Um grupo de três cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveu um filtro sustentável e biodegradável para máscaras descartáveis, utilizando fibras naturais de Kapok e PVAc, um polímero atóxico e biodegradável. Esse novo filtro oferece um processamento simples e de baixo custo, com protótipos já produzidos.
Salete Martins Alves, orientadora da dissertação que resultou na nova tecnologia, explica que os filtros de máscaras cirúrgicas tradicionais são feitos para evitar a inalação de substâncias tóxicas e proteger contra vírus, bactérias e fungos. No entanto, esses filtros são compostos de microfibras sintéticas que duram muito tempo na natureza. Em contraste, a fibra de Kapok utilizada na invenção pode ser cultivada em terras não adequadas para fins agrícolas, sem intervenção humana ou uso de substâncias nocivas, utilizando matrizes biodegradáveis e solúveis em água, alcançando a mesma eficiência dos produtos tradicionais.
Kapok é uma fibra celulósica natural extraída do fruto da sumaúma, uma árvore comum em regiões tropicais. Com características antimicrobianas, hidrofóbicas, hipoalergênicas e atóxicas, a fibra de Kapok tem potencial para várias aplicações, incluindo isolamento térmico, barreiras contra óleo e aerossóis, e enchimento para estofados e travesseiros. Isabela Silva Sampaio, co-autora da descoberta, ressalta que a fibra Kapok e suas possíveis modificações ainda são novidades no mercado.
Além de Salete e Isabela, Íris Oliveira da Silva, professora do Departamento de Engenharia Têxtil e co-orientadora do estudo, também é autora da descoberta científica. O trio destaca que o filtro apresenta eficiência de filtragem bacteriológica acima de 95% e eficiência de filtragem de partículas acima de 98%. O filtro é projetado para reduzir o uso de compostos químicos, mantendo a qualidade do produto e minimizando os resíduos da indústria têxtil, representando uma oportunidade de estudo para um material sustentável no mercado têxtil.
Atualmente, os materiais usados em filtros de máscaras são polímeros termoplásticos sintéticos como polipropileno (PP), polietileno (PE) e polietileno tereftalato (PET), que têm baixa biodegradabilidade e causam danos ambientais. Salete Alves comenta que conseguiram mostrar a viabilidade de produzir um não-tecido à base de fibras naturais com propriedades adequadas para uso como elemento filtrante. Além disso, o material apresentou boa maleabilidade e ação antibacteriana, o que abre possibilidades para seu uso como curativo com aplicação controlada de fármacos.
A nova tecnologia foi protegida em abril com um pedido de patente feito pela UFRN junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), denominado “Filtro para máscara cirúrgica de fibra Kapok e PVAc”. A Agência de Inovação da Reitoria (Agir) da UFRN deu suporte aos inventores durante o pedido de patenteamento. Jefferson Ferreira de Oliveira, diretor da Agir, explica que a agência orienta sobre o que pode ser patenteado e apoia a transferência da tecnologia desenvolvida para empresas interessadas na comercialização. Mesmo tecnologias que não podem ser patenteadas podem ser transferidas por meio do licenciamento de know-how.
A UFRN mantém uma vitrine tecnológica com todos os pedidos de patentes e concessões realizadas, disponível para consulta no site da Agência de Inovação (Agir). O site também oferece informações sobre o processo de licenciamento para os interessados.