A família de Glênio Sá, militante comunista e único potiguar a participar da Guerrilha do Araguaia, formalizou nesta segunda-feira (15) um pedido à governadora Fátima Bezerra para ter acesso a inquéritos, laudos e outros documentos relacionados à sua morte, ocorrida em 26 de julho de 1990. Para os familiares, as circunstâncias do óbito nunca foram esclarecidas, e a versão oficial de acidente automobilístico permanece cercada de dúvidas e contradições.
Quem foi Glênio Sá
Glênio Sá participou da Guerrilha do Araguaia, movimento de resistência armado ao regime militar no Brasil, sendo o único potiguar a integrar o grupo. Capturado em 1972, foi torturado e permaneceu em prisões clandestinas até 1974, quando foi libertado. Após o período de encarceramento, tornou-se uma voz ativa na denúncia das violações cometidas pela ditadura, concedendo entrevistas, escrevendo artigos e apontando nominalmente torturadores em depoimentos públicos. Sua atuação gerou grande incômodo ao Estado, que, até então, negava a própria existência da Guerrilha do Araguaia.
Mesmo após o fim formal da ditadura, Glênio permaneceu sob vigilância, segundo registros oficiais, e continuou denunciando abusos e participando de debates públicos. A família sustenta que essas ações contribuíram para a perseguição que culminaria em sua morte, questionada até hoje.
Controvérsias sobre a morte
Segundo Jana Sá, o suposto acidente apresenta diversas inconsistências. Entre elas estão um laudo inconclusivo do ITEP, divergências sobre a placa do veículo envolvido, que consta nos registros jornalísticos da época, mas que oficialmente “não pôde ser localizada”, e uma certidão policial que não esclarece detalhes básicos do ocorrido. “Não se trata de uma desconfiança emocional, mas de um conjunto robusto de fatos, documentos e contradições institucionais que apontam para uma morte possivelmente forjada”, afirma Jana.
Em 2022, Jana e seu irmão Gilson Sá lançaram o documentário “Não foi acidente, mataram meu pai”, que sistematiza evidências históricas sobre a morte de Glênio e questiona a versão oficial, buscando reconhecimento, verdade e justiça.
Luta por memória e justiça
Para a viúva de Glênio, Fátima Sá, a luta da família sempre foi movida pelo amor e pela responsabilidade histórica. “A dor de perder o companheiro se misturou com a obrigação de proteger a memória dele e explicar aos nossos filhos que o pai não morreu por acaso. Essa luta não é apenas familiar, é política e coletiva”, afirma.
A família busca que o Estado brasileiro assuma a responsabilidade pelas violações cometidas e reconheça que a perseguição a Glênio continuou mesmo após a redemocratização, reafirmando o compromisso com a verdade histórica e com a justiça para todas as vítimas da repressão.






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