Gustavo Negreiros não tá nem aí

por Girotto Antipetista, radical, conservador, polêmico, provocador. Estas são algumas das palavras frequentemente usadas para se referir ao jornalista Gustavo Negreiros, autor do badalado blog que leva seu nome. Há também muitos que usam palavras menos lisonjeiras ao se referirem ao paladino do conservadorismo potiguar. Negreiros chegou para nossa entrevista na exata hora que havíamos…

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Antipetista, radical, conservador, polêmico, provocador. Estas são algumas das palavras frequentemente usadas para se referir ao jornalista Gustavo Negreiros, autor do badalado blog que leva seu nome. Há também muitos que usam palavras menos lisonjeiras ao se referirem ao paladino do conservadorismo potiguar.

Negreiros chegou para nossa entrevista na exata hora que havíamos combinado, em uma doceria na qual logo demonstrou se sentir bastante à vontade.

Sentar-se ao lado dele em local público, ao menos nesta nossa capital, é uma experiência curiosa. As pessoas que até lhe ignoravam passam a franzir o cenho e mesmo a se inclinar um pouquinho para tentar ouvir o que falamos. Quer gostem ou não de nosso personagem da semana, não há natalense atento que nunca tenha dado uma espiada no blog do Gustavo Negreiros. Qual será o próximo chafurdo, talvez se perguntem enquanto fingem, com certa inépcia, não prestar atenção.

Era 31 de dezembro de 2018. Último dia do único mandato de Robinson Faria como governador do estado. “Tiro 10 dias de folga e depois procuro um emprego”, pensou Gustavo Negreiros, que encerrava ali sua história como servidor público. “Bato na porta da assembleia, da câmara, sei lá, até da prefeitura”, concluiu.

Alguns dias depois, comentou com um amigo sobre a decisão. “Deixa de besteira, que o blog lhe sustenta”, disse o outro. “Eu lhe arrumo o dinheiro pra você segurar os três primeiros meses”, disse ainda, para provar que falava sério.

Mas – embora generosa – a oferta não aceita por Negreiros. “No fim de janeiro eu já havia fechado várias parcerias e o blog estava viabilizado. Esse pessoal está comigo até hoje”, diz.

Enquanto fala, nosso personagem reveza entre olhar para o interlocutor e para o celular. Arrasta dedo sobre a tela, solta o dedo, dá uns cliques e faz uns tantos movimentos rotineiros. “Estou sempre trabalhando”, explica.

Antes de passar a viver do blog, em janeiro de 2019, Negreiros já atuava na imprensa e já mantinha o canal que seria doravante sua profissão principal.

Hoje Gustavo Negreiros divide seus dias entre o blog e o programa do qual participa, na 96 FM. “É o segundo programa de maior audiência do rádio no estado”, conta.

Os números de seu blog talvez sejam até mais impressionantes. Ele me passa seu celular para que eu dê uma olhada nas estatísticas de tráfego do Instagram do blog do Gustavo Negreiros. 38,7 milhões de impressões nos últimos 90 dias. Mais de 3,1 milhões de contas alcançadas – pouca coisa a menos que a população do RN.

“Com as críticas ao PT, ganhei um público fora do estado. O pessoal lê o blog porque quer opinião, então não faz diferença se estou em Natal ou Brasília”, diz.

No site do blog, os acessos frequentam mensalmente a casa dos 3 milhões.

Na 96 FM: “Um canhão”, diz Negreiros. (Reprodução)

“Amanheci louco, pode escrever aí, fui lá e fiz a merda.” Ele fala de 2012, quando votou num candidato do PT para a prefeitura de Natal, Fernando Mineiro.

Negreiros é conhecido por sua oposição feroz ao petismo, muitas vezes polêmica. “Não sou bolsonarista, de direita, nada disso. Sou conservador sim. Mas não sou fanático por Bolsonaro. Sou conservador? Aí sou mesmo”, explica, e logo admite que é mesmo antipetista. “A esquerda é antidemocrática. É a natureza deles. Querem regular tudo. Tudo o que se faz ou pensa eles querem controlar.”

Quanto à Bolsonaro, reconhece que sua maior virtude foi derrotar o PT e completa: “O grande erro de Bolsonaro foi não ter reconhecido a vitória de Lula logo no dia da eleição. Que teve muita manipulação, teve. Mas esse discursozinho de que as urnas são violáveis, isso é bobagem. Perdeu, pronto, perdeu”. Pergunto se foi o único erro do ex-presidente. Ele ri e gesticula, indicando que foram muitos. “Olha outro. Bolsonaro errou ao confrontar a grande imprensa com cortes de verba. Na vida da gente, temos que reagir quando querem acabar com a gente. Por isso acho que a Globo faz a parte dela [ao defender o lulismo e combater o bolsonarismo].”

Mais que ácido, muitas vezes no limite da inconsequência, Negreiros coleciona detratores e processos. “Já passam de 70 [processos]”, diz. O primeiro cancelamento, relembra, ocorreu comentou que o carnaval de Caicó seria para os excluídos. “Foi um fato social que quis relatar”, diz. Provando que após décadas de democracia no Brasil restou pouco sobre o que legislar, a Câmara de Vereadores de Caicó – por unanimidade – tornou o jornalista persona non grata.

“Errei. Pronto. Fui infeliz. Mas usaram politicamente. Não foi apenas pelo que disse, foi também pra me atingir, pra calar minha boca.” Ele fala da repercussão de suas declarações sobre a ativista ambiental Greta Thunberg, em 2019. “Perdi dois programas e dois patrocinadores. Ah, vai se suicidar, disseram. Mas tirei aquele dia para me lamentar e na manhã seguinte, às seis, já tava feito um louco lutando, me defendendo. E por isso devo ser grato à direita e aos bolsonaristas. Foram eles que me defenderam e me ajudaram a voltar. Falei besteira e pedi desculpas. Pronto.”

O episódio foi o momento baixo da carreira de Gustavo Negreiros. Passados cinco anos, ele ainda lida com as consequências das palavras impensadas, mas parece estar bem com isso, em seu íntimo.

“240 urubus”, diz. Fala dos jornalistas que promoveram intensa campanha contra ele no caso Greta. “Todos eles juntos não têm metade da minha audiência.”

Esta parece ser a barricada de Gustavo Negreiros. Com uma ampla cartela de clientes, ele resume sua liberdade e autonomia em uma frase: “Eu dou audiência”.

“Sou lido pelos que ganham mais, esse é meu público. A pessoa é de direita, tem certo padrão de vida”, diz. Mas haveria tantas pessoas bem de vida no estado que lhe rendessem o público que possui? “Tem muita gente, mas realmente não tantos assim.”

Neste mês de junho, Negreiros lançará seu 2º livro de contos. Os contos que escreve se tornaram febre no estado ao revelar o cotidiano de ambientes públicos. Uma de suas séries mais celebradas é a que trata do Villa Brasil, um conjunto habitacional ao qual o autor conferiu a alcunha de Faixa de Gaza.

“Villa Imperial, com dois L”, explica. “Um pobre não pode comprar casa ali. Mas ainda assim a diferença social entre a Villa e o Porto Brasil é abissal. É só isso que exploro, é uma diferença que é sentida por eles. E os sentimentos que envolvem as pessoas de lá. Falo do que é do meu meio, não vou falar de favela, não conheço o bastante e nem devo ter leitores lá.”

Os apelidos são outra das marcas distintivas do estilo de Negreiros. Enquanto “bola de rir”, o cronista potiguar escreve suas análises da atuação de políticos potiguares. General Girão vira Sargento Pincel; Natália Bonavides, Patricinha Bolivariana; o vereador Daniel Valença, é O Oleoso; Isolda, a Estridente. O catálogo é extenso e eventualmente precisa ser atualizado.

“Eu chamava aquela nulidade de O Derrotadíssimo Mineiro. Mas os fatos são os fatos. Como ele foi eleito em 2022, parei de usar. Aí ele agiu daquela forma no aeroporto e naturalmente surgiu um substituto: o Violento Mineiro.”

Negreiros confessa sentir saudades de alguns de seus personagens. “Eu gostava muito do Risonho e Elegante Antenor Roberto. Era um personagem divertido. Mas agora ele voltou à irrelevância de sempre, e eu não tenho porque escrever sobre esse personagem tão caricato”, diz.

Mais conhecido por seu antipetismo visceral, Negreiros tem revelado também um lado que os petistas – lá no íntimo e em silêncio – devem apreciar: o de crítico social.

Aproxima-se a hora do programa do qual Negreiros compõe a bancada, de segunda a sexta, na 96 FM. Avanço para um tema de especial interesse. Negreiros se consideraria um reformador social? Sobretudo seus contos trazem uma visão ácida e crítica dos costumes e valores da sociedade potiguar. Mas ele logo descarta a ideia.

“Não quero convencer ninguém”, diz. “Escrevo bolando de rir. Pensando na reação do cara quando estiver lendo aquilo. Não vou mudar o mundo com meus valores. Não tenho paixões culturais. Família? Estou no terceiro casamento. Lá vou defender essas coisas? Me interesso mais pela economia.”

“É isso que quero dizer quando falo que um professor de história é mais perigoso para um jovem do que um traficante. Todos esses valores impostos com ar professoral, como verdades absolutas. Não quero nenhuma atividade política. Só quero opinar. Já disse, escrevo bolando de rir”, conclui.

“Detesto cultura alternativa, essa coisa de rústico. Me sinto deslocado”, conta, quando a conversa já vai se encerrando. Gustavo explica que prefere segmentar a vida para ficar perto de quem pensa parecido com ele. “Frequento lugares assim, onde as pessoas são parecidas comigo, pensam parecido comigo.” Pergunto se isso não limita suas experiências e perspectivas. Ele nega.

“Detesto cultura alternativa, essa coisa de rústico. Me sinto deslocado. Não tenho o que fazer nesses ambientes nem gosto das pessoas que estão lá. Prefiro aproveitar meu tempo onde me sinto bem.”

“Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz.”

A frase acima é atribuída ao poeta russo Vladimir Maiakovski. Não perguntei se Gustavo lê Maiakovski, sequer julguei necessário.

Gustavo acorda às 4h da manhã e já começa a devorar tudo o que é publicado. Garante que lê todas as milhares de mensagens que recebe diariamente e ainda acompanha todos os canais de notícias. Logo cedo, vai à academia, necessidade de um diabético que quer se manter na linha.

Casado, fala com satisfação e indisfarçado orgulho da esposa e dos filhos. “Tenho uma vida muito feliz. Nunca sonhei em viver como vivo”, conta.

Do nada, Gustavo se levantou e avisou que tinha que sair, o programa na 96 FM começaria em breve. Ainda lhe perguntei se gostaria de conferir a transcrição de suas declarações antes que as publicasse. Já na porta, o sujeito sorridente deu com as mãos, em negativa. Antes de sumir ainda disse “tô nem aí”.





O Potengi

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Gustavo Negreiros não tá nem aí

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Antipetista, radical, conservador, polêmico, provocador. Estas são algumas das palavras frequentemente usadas para se referir ao jornalista Gustavo Negreiros, autor do badalado blog que leva seu nome. Há também muitos que usam palavras menos lisonjeiras ao se referirem ao paladino do conservadorismo potiguar.

Negreiros chegou para nossa entrevista na exata hora que havíamos combinado, em uma doceria na qual logo demonstrou se sentir bastante à vontade.

Sentar-se ao lado dele em local público, ao menos nesta nossa capital, é uma experiência curiosa. As pessoas que até lhe ignoravam passam a franzir o cenho e mesmo a se inclinar um pouquinho para tentar ouvir o que falamos. Quer gostem ou não de nosso personagem da semana, não há natalense atento que nunca tenha dado uma espiada no blog do Gustavo Negreiros. Qual será o próximo chafurdo, talvez se perguntem enquanto fingem, com certa inépcia, não prestar atenção.

Era 31 de dezembro de 2018. Último dia do único mandato de Robinson Faria como governador do estado. “Tiro 10 dias de folga e depois procuro um emprego”, pensou Gustavo Negreiros, que encerrava ali sua história como servidor público. “Bato na porta da assembleia, da câmara, sei lá, até da prefeitura”, concluiu.

Alguns dias depois, comentou com um amigo sobre a decisão. “Deixa de besteira, que o blog lhe sustenta”, disse o outro. “Eu lhe arrumo o dinheiro pra você segurar os três primeiros meses”, disse ainda, para provar que falava sério.

Mas – embora generosa – a oferta não aceita por Negreiros. “No fim de janeiro eu já havia fechado várias parcerias e o blog estava viabilizado. Esse pessoal está comigo até hoje”, diz.

Enquanto fala, nosso personagem reveza entre olhar para o interlocutor e para o celular. Arrasta dedo sobre a tela, solta o dedo, dá uns cliques e faz uns tantos movimentos rotineiros. “Estou sempre trabalhando”, explica.

Antes de passar a viver do blog, em janeiro de 2019, Negreiros já atuava na imprensa e já mantinha o canal que seria doravante sua profissão principal.

Hoje Gustavo Negreiros divide seus dias entre o blog e o programa do qual participa, na 96 FM. “É o segundo programa de maior audiência do rádio no estado”, conta.

Os números de seu blog talvez sejam até mais impressionantes. Ele me passa seu celular para que eu dê uma olhada nas estatísticas de tráfego do Instagram do blog do Gustavo Negreiros. 38,7 milhões de impressões nos últimos 90 dias. Mais de 3,1 milhões de contas alcançadas – pouca coisa a menos que a população do RN.

“Com as críticas ao PT, ganhei um público fora do estado. O pessoal lê o blog porque quer opinião, então não faz diferença se estou em Natal ou Brasília”, diz.

No site do blog, os acessos frequentam mensalmente a casa dos 3 milhões.

Na 96 FM: “Um canhão”, diz Negreiros. (Reprodução)

“Amanheci louco, pode escrever aí, fui lá e fiz a merda.” Ele fala de 2012, quando votou num candidato do PT para a prefeitura de Natal, Fernando Mineiro.

Negreiros é conhecido por sua oposição feroz ao petismo, muitas vezes polêmica. “Não sou bolsonarista, de direita, nada disso. Sou conservador sim. Mas não sou fanático por Bolsonaro. Sou conservador? Aí sou mesmo”, explica, e logo admite que é mesmo antipetista. “A esquerda é antidemocrática. É a natureza deles. Querem regular tudo. Tudo o que se faz ou pensa eles querem controlar.”

Quanto à Bolsonaro, reconhece que sua maior virtude foi derrotar o PT e completa: “O grande erro de Bolsonaro foi não ter reconhecido a vitória de Lula logo no dia da eleição. Que teve muita manipulação, teve. Mas esse discursozinho de que as urnas são violáveis, isso é bobagem. Perdeu, pronto, perdeu”. Pergunto se foi o único erro do ex-presidente. Ele ri e gesticula, indicando que foram muitos. “Olha outro. Bolsonaro errou ao confrontar a grande imprensa com cortes de verba. Na vida da gente, temos que reagir quando querem acabar com a gente. Por isso acho que a Globo faz a parte dela [ao defender o lulismo e combater o bolsonarismo].”

Mais que ácido, muitas vezes no limite da inconsequência, Negreiros coleciona detratores e processos. “Já passam de 70 [processos]”, diz. O primeiro cancelamento, relembra, ocorreu comentou que o carnaval de Caicó seria para os excluídos. “Foi um fato social que quis relatar”, diz. Provando que após décadas de democracia no Brasil restou pouco sobre o que legislar, a Câmara de Vereadores de Caicó – por unanimidade – tornou o jornalista persona non grata.

“Errei. Pronto. Fui infeliz. Mas usaram politicamente. Não foi apenas pelo que disse, foi também pra me atingir, pra calar minha boca.” Ele fala da repercussão de suas declarações sobre a ativista ambiental Greta Thunberg, em 2019. “Perdi dois programas e dois patrocinadores. Ah, vai se suicidar, disseram. Mas tirei aquele dia para me lamentar e na manhã seguinte, às seis, já tava feito um louco lutando, me defendendo. E por isso devo ser grato à direita e aos bolsonaristas. Foram eles que me defenderam e me ajudaram a voltar. Falei besteira e pedi desculpas. Pronto.”

O episódio foi o momento baixo da carreira de Gustavo Negreiros. Passados cinco anos, ele ainda lida com as consequências das palavras impensadas, mas parece estar bem com isso, em seu íntimo.

“240 urubus”, diz. Fala dos jornalistas que promoveram intensa campanha contra ele no caso Greta. “Todos eles juntos não têm metade da minha audiência.”

Esta parece ser a barricada de Gustavo Negreiros. Com uma ampla cartela de clientes, ele resume sua liberdade e autonomia em uma frase: “Eu dou audiência”.

“Sou lido pelos que ganham mais, esse é meu público. A pessoa é de direita, tem certo padrão de vida”, diz. Mas haveria tantas pessoas bem de vida no estado que lhe rendessem o público que possui? “Tem muita gente, mas realmente não tantos assim.”

Neste mês de junho, Negreiros lançará seu 2º livro de contos. Os contos que escreve se tornaram febre no estado ao revelar o cotidiano de ambientes públicos. Uma de suas séries mais celebradas é a que trata do Villa Brasil, um conjunto habitacional ao qual o autor conferiu a alcunha de Faixa de Gaza.

“Villa Imperial, com dois L”, explica. “Um pobre não pode comprar casa ali. Mas ainda assim a diferença social entre a Villa e o Porto Brasil é abissal. É só isso que exploro, é uma diferença que é sentida por eles. E os sentimentos que envolvem as pessoas de lá. Falo do que é do meu meio, não vou falar de favela, não conheço o bastante e nem devo ter leitores lá.”

Os apelidos são outra das marcas distintivas do estilo de Negreiros. Enquanto “bola de rir”, o cronista potiguar escreve suas análises da atuação de políticos potiguares. General Girão vira Sargento Pincel; Natália Bonavides, Patricinha Bolivariana; o vereador Daniel Valença, é O Oleoso; Isolda, a Estridente. O catálogo é extenso e eventualmente precisa ser atualizado.

“Eu chamava aquela nulidade de O Derrotadíssimo Mineiro. Mas os fatos são os fatos. Como ele foi eleito em 2022, parei de usar. Aí ele agiu daquela forma no aeroporto e naturalmente surgiu um substituto: o Violento Mineiro.”

Negreiros confessa sentir saudades de alguns de seus personagens. “Eu gostava muito do Risonho e Elegante Antenor Roberto. Era um personagem divertido. Mas agora ele voltou à irrelevância de sempre, e eu não tenho porque escrever sobre esse personagem tão caricato”, diz.

Mais conhecido por seu antipetismo visceral, Negreiros tem revelado também um lado que os petistas – lá no íntimo e em silêncio – devem apreciar: o de crítico social.

Aproxima-se a hora do programa do qual Negreiros compõe a bancada, de segunda a sexta, na 96 FM. Avanço para um tema de especial interesse. Negreiros se consideraria um reformador social? Sobretudo seus contos trazem uma visão ácida e crítica dos costumes e valores da sociedade potiguar. Mas ele logo descarta a ideia.

“Não quero convencer ninguém”, diz. “Escrevo bolando de rir. Pensando na reação do cara quando estiver lendo aquilo. Não vou mudar o mundo com meus valores. Não tenho paixões culturais. Família? Estou no terceiro casamento. Lá vou defender essas coisas? Me interesso mais pela economia.”

“É isso que quero dizer quando falo que um professor de história é mais perigoso para um jovem do que um traficante. Todos esses valores impostos com ar professoral, como verdades absolutas. Não quero nenhuma atividade política. Só quero opinar. Já disse, escrevo bolando de rir”, conclui.

“Detesto cultura alternativa, essa coisa de rústico. Me sinto deslocado”, conta, quando a conversa já vai se encerrando. Gustavo explica que prefere segmentar a vida para ficar perto de quem pensa parecido com ele. “Frequento lugares assim, onde as pessoas são parecidas comigo, pensam parecido comigo.” Pergunto se isso não limita suas experiências e perspectivas. Ele nega.

“Detesto cultura alternativa, essa coisa de rústico. Me sinto deslocado. Não tenho o que fazer nesses ambientes nem gosto das pessoas que estão lá. Prefiro aproveitar meu tempo onde me sinto bem.”

“Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz.”

A frase acima é atribuída ao poeta russo Vladimir Maiakovski. Não perguntei se Gustavo lê Maiakovski, sequer julguei necessário.

Gustavo acorda às 4h da manhã e já começa a devorar tudo o que é publicado. Garante que lê todas as milhares de mensagens que recebe diariamente e ainda acompanha todos os canais de notícias. Logo cedo, vai à academia, necessidade de um diabético que quer se manter na linha.

Casado, fala com satisfação e indisfarçado orgulho da esposa e dos filhos. “Tenho uma vida muito feliz. Nunca sonhei em viver como vivo”, conta.

Do nada, Gustavo se levantou e avisou que tinha que sair, o programa na 96 FM começaria em breve. Ainda lhe perguntei se gostaria de conferir a transcrição de suas declarações antes que as publicasse. Já na porta, o sujeito sorridente deu com as mãos, em negativa. Antes de sumir ainda disse “tô nem aí”.



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