: é um começo. No início, funcionou. Mas, depois, os próprios pais começaram a mandar o celular de volta: “Vai que eu preciso falar com ele.”
E hoje, mesmo com a lei, eles continuam levando. Continuam usando. Continuam distantes.
Eu sei porque estou em sala de aula. Numa aula de 50 minutos, repito dezenas de vezes: “Guarda o celular.” “Coloca na mesa.” “Presta atenção.” Quarenta vezes. Ainda assim, não adianta. Eles não conseguem mais se desligar. Eles não vivem mais sem isso, a não ser que se curem — da doença que já nos domina.
A pergunta que não quer calar: Como iremos resolver isso?
Minha filha já é adulta, tem a própria vida. Mas me preocupo com os que estão perto: meus alunos, minhas enteadas, meus sobrinhos, aqueles que convivem comigo.
Porque, sinceramente, o fim do mundo talvez esteja muito mais relacionado a isso do que imaginamos. É o fim da conversa, o fim da escuta, o fim do interesse pelos livros, pelo pensamento crítico, pela troca humana.
Poucos serão os que vão continuar lendo. Poucos serão os que vão querer pensar. E o que iremos fazer?
Porque, sim — o fim do mundo já começou!
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