A Educafro acionou a Lei de Acesso à Informação (LAI) para solicitar ao Ministério das Relações Exteriores esclarecimentos sobre a morte do jovem diplomata Filipe Brito Hamburgo, terceiro-secretário de 28 anos, em um caso que permanece cercado de lacunas e silêncio oficial.
As circunstâncias envolvendo o episódio ainda são pouco claras. Filipe integrou a equipe brasileira na COP30, realizada no Pará, onde, segundo relatos, teria sido vítima de ofensas racistas. Cerca de um mês após a conferência, já de volta a Brasília, o diplomata foi alvo de um processo administrativo disciplinar (PAD) e, no dia seguinte à adoção de uma medida cautelar, tirou a própria vida. Até o momento, não há confirmação oficial de vínculo entre os acontecimentos.
No pedido encaminhado ao ministro Mauro Vieira, a Educafro requer, entre outros pontos, cópia do boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil do Pará. De acordo com relatos que circulam entre colegas, Filipe teria sido chamado de “macaco” e “gorila” por um superior hierárquico durante a COP30, o que teria motivado o registro do BO.
O contexto da conferência também foi marcado por denúncias de sobrecarga de trabalho. À época, a ADB Sindical, entidade representativa da carreira diplomática, alertou para jornadas de até 16 horas diárias, sem folgas regulares ou compensação efetiva, uma queixa recorrente no serviço exterior brasileiro.
Em 17 de dezembro, Filipe foi suspenso por 60 dias em decorrência de um PAD que tramita sob sigilo. A decisão, assinada pelo corregedor do Serviço Exterior, Rui Vasconcellos, determinou seu afastamento cautelar das funções, sem prejuízo salarial, além da proibição de acesso às dependências do Itamaraty. O objetivo alegado foi evitar interferências na apuração.
No dia seguinte à aplicação da medida, o diplomata morreu. Filipe havia ingressado na carreira no ano anterior, por meio do sistema de cotas raciais, e atuava no acompanhamento de autoridades estrangeiras durante a COP30.
A Educafro defende que o caso exige investigação transparente e rigorosa. A entidade cobra esclarecimentos sobre os fundamentos do PAD, eventuais providências em relação ao superior acusado de racismo e as políticas de acolhimento e saúde mental do Itamaraty. Procurado, o ministério não se manifestou oficialmente.





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