Morre Clara Charf, símbolo da resistência democrática e dos direitos das mulheres, aos 100 anos



Ícone de crédito Charf mantinha-se ativa desde o Estado Novo. Foto: Pio Figueiroa




Morre Clara Charf, símbolo da resistência democrática e dos direitos das mulheres, aos 100 anos





Ícone de crédito Charf mantinha-se ativa desde o Estado Novo. Foto: Pio Figueiroa


A ativista dos direitos humanos Clara Charf faleceu nesta segunda-feira (3), aos 100 anos, de causas naturais. Fundadora e presidente da Associação Mulheres Pela Paz, Clara estava internada havia alguns dias e foi intubada antes de sua morte, segundo comunicado oficial da entidade.

Clara era viúva do icônico ex-deputado, poeta e guerrilheiro Carlos Marighella, cuja execução, ocorrida durante uma emboscada do DOPS em 1969, completa, hoje, 56 anos.

Com uma trajetória marcada por coragem, compromisso político e sensibilidade humana, ela foi uma das figuras mais importantes da resistência à ditadura militar brasileira e da luta feminista no país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou sua morte e exaltou seu legado.

“Clara foi corajosa, generosa, combativa e de grande maturidade política. Viveu o exílio, enfrentou a ditadura e defendeu incessantemente a democracia. Atravessou seu século de vida com uma flexibilidade bonita, de quem sabia compreender o novo sem abandonar seus princípios”, declarou Lula.

O ministro Guilherme Boulos, da Secretaria da Presidência, também prestou homenagem:

“Uma vida dedicada à luta por justiça social e pelos direitos das mulheres. Vá em paz, Clara!”

Nascida em Maceió (AL), filha de imigrantes judeus russos que fugiram do nazismo, Clara mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro. Aos 16 anos, ingressou na militância política e, nos anos 1940, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Trabalhou como comissária de bordo — uma profissão incomum para mulheres da época — e foi nesse período que conheceu Carlos Marighella, com quem se casou em 1947.

Com a instauração da ditadura militar, o casal foi perseguido e preso. Ao contrário do parceiro, Clara não atuou na luta armada. Após a morte de Marighella, ela exilou-se em Cuba, onde permaneceu até 1979, retornando ao Brasil com a Lei da Anistia.

De volta ao país, dedicou-se integralmente à defesa dos direitos humanos, à liberdade política e à igualdade de gênero. Em 2005, fundou o movimento Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, e, no Brasil, liderou campanhas de empoderamento feminino e combate à violência de gênero.

Em nota, a Associação Mulheres Pela Paz destacou:

“Clara foi grande. Foi do tamanho dos seus 100 anos. Uma vida com tamanha luminosidade fica gravada em todos que tiveram o privilégio de aprender com ela.”

O Partido dos Trabalhadores (PT) também lembrou sua atuação política: em 1982, Clara foi candidata a deputada federal, integrou a Secretaria Nacional de Mulheres do PT e o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.

Clara Charf deixa um legado que atravessa gerações — o de uma mulher que fez da resistência uma forma de amor e da luta pela justiça um compromisso de vida. Fará falta.


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