Dizem por aí que o tempo não passa. Ele é uno e indivisível. A gente é que navega nas suas ondas. Nessas últimas quadras tenho pensando um pouco sobre o assunto, na mudança incontornável das derradeiras temporadas.
Vejo que hoje a percepção sobre a vida e a passagem dos verões parecem mais aguçadas. Não é nada de saudosismo. E também acredito que não seja uma enganosa autoconfiança.
É algo entre a incapacidade de ser atraído pelas novidades do mundo e a necessidade de tentar compreender o dia de amanhã.
Por isso, vez por outra, paro pra rever os filmes de Almodóva, leio Antonio Cícero e retiro a poeira do The Dark Side of the Moon. Mas não encontro quase nada.
Talvez porque tudo seja apenas uma ilusória armadilha montada para capturar o tempo, tentativa de agarrá-lo com as duas mãos, criá-lo dentro de uma gaiola, como um passarinho, em que o prazer de tê-lo entre as mãos é proporcional à tristeza de não poder vê-lo voar pelas nuvens do futuro e das incertezas.
Quem sabe tenha a ver com a carga que, depois de algumas décadas, cada pessoa carrega sobre os ombros. O peso que impede que se aproveitem os encontros com velhos amigos sem que venham à luz papos a respeito de casamentos fracassados, de problemas financeiros e de antigos romances nunca esquecidos.
Aí percebo que o tal desejo de compreensão das coisas é apenas o trivial entendimento do pacto de nascer de que fala o grande Juan Gelman, em que suas cláusulas, além da vida, do amor e da alegria, são o medo e as incertezas, razão pela qual talvez não seja o caso de se batalhar para entender o tempo, mas de tentar encontrar outras formas de viver dentro do seu turbilhão.
Não é nada fácil. É preciso aceitar os que chegam e lhes oferecer passagem. É importante aquietar os próprios desejos e entender a finitude dos ciclos. É imprescindível ter sobriedade e saber a hora de mudar.
Hora de mudar

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Dizem por aí que o tempo não passa. Ele é uno e indivisível. A gente é que navega nas suas ondas. Nessas últimas quadras tenho pensando um pouco sobre o assunto, na mudança incontornável das derradeiras temporadas.
Vejo que hoje a percepção sobre a vida e a passagem dos verões parecem mais aguçadas. Não é nada de saudosismo. E também acredito que não seja uma enganosa autoconfiança.
É algo entre a incapacidade de ser atraído pelas novidades do mundo e a necessidade de tentar compreender o dia de amanhã.
Por isso, vez por outra, paro pra rever os filmes de Almodóva, leio Antonio Cícero e retiro a poeira do The Dark Side of the Moon. Mas não encontro quase nada.
Talvez porque tudo seja apenas uma ilusória armadilha montada para capturar o tempo, tentativa de agarrá-lo com as duas mãos, criá-lo dentro de uma gaiola, como um passarinho, em que o prazer de tê-lo entre as mãos é proporcional à tristeza de não poder vê-lo voar pelas nuvens do futuro e das incertezas.
Quem sabe tenha a ver com a carga que, depois de algumas décadas, cada pessoa carrega sobre os ombros. O peso que impede que se aproveitem os encontros com velhos amigos sem que venham à luz papos a respeito de casamentos fracassados, de problemas financeiros e de antigos romances nunca esquecidos.
Aí percebo que o tal desejo de compreensão das coisas é apenas o trivial entendimento do pacto de nascer de que fala o grande Juan Gelman, em que suas cláusulas, além da vida, do amor e da alegria, são o medo e as incertezas, razão pela qual talvez não seja o caso de se batalhar para entender o tempo, mas de tentar encontrar outras formas de viver dentro do seu turbilhão.
Não é nada fácil. É preciso aceitar os que chegam e lhes oferecer passagem. É importante aquietar os próprios desejos e entender a finitude dos ciclos. É imprescindível ter sobriedade e saber a hora de mudar.
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