As previsões otimistas feitas no início de 2025 para o regime de chuvas no Rio Grande do Norte não se confirmaram. Dados recentes divulgados pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn) mostram que o volume de precipitações entre março e maio ficou bem abaixo do esperado. A estimativa era de 382 milímetros acumulados no período, mas o que se registrou foram apenas 252 mm, uma redução de 42% em relação ao mesmo período do ano passado, quando choveu 440 mm.
O impacto da escassez já é visível no sistema hídrico potiguar. Segundo levantamento do Instituto de Gestão das Águas do RN (Igarn), os 70 reservatórios monitorados encerraram o mês de maio com 50,23% da capacidade total. Em janeiro, o índice era de 61,34%. Em termos absolutos, os mananciais acumulam atualmente 2,65 bilhões de metros cúbicos de água, de um total possível de 5,29 bilhões.
“Os dados mostram que houve baixa recarga dos reservatórios do Rio Grande do Norte. Quando você tem menos água, precisa fazer uma gestão prioritária para alguns usos”, alerta Procópio Lucena, diretor-presidente do Igarn. A principal preocupação agora é garantir que o volume disponível consiga sustentar o abastecimento até a próxima quadra chuvosa, em 2026.
A barragem Armando Ribeiro Gonçalves, a maior do estado, está com 60,23% da capacidade. Já a Oiticica, em Jucurutu, registra alarmantes 14,46%. Outros importantes reservatórios, como Santa Cruz do Apodi (66,80%), Umari (70,94%), Gargalheiras (65,82%) e Dourado (34,68%), também apresentam níveis abaixo do ideal para garantir segurança hídrica no médio prazo.
Lucena destaca que a gestão hídrica será intensificada. “Agora é fazer o monitoramento e o planejamento do uso daquilo que nós temos. Precisamos esticar essa água ao máximo que puder para garantir as necessidades humanas e produtivas que temos no nosso estado”, afirma. Ele também defende a mobilização de toda a sociedade para o uso consciente da água. “Vamos envolver municípios, movimentos sociais, governo do estado, igrejas, federações de agricultores e trabalhadores, para que todos entendam a necessidade de usar essa água com parcimônia, sem exageros.”
Instabilidade climática e mudanças nos oceanos
A frustração das previsões feitas em fevereiro, que indicavam chuvas dentro da normalidade e sem influência direta dos fenômenos El Niño e La Niña, surpreendeu os especialistas. O meteorologista Gilmar Bristot, da Emparn, explica que março até começou promissor, mas logo deu sinais de enfraquecimento. “Se não chover bem em março e abril, não tem recarga nos mananciais. E abril foi ainda pior”, disse.
Segundo Bristot, a instabilidade do comportamento dos oceanos tem tornado as projeções mais difíceis e o clima mais imprevisível. “Nos últimos anos, o Pacífico perdeu um pouco o padrão e isso prejudicou o abastecimento, a recarga hídrica e a agricultura”, avalia.
Com o encerramento da quadra chuvosa, o cenário já está dado. “No início de junho tivemos algumas chuvas na região Oeste, mas agora é tarde, agora não vai mudar o cenário. O Estado tem que trabalhar com a quantidade de água que tem. Vivemos em um clima semiárido, e qualquer alteração nos oceanos pode trazer dificuldade na formação de chuvas. Isso aconteceu este ano, quando não tínhamos características de ano seco”, conclui.
Diante da nova realidade climática, o Igarn reforça a necessidade de vigilância permanente e planejamento de longo prazo. A prioridade imediata é o abastecimento humano e a dessedentação animal. Mas as atenções já se voltam para 2026, com a possibilidade de um novo ciclo de escassez.
*Com informações da Tribuna do Norte
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