A obra de engorda da praia de Ponta Negra tem gerado debates e, para muitos, é uma medida necessária para conter a erosão que afeta a região. No entanto, por trás do processo da obra, existem diversos desafios técnicos que comprometem sua eficiência.
Para entender melhor as questões envolvidas, O Potengi conversou com o especialista Venerando Eustáquio, professor do Departamento de Geografia da UFRN e integrante do ClimaPólis.
De acordo com Eustáquio, a engorda, quando bem executada, é uma solução importante para a recuperação de praias em processo de erosão. “A engorda de praia é uma ferramenta essencial em locais como Ponta Negra, que há décadas sofre com a redução do volume de sedimentos. A obra tem a função de devolver a faixa de areia, permitindo o uso recreativo da população e funcionando como uma proteção para a infraestrutura da orla, como calçadões, hoteis e restaurantes”, explica o especialista.
Engorda em Ponta Negra
Apesar de reconhecer a relevância da obra, Eustáquio alerta para falhas na execução do projeto. “Para realizar uma engorda com sucesso, é fundamental ter um conhecimento detalhado das variáveis envolvidas, como a granulometria da areia, o comportamento do mar, as correntes e as marés. Em Ponta Negra, houve um estudo inicial que foi superficial, deixando de lado detalhes importantes que são vitais para a durabilidade do aterro”, afirma.
O estudo de impacto ambiental (RIMA), realizado em 2016, ofereceu uma indicação superficial de jazida, durante a realização do aterro, descobriram que a mesma não poderia ser usada. Na busca por uma nova jazida, não houve estudos detalhados, mas, segundo o especialista, era necessário um cuidado maior. “Quando se deu conta de que a primeira jazida não funcionou, a necessidade de encontrar uma nova jazida também deveria levar em consideração estudos de impacto ambiental dessa jazida, e isso aparentemente não foi realizado”, afirma Eustáquio.
A falta de estudos detalhados sobre a jazida resultou em uma areia mais carbonática, com bio-clásticos e rodolitos, materiais que podem afetar o equilíbrio ambiental da região. “Quando se muda o tipo de sedimento, é preciso ajustar as características do aterro, mas não há informações claras sobre se isso foi feito”, alerta.
Outro problema identificado pelo especialista é a ausência de um planejamento adequado para o sistema de drenagem da praia. A falta de controle sobre o escoamento das águas da chuva e o risco de contaminação da areia são preocupantes. “Os sistemas de drenagem superficial não deveriam estar despejando tanta água na praia, pois acabamos de realizar um aterro de alto custo. Esses pontos de escoamento são vulneráveis e podem fragilizar o aterro”, destaca Eustáquio.
O especialista enfatiza a importância de corrigir esses problemas antes que o período de chuvas intensas comece, para evitar a perda significativa de areia. “Esse tipo de obra deveria ter sido executado antes do aterro, com testes e avaliações prévios, para evitar fragilização em caso de chuvas mais intensas”, sugere.
Além disso, Eustáquio critica o sistema de saneamento da região, apontando que o esgoto acaba sendo despejado na praia e misturado com as águas pluviais. “Isso contribui para a contaminação e erosão da praia”, conclui o especialista.
Pedindo abertura de Comissão Especial de Inquérito
Devido às questões envolvendo a obra de engorda da praia de Ponta Negra, o vereador Daniel Valença afirmou que pretende apresentar um requerimento na Câmara de Vereadores, solicitando a abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar o caso. A matéria completa sobre as justificativas usadas por Daniel para solicitar abertura do CEI pode ser lida,clicando aqui.