Entre o ronco da alma e a Poesia do asfalto



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    Aluísio Azevedo Júnior

    Poeta passante, centauro urbano, cruzando cidades e ideias com o coração ligado na ignição e a mente rascunhando suas metáforas sobre rodas. Valeu pela poesia, Cláudio!

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Gostar de motos é mais do que pilotar. É sentir o corpo fundido à máquina, o vento fatiando a pele, o tempo escorrendo pelas mãos. O asfalto não é apenas estrada: é livro aberto, onde cada quilômetro escrito com pneus e poeira guarda uma metáfora. A moto, esse bicho de metal e liberdade, não é veículo — é rito, é confissão, é oração em alta rotação. Quem vive sobre duas rodas compreende o silêncio das madrugadas, a eloquência do vento, a sabedoria de se perder para encontrar-se.

E se a moto é corpo em movimento, a poesia é alma em combustão. Quando os versos se fazem estrada, cada palavra é uma curva, cada estrofe é um horizonte. É possível ser centauro urbano, cruzando cidades e ideias com o coração ligado na ignição e a mente rascunhando metáforas na paisagem. O capacete protege o crânio, mas não barra os sonhos: por dentro dele, borbulham lembranças, rimas, promessas que nunca couberam no papel. A poesia acompanha o motociclista como sombra, como ponte, como companheira invisível de todas as rotas.

Viver, nesse contexto, é uma arte em três atos: moto, poesia e liberdade. A vida se revela não em destinos, mas em percursos. Há quem conte os dias; nós contamos os quilômetros e os versos. Quando falta combustível, sobra inspiração. Quando o mundo pesa, a aceleração devolve o fôlego. No trajeto, aprendemos a cair — e, principalmente, a levantar. A vida sobre rodas é feita de arranhões, consertos, mapas improvisados. A poesia, por sua vez, é o que costura os pedaços, dá sentido às pausas e transforma cada buraco em metáfora.

Há dias em que a estrada é flor. Noutros, é pedra. Mas há beleza nos dois. O prazer de pilotar é também um exercício de escuta: o ronco do motor tem ritmo, tem cadência, quase sempre canta o que a alma quer dizer. É nesse som, meio bruto, meio místico, que mora a voz do coração inquieto. É nesse silêncio que mora a palavra que ainda não nasceu. Gostar de motos é, de certa forma, gostar da vida em sua versão mais crua e ao mesmo tempo mais intensa. Gostar de poesia é não se conformar com a realidade, mas moldá-la com beleza e crítica.

A vida em prosa é muito reta; por isso prefiro vivê-la em curvas. No tanque da moto levo água, mas no peito carrego sonhos. Na mochila vão cadernos, rabiscos, letras e paisagens. Em cada parada, um poema. Em cada farol, um instante de contemplação. É nos detalhes do caminho — no cachorro que cruza a rua, no pôr do sol refletido no espelho, na árvore que insiste em crescer ao lado do ferro velho — que a poesia acontece. Não precisa de palco. Basta um banco duro, um motor aquecido e olhos abertos.

A moto ensina sobre impermanência. A poesia, sobre eternidade. E a vida? A vida é a estrada que une as duas: rápida demais para ser ignorada, intensa demais para ser vivida com pressa. Entre o ronco da alma e o verso do asfalto, há um poeta de jaqueta, um viajante de olhos acesos, um ser que não teme as tempestades — porque aprendeu que até a chuva, às vezes, rima com liberdade.



Entre o ronco da alma e a Poesia do asfalto






Gostar de motos é mais do que pilotar. É sentir o corpo fundido à máquina, o vento fatiando a pele, o tempo escorrendo pelas mãos. O asfalto não é apenas estrada: é livro aberto, onde cada quilômetro escrito com pneus e poeira guarda uma metáfora. A moto, esse bicho de metal e liberdade, não é veículo — é rito, é confissão, é oração em alta rotação. Quem vive sobre duas rodas compreende o silêncio das madrugadas, a eloquência do vento, a sabedoria de se perder para encontrar-se.

E se a moto é corpo em movimento, a poesia é alma em combustão. Quando os versos se fazem estrada, cada palavra é uma curva, cada estrofe é um horizonte. É possível ser centauro urbano, cruzando cidades e ideias com o coração ligado na ignição e a mente rascunhando metáforas na paisagem. O capacete protege o crânio, mas não barra os sonhos: por dentro dele, borbulham lembranças, rimas, promessas que nunca couberam no papel. A poesia acompanha o motociclista como sombra, como ponte, como companheira invisível de todas as rotas.

Viver, nesse contexto, é uma arte em três atos: moto, poesia e liberdade. A vida se revela não em destinos, mas em percursos. Há quem conte os dias; nós contamos os quilômetros e os versos. Quando falta combustível, sobra inspiração. Quando o mundo pesa, a aceleração devolve o fôlego. No trajeto, aprendemos a cair — e, principalmente, a levantar. A vida sobre rodas é feita de arranhões, consertos, mapas improvisados. A poesia, por sua vez, é o que costura os pedaços, dá sentido às pausas e transforma cada buraco em metáfora.

Há dias em que a estrada é flor. Noutros, é pedra. Mas há beleza nos dois. O prazer de pilotar é também um exercício de escuta: o ronco do motor tem ritmo, tem cadência, quase sempre canta o que a alma quer dizer. É nesse som, meio bruto, meio místico, que mora a voz do coração inquieto. É nesse silêncio que mora a palavra que ainda não nasceu. Gostar de motos é, de certa forma, gostar da vida em sua versão mais crua e ao mesmo tempo mais intensa. Gostar de poesia é não se conformar com a realidade, mas moldá-la com beleza e crítica.

A vida em prosa é muito reta; por isso prefiro vivê-la em curvas. No tanque da moto levo água, mas no peito carrego sonhos. Na mochila vão cadernos, rabiscos, letras e paisagens. Em cada parada, um poema. Em cada farol, um instante de contemplação. É nos detalhes do caminho — no cachorro que cruza a rua, no pôr do sol refletido no espelho, na árvore que insiste em crescer ao lado do ferro velho — que a poesia acontece. Não precisa de palco. Basta um banco duro, um motor aquecido e olhos abertos.

A moto ensina sobre impermanência. A poesia, sobre eternidade. E a vida? A vida é a estrada que une as duas: rápida demais para ser ignorada, intensa demais para ser vivida com pressa. Entre o ronco da alma e o verso do asfalto, há um poeta de jaqueta, um viajante de olhos acesos, um ser que não teme as tempestades — porque aprendeu que até a chuva, às vezes, rima com liberdade.


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  1. Avatar de Aluísio Azevedo Júnior
    Aluísio Azevedo Júnior

    Poeta passante, centauro urbano, cruzando cidades e ideias com o coração ligado na ignição e a mente rascunhando suas metáforas sobre rodas. Valeu pela poesia, Cláudio!

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