Do papo de terraço ao projeto de lei

Muitas coisas importantes nascem nos bate-papos nos terraços das casas de praia nos veraneios. Lembro-me de uma tarde linda, na casa de praia dos pais do, na época vereador e presidente da Câmara Municipal de Natal, Paulinho Freire, Seu Zilson e Dona Evane. Na ocasião também estavam presentes seus filhos Zilvane, Duda, Serginho e Paulinho,…


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Muitas coisas importantes nascem nos bate-papos nos terraços das casas de praia nos veraneios. Lembro-me de uma tarde linda, na casa de praia dos pais do, na época vereador e presidente da Câmara Municipal de Natal, Paulinho Freire, Seu Zilson e Dona Evane. Na ocasião também estavam presentes seus filhos Zilvane, Duda, Serginho e Paulinho, em uma mesa grande, rodeada de amigos diversos. Gostaria aqui de fazer uma citação especial ao saudoso Antônio Wagner, o querido tio Toinho, irmão de Dona Evane e à excepcional bibliotecária cearamirinense, Maria Lêda da Câmara.

Neste dia tive a oportunidade de conversar muito com dona Lêda sobre a história da Terra dos Verdes Canaviais, a nossa Ceará-Mirim. Ela me falou sobre vários filhos ilustres da cidade, em especial, o dr. José Pacheco Dantas. Ele foi o primeiro de uma família de 14 filhos e passou sua infância entre a cidade e o Engenho União, propriedade de seu pai que fabricava simplesmente o melhor açúcar mascavo de Ceará-Mirim.

Segundo Maria Lêda, em 1897, Pacheco Dantas, já no Rio de Janeiro, trabalhou em vários jornais, chegando a fundar o Gazeta do Norte, só para difundir as belezas do Nordeste.  Com muito esforço e dedicação ele se forma em medicina em 1905, tendo se graduado também em odontologia e farmácia. Ele foi um grande lutador e defensor das estradas de ferro e, por sua intercessão e influência, o Loyd Brasileiro fez entrar seu primeiro navio no porto de Natal, em 1902, o Planeta.

Percebendo meu grande interesse por este rico pedaço da história, dona Lêda prometeu me passar mais informações e tempos depois, fui agraciado com um material muito interessante. 

O projeto de lei

Certo dia, ao chegar no restaurante Buongustaio, fui chamado por alguns amigos que estavam numa mesa, entre eles, Alexandre Mulatinho, Arturo Arruda e o, na época deputado federal, Felipe Maia. Este, me indagou sobre a história do Rio Grande do Norte e, imediatamente, aproveitei para lhe contar da pesquisa que havia realizado, através do IAPHACC, para denominar o trecho ferroviário de Natal para Ceará-Mirim, com o nome do dr. José Pacheco Dantas.  O deputado achou muito interessante e se prontificou para apresentar o projeto.

Para minha imensa satisfação e para o bem da história do Rio Grande do Norte, em cinco de novembro de 2013, o projeto foi apresentado e depois, se transformou na Lei Ordinária nº 13624/2018. Em janeiro de 2018, o trecho ferroviário da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), entre as cidades de Natal e Ceará-Mirim,  foi denominado Ferrovia Doutor José Pacheco Dantas.

Quem foi José Pacheco?

José Pacheco Dantas nasceu em 1878, no vale de Ceará-Mirim e, em 1900, foi para o Rio de Janeiro, onde cursou três graduações, até chegar ao jornalismo. Seu maior desejo era expressar o que de melhor havia no ainda pouco conhecido nordeste brasileiro. 

Na então capital federal, doutor Pacheco Dantas colaborou em vários jornais, nos quais escrevia artigos cobrando as atenções da União para o RN e para a sua cidade natal. Essa era a maneira que ele havia encontrado de não perder os vínculos com nossa terra e  de divulgar as belezas do Nordeste.

Doutor José Pacheco Dantas faleceu no dia 29 de julho de 1961, e hoje é nome da biblioteca municipal e de uma rua na cidade de Ceará-Mirim. Sua história sempre será ligada ao desenvolvimento ferroviário do Estado do Rio Grande do Norte. 

Acredito que é muito importante lembrar que tudo isso só foi possível graças às informações de Maria Lêda da Câmara.

A ferrovia

Na época, o trecho ferroviário entre Natal e Ceará-Mirim ainda estava em projeto pelo Ministério de Viação e Obras Públicas e pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. As forças políticas ligadas à cultura algodoeira queriam alterar o trajeto inicial, fazendo com que a ferrovia mudasse de Natal para a cidade de Macaíba. Graças aos fortes argumentos de José Pacheco, juntamente com prestigiosos parlamentares da época, sobre a necessidade de exportar os produtos do vale açucareiro, conseguiu-se que o percurso não fosse modificado, mantendo o projeto original. 

Em 13 de junho de 1906, o presidente Afonso Penna deu início à operação do trecho. 

Cartas para Maria Lêda

Como declarou o saudoso Ruy Pereira Júnior, ex-prefeito de Ceará-Mirim, Maria Lêda construiu uma história brilhante durante o período que esteve à frente da biblioteca Municipal José Pacheco Dantas. 

Em uma das cartas, escritas pelo jornalista e historiador Nilo Pereira, ele assim declara:

“É curioso: no mesmo momento em que recebo sua carta, que é um poema, Veríssimo de Melo me telefona para avisar que no dia 08 de agosto [1985], deverei me pronunciar em Natal em uma conferência na ADESG. Isso significa que no dia seguinte aí estarei para matar saudades, assinar o ponto no livro da biblioteca, e para rever minha boa amiga Maria Lêda da Câmara, que é uma flor de gentileza e de refinada educação, e uma servidora incansável da cultura e do saber. Muito obrigado por sua carta. Posso dizer, agora, que valeu a pena demorar a minha visita para receber palavras tão belas e generosas, estão guardadas não apenas entre os meus documentos, mas, principalmente, no meu coração. Abraço de amizade sincera. Nilo Pereira.”

Após o desligamento de Maria Lêda da biblioteca, sua amiga e ex-funcionária Anete Varela, assim declarou em uma carta, em 02 de abril de 1989:

“Prezada Lêda,

A sua saída do cargo que ocupava na biblioteca Dr. José Pacheco Dantas, abalou o coração dos seus amigos e admiradores, pelo menos eu acho que a revolta foi geral! Você, Lêda, amava, tinha zelo e ciúme por tudo que se dizia biblioteca. Em cada canto do prédio, você deixou uma parcela do seu coração bondoso, porque você, Lêda, amava a biblioteca como se ela fosse carne de sua carne e sangue do seu sangue. Agora, em cada flor que desabrochar no jardim que você fez e tanto admirava, vai exalar o perfume indelével da sua saudade! Você, Lêda é mesmo insubstituível como eu disse nos versos que estavam no mural. Nunca falei tanta verdade! Mas um dia, quem lhe fez tanta ingratidão, venha a pagar e Deus que tudo vê e sente, traga para você a paz e felicidade tão desejada. Um grande abraço da sua amiga grata que lhe preza e admira. Anete Varela.”

Minha amiga, Maria Lêda da Câmara, escrevo este texto para lhe agradecer pelas informações em em conversas e documentos, que culminaram na aprovação da lei.

Quanto à biblioteca, foi um absurdo o seu desligamento, mas isso é fruto de gestores descompromissados com o serviço público. Ainda hoje, isso está acontecendo em todo país, é uma pena. O que importa é que seu legado ficou guardado com as pessoas que lhe conhecem e frequentavam a biblioteca na sua gestão.  Sendo solidário e grato, deixo um abraço para você, pelos relevantes serviços prestados ao nosso estado. 

E para os que não a conhecem, ela é tia do atual prefeito de Ceará-Mirim, o advogado Júlio César Soares Câmara, e de Antônio Henrique, pré-candidato a prefeito da cidade.

E para concluir do papo no terraço só falta a confecção das três placas que devem ser instaladas nas estações de Natal, Extremoz e Ceará-Mirim. Acredito que além de citar o deputado e o projeto de lei, deveria certamente ter uma referência à Maria Lêda da Câmara que, como disse o jornalista e escritor Nilo Pereira, foi uma funcionária pública incansável.





O Potengi

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Do papo de terraço ao projeto de lei

Muitas coisas importantes nascem nos bate-papos nos terraços das casas de praia nos veraneios. Lembro-me de uma tarde linda, na casa de praia dos pais do, na época vereador e presidente da Câmara Municipal de Natal, Paulinho Freire, Seu Zilson e Dona Evane. Na ocasião também estavam presentes seus filhos Zilvane, Duda, Serginho e Paulinho, em uma mesa grande, rodeada de amigos diversos. Gostaria aqui de fazer uma citação especial ao saudoso Antônio Wagner, o querido tio Toinho, irmão de Dona Evane e à excepcional bibliotecária cearamirinense, Maria Lêda da Câmara.

Neste dia tive a oportunidade de conversar muito com dona Lêda sobre a história da Terra dos Verdes Canaviais, a nossa Ceará-Mirim. Ela me falou sobre vários filhos ilustres da cidade, em especial, o dr. José Pacheco Dantas. Ele foi o primeiro de uma família de 14 filhos e passou sua infância entre a cidade e o Engenho União, propriedade de seu pai que fabricava simplesmente o melhor açúcar mascavo de Ceará-Mirim.

Segundo Maria Lêda, em 1897, Pacheco Dantas, já no Rio de Janeiro, trabalhou em vários jornais, chegando a fundar o Gazeta do Norte, só para difundir as belezas do Nordeste.  Com muito esforço e dedicação ele se forma em medicina em 1905, tendo se graduado também em odontologia e farmácia. Ele foi um grande lutador e defensor das estradas de ferro e, por sua intercessão e influência, o Loyd Brasileiro fez entrar seu primeiro navio no porto de Natal, em 1902, o Planeta.

Percebendo meu grande interesse por este rico pedaço da história, dona Lêda prometeu me passar mais informações e tempos depois, fui agraciado com um material muito interessante. 

O projeto de lei

Certo dia, ao chegar no restaurante Buongustaio, fui chamado por alguns amigos que estavam numa mesa, entre eles, Alexandre Mulatinho, Arturo Arruda e o, na época deputado federal, Felipe Maia. Este, me indagou sobre a história do Rio Grande do Norte e, imediatamente, aproveitei para lhe contar da pesquisa que havia realizado, através do IAPHACC, para denominar o trecho ferroviário de Natal para Ceará-Mirim, com o nome do dr. José Pacheco Dantas.  O deputado achou muito interessante e se prontificou para apresentar o projeto.

Para minha imensa satisfação e para o bem da história do Rio Grande do Norte, em cinco de novembro de 2013, o projeto foi apresentado e depois, se transformou na Lei Ordinária nº 13624/2018. Em janeiro de 2018, o trecho ferroviário da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), entre as cidades de Natal e Ceará-Mirim,  foi denominado Ferrovia Doutor José Pacheco Dantas.

Quem foi José Pacheco?

José Pacheco Dantas nasceu em 1878, no vale de Ceará-Mirim e, em 1900, foi para o Rio de Janeiro, onde cursou três graduações, até chegar ao jornalismo. Seu maior desejo era expressar o que de melhor havia no ainda pouco conhecido nordeste brasileiro. 

Na então capital federal, doutor Pacheco Dantas colaborou em vários jornais, nos quais escrevia artigos cobrando as atenções da União para o RN e para a sua cidade natal. Essa era a maneira que ele havia encontrado de não perder os vínculos com nossa terra e  de divulgar as belezas do Nordeste.

Doutor José Pacheco Dantas faleceu no dia 29 de julho de 1961, e hoje é nome da biblioteca municipal e de uma rua na cidade de Ceará-Mirim. Sua história sempre será ligada ao desenvolvimento ferroviário do Estado do Rio Grande do Norte. 

Acredito que é muito importante lembrar que tudo isso só foi possível graças às informações de Maria Lêda da Câmara.

A ferrovia

Na época, o trecho ferroviário entre Natal e Ceará-Mirim ainda estava em projeto pelo Ministério de Viação e Obras Públicas e pela Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte. As forças políticas ligadas à cultura algodoeira queriam alterar o trajeto inicial, fazendo com que a ferrovia mudasse de Natal para a cidade de Macaíba. Graças aos fortes argumentos de José Pacheco, juntamente com prestigiosos parlamentares da época, sobre a necessidade de exportar os produtos do vale açucareiro, conseguiu-se que o percurso não fosse modificado, mantendo o projeto original. 

Em 13 de junho de 1906, o presidente Afonso Penna deu início à operação do trecho. 

Cartas para Maria Lêda

Como declarou o saudoso Ruy Pereira Júnior, ex-prefeito de Ceará-Mirim, Maria Lêda construiu uma história brilhante durante o período que esteve à frente da biblioteca Municipal José Pacheco Dantas. 

Em uma das cartas, escritas pelo jornalista e historiador Nilo Pereira, ele assim declara:

“É curioso: no mesmo momento em que recebo sua carta, que é um poema, Veríssimo de Melo me telefona para avisar que no dia 08 de agosto [1985], deverei me pronunciar em Natal em uma conferência na ADESG. Isso significa que no dia seguinte aí estarei para matar saudades, assinar o ponto no livro da biblioteca, e para rever minha boa amiga Maria Lêda da Câmara, que é uma flor de gentileza e de refinada educação, e uma servidora incansável da cultura e do saber. Muito obrigado por sua carta. Posso dizer, agora, que valeu a pena demorar a minha visita para receber palavras tão belas e generosas, estão guardadas não apenas entre os meus documentos, mas, principalmente, no meu coração. Abraço de amizade sincera. Nilo Pereira.”

Após o desligamento de Maria Lêda da biblioteca, sua amiga e ex-funcionária Anete Varela, assim declarou em uma carta, em 02 de abril de 1989:

“Prezada Lêda,

A sua saída do cargo que ocupava na biblioteca Dr. José Pacheco Dantas, abalou o coração dos seus amigos e admiradores, pelo menos eu acho que a revolta foi geral! Você, Lêda, amava, tinha zelo e ciúme por tudo que se dizia biblioteca. Em cada canto do prédio, você deixou uma parcela do seu coração bondoso, porque você, Lêda, amava a biblioteca como se ela fosse carne de sua carne e sangue do seu sangue. Agora, em cada flor que desabrochar no jardim que você fez e tanto admirava, vai exalar o perfume indelével da sua saudade! Você, Lêda é mesmo insubstituível como eu disse nos versos que estavam no mural. Nunca falei tanta verdade! Mas um dia, quem lhe fez tanta ingratidão, venha a pagar e Deus que tudo vê e sente, traga para você a paz e felicidade tão desejada. Um grande abraço da sua amiga grata que lhe preza e admira. Anete Varela.”

Minha amiga, Maria Lêda da Câmara, escrevo este texto para lhe agradecer pelas informações em em conversas e documentos, que culminaram na aprovação da lei.

Quanto à biblioteca, foi um absurdo o seu desligamento, mas isso é fruto de gestores descompromissados com o serviço público. Ainda hoje, isso está acontecendo em todo país, é uma pena. O que importa é que seu legado ficou guardado com as pessoas que lhe conhecem e frequentavam a biblioteca na sua gestão.  Sendo solidário e grato, deixo um abraço para você, pelos relevantes serviços prestados ao nosso estado. 

E para os que não a conhecem, ela é tia do atual prefeito de Ceará-Mirim, o advogado Júlio César Soares Câmara, e de Antônio Henrique, pré-candidato a prefeito da cidade.

E para concluir do papo no terraço só falta a confecção das três placas que devem ser instaladas nas estações de Natal, Extremoz e Ceará-Mirim. Acredito que além de citar o deputado e o projeto de lei, deveria certamente ter uma referência à Maria Lêda da Câmara que, como disse o jornalista e escritor Nilo Pereira, foi uma funcionária pública incansável.



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