Ex-presidente da Petrobras e especialista em energia, Jean Paul Prates aponta mudança de paradigma nos conflitos do Oriente Médio; crise atual é impulsionada por fatores políticos internos
Enquanto os preços do petróleo sofrem volatilidade diante dos recentes ataques entre Israel e Irã, analistas apontam uma mudança fundamental na geopolítica energética: pela primeira vez em décadas, o petróleo aparece como vítima colateral – e não como causa principal – de um conflito no Oriente Médio.
Em texto analítico, Jean Paul Prates, ex-presidente da Petrobras e atual presidente do Conselho do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE), analisa essa mudança de paradigma. “O que estamos presenciando é uma reconfiguração estratégica sem precedentes. Enquanto nas guerras do Golfo o petróleo era o prêmio a ser conquistado, hoje ele se tornou moeda de troca em um jogo muito mais complexo”, explica Prates.
A dinâmica do conflito atual, segundo o ex-presidente da Petrobras, está sendo ditada por cálculos políticos internos em ambos os países. Em Israel, um governo em crise de legitimidade encontra no confronto com Teerã uma oportunidade para reunir a população em torno de uma ameaça externa. Do outro lado, o regime iraniano, pressionado por sanções econômicas e protestos domésticos, utiliza a tensão regional como válvula de escape para suas contradições internas.
O também ex-senador da república destaca que essa nova configuração se deve em grande parte à revolução energética norte-americana. “Os Estados Unidos, hoje autossuficientes em petróleo graças ao shale gas, perderam o apetite por aventuras militares na região. Se antes Washington justificava intervenções como necessárias para garantir o fluxo energético, hoje seu cálculo estratégico é outro”, analisa Prates.
Apesar de secundário nas motivações do conflito, o petróleo continua sofrendo seus impactos. A simples ameaça de fechamento do Estreito de Ormuz – por onde passa um terço do petróleo transportado por mar – já foi suficiente para causar turbulências nos mercados globais. Nos últimos dois meses, desde o início da escalada de tensões, os preços do barril registraram altas superiores a 15%, pressionando economias dependentes de importações.
Para Prates, esse cenário reforça a urgência de uma transição energética estratégica. “A lição que fica é clara: num mundo cada vez mais instável, a segurança energética deixou de ser questão meramente econômica para se tornar elemento central da soberania nacional”, afirma. O Brasil, com sua matriz energética diversificada e potencial em renováveis, poderia assumir papel de liderança nesse novo cenário global.
A crise atual, portanto, sinaliza o surgimento de uma nova ordem energética mundial, onde o petróleo, embora ainda crucial, já não dita sozinho os rumos da geopolítica. Como conclui Prates: “Estamos testemunhando o crepúsculo de uma era em que as reservas de petróleo definiam o poder global. O futuro pertencerá aos países que souberem antecipar essa transição”.
Deixe um comentário