Com um índice de 11,8%, Natal é a capital do Nordeste com o maior percentual de diabéticos, de acordo com dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2023) do Ministério da Saúde. No ranking nacional, a cidade ocupa a quarta posição entre as capitais, ficando atrás apenas do Distrito Federal (12,1%), São Paulo (12,1%) e Porto Alegre (12%).
A psicóloga Vitória Costa, de 27 anos, é uma das muitas pessoas em Natal diagnosticadas com diabetes. A descoberta da doença ocorreu quando ela tinha apenas 9 anos. “Eu estava me alimentando bem, mas, ao mesmo tempo, tinha muita perda de peso. Minha família desconfiou de que algo não ia bem e me levou para fazer exames. Minha glicose deu muito alta e eu me internei imediatamente para dar início ao tratamento”, conta.
Vitória enfrentou dificuldades para aceitar a doença. “Tive impactos nos hábitos alimentares, sociais e no campo psicológico. Eu escondia que tinha a doença, sem contar que era muito difícil ir a festinhas de aniversário”, relata. Hoje, ela controla a diabetes com dois tipos de insulina: um aplicado três vezes ao dia antes das refeições principais e outro usado uma vez diariamente. “Graças a isso, a doença está sob controle e não tenho qualquer problema decorrente da diabetes”, explica.
A endocrinologista Camila Pereira, da Promater, esclarece que as principais variações da doença no Brasil são os tipos 1 e 2. “O tipo 1 acontece quando nosso sistema imunológico ataca as células beta no pâncreas, responsáveis por produzir insulina, hormônio regulador da glicose”, esclarece. Quando essas células são destruídas, há uma produção menor do hormônio e a glicose sobe, necessitando de reposição de insulina.
O tipo 2, que compreende cerca de 90% dos casos de diabetes em todo o mundo, ocorre quando a insulina não funciona como deveria. É mais comum em adultos e está associada a doenças como obesidade. “O tratamento envolve reeducação alimentar, prática de exercícios físicos regulares e, em alguns casos, uso de medicamentos (comprimido e insulina)”, comenta a médica.
A obesidade é uma das principais causas do diabetes tipo 2. O descontrole da glicose pode levar a várias complicações. “A doença pode prejudicar a função dos rins, alterar a retina, causando cegueira, mudar o perfil do colesterol do paciente e elevar o risco de eventos cardiovasculares”, alerta Camila Pereira.
O cardiologista Filipe Rêgo destaca que o diabetes dobra o risco de infarto ou derrames. “Quando uma pessoa tem diabetes, normalmente ela é mais inflamada, o que aumenta a chance de eventos cardíacos. É fundamental que o paciente seja bem medicado, tenha hábitos de vida saudáveis, pratique atividade física regular, tenha um sono de qualidade e uma alimentação equilibrada”, ensina.
Vitória Costa garante seguir à risca os cuidados recomendados, junto com a medicação, e nota uma melhora na qualidade de vida. “Não importa o lugar, estou sempre medindo minha glicose ou tomando minha insulina, que sou eu mesma quem aplica”, afirma.
Natal, com seus altos índices de diabéticos, reflete a necessidade de uma maior conscientização e prevenção contra a doença, ressaltando a importância de um estilo de vida saudável e do acompanhamento médico regular.